CPLP suspende Guiné-Bissau e elege Timor-Leste para presidência temporária
A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) elegeu esta terça-feira Timor-Leste para assumir, temporariamente, a presidência da organização e suspendeu a Guiné-Bissau das suas atividades, anunciou o ministro dos Negócios Estrangeiros de Cabo Verde.
"Em termos de decisões concretas, a cimeira decidiu, em primeiro lugar, suspender a participação da República da Guiné-Bissau em todas as atividades da CPLP até à retoma da ordem constitucional", declarou José Luís Livramento, após a cimeira extraordinária de chefes de Estado e de Governo da CPLP, em que Cabo Verde foi representado pelo Presidente da República, José Maria Neves.
Na reunião, convocada para analisar a situação na Guiné-Bissau e realizada em formato virtual, os chefes de Estado e de Governo da CPLP elegeram ainda a República Democrática de Timor-Leste para exercer a presidência da CPLP "pro tempore".
José Luís Livramento explicou que a escolha foi consensual e unânime, uma vez que o Brasil e a Guiné Equatorial, que disputam a presidência seguinte, não podiam assumir interinamente o cargo, enquanto Angola e Cabo Verde também não estavam disponíveis para o período transitório.
"Estavam em disputa dois países para assumir a presidência, Brasil e Guiné Equatorial, que, portanto, não poderiam ser indicados como presidentes interinos. Timor-Leste já tinha presidido à organização, Angola tem o secretário-executivo e Cabo Verde, pelas ligações históricas e sensibilidade do tema, também não poderia", explicou.
O governante adiantou ainda que a declaração final da cimeira "condena veementemente a interrupção do processo eleitoral" na sequência do golpe de Estado de 26 de novembro.
Foi ainda pedida a retoma urgente da ordem constitucional e exigida a libertação imediata e incondicional de todos os detidos, bem como uma prova de vida sobre estas pessoas.
Foi também decidido enviar uma missão de alto nível à Guiné-Bissau, liderada pelo Presidente de Timor-Leste, para avaliar as condições futuras do país.
Na cimeira manifestou-se solidariedade com o povo guineense e a disponibilidade da CPLP para envidar todos os esforços que promovam o restabelecimento da normalidade institucional.
Um autodenominado "alto comando militar" tomou o poder a 26 de novembro, três dias depois das eleições gerais (presidenciais e legislativas) e um dia antes da data anunciada para a divulgação dos resultados na Guiné-Bissau.
A oposição e figuras internacionais têm afirmado que o golpe de Estado foi uma encenação orquestrada pelo então Presidente, Umaro Sissoco Embaló, por alegadamente ter sido derrotado nas urnas, impedindo assim a divulgação de resultados e mandando deter de forma arbitrária diversas figuras que apoiavam o candidato que reclama vitória, Fernando Dias.
Entre os detidos está Domingos Simões Pereira, presidente do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), enquanto Fernando Dias está refugiado na embaixada da Nigéria, em Bissau.