Crime e discriminação no emprego provocam êxodo da população branca da África do Sul

A população branca da África do Sul diminuiu 17,3 por cento entre 1995 e 2005, devido ao êxodo provocado pelo crime e pela política governamental do emprego, que privilegia a maioria negra, indica um estudo divulgado domingo.

Agência LUSA /

De acordo com o Instituto Sul-Africano de Relações Raciais (SAIRR, sigla em inglês), a população branca passou de 5,2 milhões de indivíduos em 1995, para 4,3 milhões em 2005 (menos 900 mil pessoas).

A população da África do Sul ronda as 46,9 milhões de pessoas, segundo estimativas governamentais de meados de 2005, pelo que os brancos constituem agora cerca de 9,1 por cento do total.

O estudo do SAIRR aponta como razões para o êxodo da população branca nos últimos dez anos o aumento significativo do crime e a política governamental de acção afirmativa, com base em legislação destinada a rectificar injustiças do passado, nomeadamente as provocadas pelo regime do "apartheid", instituído em 1948 e que esteve em vigor até 1994.

Concluindo que a população branca envelheceu no decurso da última década e que a maioria dos que viraram as costas ao país tinha entre 20 e 40 anos de idade, o estudo do SAIRR salienta que a tendência do período em causa sugere que nos próximos anos o número de brancos no país continuará a decair.

A fuga de brancos do país tem tido um carácter mais ou menos definitivo e muitos pais mandam os filhos para o estrangeiro por entenderem não existir futuro para eles num mercado de trabalho onde os empregos melhores são reservados para os não-brancos, refere o SAIRR no documento hoje divulgado.

Os autores do estudo afirmam igualmente que embora as análises possam sugerir que os emigrantes que partiram, e que eram membros produtivos da sociedade, venham a ser substituídos por outra vaga de quadros técnicos brancos, esse não é o cenário sul-africano.

"Na última década, a população activa negra cresceu 81 por cento e muitos deles ocuparam os lugares deixados vagos pelos brancos nos grupos com rendimentos mais elevados, onde os negros constituem hoje um terço dos mais bem pagos na economia", salienta Marco MacFarlane, um dos autores do estudo.

McFarlane refere também que no sector mais bem remunerado da economia apenas 7 por cento dos beneficiários são indianos e 6 por cento mestiços.

"Muitos jovens brancos que têm abandonado o país sentem-se furiosos com a situação porque sentem que estão a ser punidos pelo que aconteceu no passado sem que tenham tido qualquer tipo de responsabilidade nele", disse o pesquisador.

Por outro lado, salienta o estudo, a entrada da população negra na economia, apesar de ser, em números, elevadíssima e acelerada, não significa que compense a saída dos quadros técnicos verificada na última década.

É sintomático o facto de apenas três mil alunos negros terem concluído o 12º ano em 2005 com notas elevadas em Matemática e na sua maioria escolherem cursos não técnicos, o que não contribui de forma positiva para a economia e para a produtividade, refere o estudo.


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