Covid-19. Senadores republicanos venderam ações antes de perturbações nos mercados

por RTP
Lucas Jackson - Reuters

Dois senadores republicanos estão a ser pressionados a demitir-se por terem vendido milhões de dólares em ações pouco tempo antes das quedas recentes registadas no mercado devido à pandemia do novo coronavírus.

Os dois senadores em causa são Richard Burr, presidente do comité de Inteligência do Senado, e Kelly Loeffler, senadora pela Geórgia, cujo marido é presidente da Bolsa de Valores de Nova Iorque.

Ambos negam as acusações de que mentiram aos norte-americanos sobre os possíveis impactos desta pandemia nos mercados.

De acordo com o The Guardian, que cita os dados da ProPublica e Center for Responsive Politics, Richard Burr e a mulher venderam entre 628 mil e 1,7 milhões de dólares em mais de 30 transações separadas entre o final de janeiro e fevereiro.

No final de fevereiro, Richard Burr fez um discurso num evento, em Washington, em que previa várias consequências drásticas devido ao novo coronavírus, considerando que a infeção seria de fácil transmissão e “provavelmente semelhante à pandemia de 1918”.

No Twitter, Richard Burr argumenta agora que apenas partilhou com o público uma informação que já estava a ser veiculada pelos responsáveis de saúde, apelando aos norte-americanos para que se preparassem.


De acordo com a imprensa norte-americana, também Kelly Loeffler, senadora pela Geórgia e mulher de Jeffrey Sprecher – presidente da Bolsa de Nova Iorque –, terá começado a vender ações no mesmo dia em que recebeu, a par de outros senadores, um briefing sobre o novo coronavírus por parte de Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, entre outros responsáveis.

De acordo com o site Daily Beast, uma das transações efetuadas foi a movimentação de milhares de dólares na plataforma Citrix, uma empresa tecnológica que aposta no software de teletrabalho.

Também no Twitter, a senadora defendeu-se das acusações: “Este é um ataque ridículo e sem fundamento. Não sou eu que tomo decisões de investimento. As decisões são tomadas por vários consultores terceiros, sem conhecimento ou envolvimento, meu ou do meu marido”.


Na sequência da revelação na imprensa destes dois casos, foram vários os apelos para que os dois senadores pedissem demissão. Uma das primeiras vozes críticas a ouvir-se foi a de Alexandria Ocasio-Cortez, congressista pelo Partido Democrático:

“É revoltante que os primeiros pensamentos destes senadores após briefings terríveis e secretos sobre a #Covid tenham sido sobre como lucrar com esta crise. Não se mobilizaram para ajudar as famílias ou preparar uma resposta ao problema. Eles livraram-se de ações”, escreveu a congressista.



Também o antigo chefe da agência para a ética do Governo (Office of Government Ethics), Walter Shaub, considerou que “é necessário fazer uma investigação para perceber se houve violação da lei com esta venda de ações”.

“Sendo ilegal ou não sendo ilegal, temos aqui um caso em que dois políticos, no círculo interno do Governo, protegeram os seus interesses à medida que uma tempestade se aproximava dos americanos comuns, que vão sofrer e morrer”, acrescentou.
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