Covid-19. Vacina da Moderna mostra resultados promissores em idosos

por Cristina Sambado - RTP
Brian Snyder - Reuters

O médico israelita Tal Zaks, diretor cientifica da empresa farmacêutica Moderna, revelou, em entrevista ao jornal espanhol El País, que a vacina experimental contra a Covid-19, que está a ser testada num ensaio internacional em 30 mil pessoas, está a mostrar resultado promissores nos idosos.

Os primeiros casos de uma estranha pneumonia foram conhecidos na China no final de dezembro. A 11 de janeiro, cientistas chineses publicaram o genoma do SARS-Cov-2, um novo coronavírus, dois dias depois, a 13 de janeiro, a farmacêutica Moderna e institutos de saúde norte-americanos concluíram o projeto de uma vacina experimental e começaram a realizar os testes.

A 16 de março, em tempo recorde de 63 dias, o primeiro voluntário recebeu a primeira vacina.

Estou muito feliz com os resultados que temos obtido em idosos”, afirmou o diretor científico da Moderna, numa entrevista por videoconferência com o El País.

Os primeiros dados em adultos com mais de 55 anos e mesmo em septuagenários têm apresentado bons resultados.

A vacina da Moderna requer duas doses?


Sim, acreditamos que uma segunda dose estimula claramente a resposta imunológica.

Decidimos tentar duas doses porque, dada a gravidade desta pandemia, não queremos correr riscos. Queremos oferecer a maior proteção possível. E isso é conseguido com uma segunda dose.

Quais as implicações de serem necessárias duas doses? Se com uma dose já é um grande desafio vacinar toda a população mundial, duas doses são inéditas?

É verdade que, do ponto de vista operacional, é mais complicado. É verdade que vai exigir mais recursos.

Mas queremos uma vacina que seja muito eficaz ou uma vacina que seja eficaz. Queremos oferecer a melhor vacina possível. E acho que a situação justifica o desafio logístico de dar duas doses às pessoas.

Se as duas injeções forem necessárias para nos livrarmos desta pandemia, encontramos maneira de dar duas doses.

O que pode dar errado durante a fase 3 dos testes (o teste final é com 30 mil pessoas)?


O que mais me preocupa é que não há um número suficiente de pessoas com a doença durante o ensaio.

É ótimo para a sociedade que a situação epidemiológica esteja sobre controlo e o vírus desapareça, mas a capacidade da fase 3 de demonstrar que a vacina depende de haver mais casos nos grupos de controlo, cujos membros recebem um placebo, do que no grupo de pessoas vacinadas.

Se não existirem casos, não saberemos se a medida é eficaz.

Quais são os riscos de começar a vacinar as pessoas muito cedo? Parece que Donald Trump gostava de começar a vacinar a população antes das eleições presidenciais marcadas para 3 de novembro.

Não vou falar de política. Acredito que é importante para a sociedade entender que o perfil de segurança e os eventos adversos antes de começar a vacinar.

Estamos a fazer um grande ensaio clínico, com um grupo de controlo a receber um placebo.
Se observarmos eventos relacionados à segurança, sabemos que eles ocorrem com a mesma frequência no grupo placebo e no grupo vacinado.

Se começarmos a dar a vacina às pessoas, devemos saber que nenhuma vacina é 100 por cento eficaz. Algumas pessoas ficarão doentes apesar da vacinação. Como podemos saber se essas pessoas não pioram com a nossa vacina?

As pessoas podem começar a dizer: “Meu Deus, deram-me uma vacina e estou doente”. Isso não é científico, mas necessitamos de dados para poder explicá-lo.

Como promotores do ensaio, queremos garantir que temos dados da eficácia e segurança desta vacina antes de iniciarmos a campanha de vacinação.

Há uma hipótese lógica para a administração das vacinas?

Acho que há um debate público legítimo sobre quando se tem informações suficientes para justificar o risco. Mesmo que esperemos até ao final do ano ou até ao início de 2021 para temos mais informações sobre os ensaios, ainda teremos dados limitados e ainda não saberemos o que não sabemos.

Pode haver efeitos adversos a longo prazo? De que forma se justifica o risco de as pessoas continuarem a morrer apesar de serem vacinadas?

É um debate muito difícil entre riscos e benefícios, quanto mais dados tivermos, melhor: no nível do Governo, porque no final cada país terá de decidir se compensa o risco/benefício, mas não só a nível governamental. É também uma escolha individual.

Acho que nenhum país vai impor vacinas obrigatórias. Cada pessoa, que queira ser vacinada, deve ter a certeza que a vacina é suficientemente segura e provavelmente eficaz.

É importante ter esses dados, para que as pessoas possam tomar uma decisão informada por si mesmas. E para que os governos possam tomar decisões informadas para os seus cidadãos.

A farmacêutica britânica AsatraZeneca garantiu que produzirá a vacina da Universidade de Oxford a preço de custo, Porque é que a vacina da Moderna vai ser mais cara que as outras?

Acho que, para ser justo, o preço deve refletir o valor da vacina até certo ponto. Acho que o preço que pedimos, com o valor que tem, é mais razoável em relação ao investimento que fizemos. O preço é inferior a um teste de diagnóstico.

E, sempre que uma pessoa está doente, necessita de fazer um teste de diagnóstico.

Com uma vacina, as pessoas devem estar protegidas por mais tempo.

Portanto, se pensarmos no valor para a sociedade… talvez as outras empresas possam oferecer as vacinas gratuitamente. A escolha é delas. Mas não acho que se deva fazer isso. E, honestamente, não acho justo, dado o investimento a que a vacina obrigou.

Quanto tempo vai durar a imunidade?

Não sei, mas obviamente que quanto maior for o número de anticorpos gerados pela vacina, mais provável que dure mais.

Devemos pelo menos atingir níveis semelhantes às pessoas que recuperaram da doença, mas se conseguirmos números mais elevados, esperamos que seja melhor.

Escolhemos doses altas de vacina porque acreditamos que a nossa plataforma nos permite fazer isso de forma mais segura e tolerável.
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