Covid-19. Uso de hidroxicloroquina no início da pandemia pode ter levado a quase 17 mil mortes

O uso de hidroxicloroquina durante a primeira onda de Covid-19 causou pelo menos 17 mil mortes, revela um estudo de investigadores franceses e canadianos cujo objetivo foi estimar o número de mortes relacionadas com este tratamento em todo o mundo. O estudo fala num aumento de 11 por cento na taxa de mortalidade.

Paulo Alexandre Amaral - RTP /
Flavio Lo Scalzo - Reuters

O medicamento anti-malária foi prescrito a pacientes hospitalizados com Covid-19 durante a primeira onda da pandemia, "apesar da ausência de provas documentando seus benefícios clínicos", revelam os investigadores no artigo publicado na edição de fevereiro da Biomedicine & Pharmacotherapy.

Os investigadores das universidades de Lyon, França, e Quebec, no Canadá, estimam que cerca de 16.990 pessoas em França, Bélgica, Itália, Espanha, Turquia e Estados Unidos poderão ter morrido em resultado do uso da hidroxicloroquina. 
Sem provas documentadas dos seus benefícios clínicos, o fármaco foi defendido pelos presidentes brasileiro, Jair Bolsonaro, e norte-americano, Donald Trump, como benéfico para enfrentar a pandemia.
As equipas de investigaçãos analisaram dados de hospitalização por Covid em cada um dos seis países, exposição à hidroxicloroquina e aumento do risco relativo de morte ligado ao medicamento. O número estimado de mortes nos países europeus foi de cerca de 240 na Bélgica, 199 na França, 1.822 na Itália e 1.895 na Espanha.

"O que devemos ter em mente é que esta é uma estimativa aproximada, no sentido de que diz respeito apenas a alguns países em um curto período, e que o número total de mortes é provavelmente muito maior", declarou à emissora francesa France 3 Jean-Christophe Lega, professor de terapêutica no sistema hospitalar de Lyon.

Os 11 por cento de aumento da mortalidade foram assinalados na revista Nature em 2021, que associou esse aumento à prescrição da hidroxicloroquina contra a Covid-19. Em causa estão potenciais efeitos adversos como distúrbios do ritmo cardíaco e mesmo o próprio uso deste fármaco que levou assim a descartar outros tratamentos eficazes.

A Food and Drug Administration, autoridade para o medicamento nos Estados Unidos, emitiu em março de 2020 uma autorização para o uso daquela molécula na luta contra a Covid mas revogaria essa autorização apenas três meses depois, em junho.

As equipas estimam que o número de mortes possa ser muito superior, já que o estudo apenas abordou a realidade de seis países, e de março a julho de 2020, quando a hidroxicloroquina foi prescrita de forma muito mais abrangente.


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