Crime organizado no Sudeste Asiático escraviza milhares para burlas, mas nem mortes são investigadas

Duas organizações não-governamentais denunciaram à Lusa que centros de burlas informáticas no Sudeste Asiático estão envolvidos no rapto de milhares de jovens, que escravizam, e as muitas mortes relacionadas com este crime em expansão contam com a conivência das autoridades.

Lusa /

A Organização Não-Governamental (ONG) Global Anti-Scams Organization (GASO), sediada em Phnom Penh, já ajudou mais de 3.000 pessoas a escapar de centros de trabalho forçado, geridos por redes criminosas do Sudeste Asiático.

Atualmente, disse à Lusa a sua fundadora, Serene Li, a GASO tem "mais de uma centena de pedidos ainda à espera de resgate".

Mas há um lado ainda mais escuro, que é o de jovens mortos, que toda a gente parece ignorar. "Há muitos corpos que ninguém reclama", embora não existam dados oficiais sobre mortes relacionadas com os centros, disse a ativista.

Por mais que as ONG internacionais queiram ajudar, este trabalho está a ser limitado pelo volume de dinheiro que estes negócios de burla geram, pois conseguem subornar funcionários governamentais e manter estas operações em funcionamento sem quaisquer perturbações, acusa a GASO.

"Há mortes relacionadas com os centros a cada uma ou duas semanas. O Governo do Camboja diz que são acidentes," disse à Lusa outra ONG, a EOS Collective, uma organização sem fins lucrativos fundada em 2024 para investigar a dinâmica da indústria de fraudes `online` e as redes criminosas por detrás desta indústria, para além de apoiar sobreviventes da criminalidade forçada nessas operações.

A escala da escravatura humana associada aos crimes de burlas informáticas tem motivado a ação internacional, com Washington e Londres a anunciarem recentemente sanções contra uma rede criminosa multinacional de "centros de burlas", sediada no Camboja.

Os Estados Unidos descreveram esta ação como a maior de sempre no Sudeste Asiático, que envolveu sanções contra 146 pessoas da rede Prince Group, com base no Camboja, que Washington designou como uma organização criminosa transnacional.

O Prince Group classificou as acusações como infundadas.

Apesar da ação protagonizada por Washington e Londres em outubro, no entanto, esta indústria do crime baseada no tráfico de seres humanos continua a expandir-se.

A Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) confirma no seu portal da Internet que vítimas de 66 países foram traficadas para estes centros de burlas `online`, sendo que aproximadamente 74% foram levadas para centros no Sudeste Asiático.

Novos polos surgem agora ena África Ocidental, Médio Oriente e América Central.

Esta indústria criminosa está em plena expansão, sobretudo no Sudeste Asiático, onde milhares se vão juntando a outros milhares, muitas vezes presos no seu interior há anos, num pesadelo permanente, a realidade crua da escravatura na era digital, escondida à vista de todos.

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