Mundo
Guerra na Ucrânia
Crise de refugiados da Ucrânia pode potenciar "onda de tráfico e exploração"
A Cruz Vermelha alerta para a falta de verificação de voluntários que transportam refugiados da invasão russa da Ucrânia para outros países. As organizações locais de defesa dos Direitos Humanos têm notícia de pessoas que procuram atrair mulheres para carros particulares, a pretexto da oferta de trabalho e casa. Teme-se que a crise humanitária em curso desencadeie "uma onda de tráfico e exploração".
A crise humanitária suscita cada vez mais preocupações. A maior parte dos que fogem à guerra em território ucraniano são mulheres e crianças. Exaustos, estes refugiados podem ser conduzidos para armadilhas de particulares que chegam em carros a oferecer ajuda.São já mais de 3,5 milhões os deslocados da guerra na Ucrânia.
Karolina Wierzbińska, coordenadora da Homo Faber, uma organização de Direitos Humanos com sede na cidade polaca de Lublin, confirma a existência de equipas a trabalhar para tentar atrair mulheres a carros não identificados.
Karolina Wierzbińska, coordenadora da Homo Faber, uma organização de Direitos Humanos com sede na cidade polaca de Lublin, confirma a existência de equipas a trabalhar para tentar atrair mulheres a carros não identificados.
"Registámos os primeiros casos suspeitros de proxenetas a atacar mulheres ucranianas perto de abrigos para refugiados em Lublin; estavam a abordá-las, às vezes de forma agressiva, sob o pretexto de oferecer transporte, trabalho ou acomodação".
"Estas pessoas não são apenas homens", sublinhou. "Há também mulheres a tentar captar refugiadas nas estações de autocarros".
"Também vimos vários casais, geralmente um homem e uma mulher, que viajaram para a fronteira de carro e estavam a tentar atrair mulheres usando táticas semelhantes. Interviemos nesses casos, abordando a pessoa que age de forma suspeita, e solicitámos que se registassem na nossa listagem de voluntários. Em resposta, geralmente fogem", rematou Wierzbińska .
Quem é quem
Junto às fronteiras polacas com maior movimento de refugiados têm chegado grupos de homens com fardas militares, apresentando-se como vigilantes para proteger mulheres e crianças.
Junto às fronteiras polacas com maior movimento de refugiados têm chegado grupos de homens com fardas militares, apresentando-se como vigilantes para proteger mulheres e crianças.
No estacionamento de Medyka, alguns desses homens identificam-se como veteranos da Legião Estrangeira Francesa. Afirmam estar no encalço de possíveis intermediários que procurem atrair mulheres para redes de prostituição.
"Acho que nada está a ser controlado", denunciou, para acrescentar: "Já vi mulheres assustadas, crianças a aparecerem na fronteira e ninguém sabe onde estão os pais. São um alvo muito fácil".
A segurança em Medyka ainda é precária e a polícia
aumentou a presença nos últimos dias, para verificar a identidade de
voluntários e motoristas que oferecem boleia aos refugiados.
Um voluntário da Cruz Vermelha polaca, que pediu para não ser identificado, avisa que um grande número de carros particulares passa sem ser parado: "O problema do tráfico de pessoas é que a maioria dos transportes que aparecem não são organizados. São voluntários que chegam de todos os lugares em carros particulares, em todos os pontos de receção, e há diferentes organizações a tentar estabelecer um sistema de rastreio".
Um porta-voz da polícia local declarou não ter informações sobre quaisquer grupos de vigilantes, desconhecendo as intenções. E negou que haja soldados estrangeiros na fronteira.
A Unicef, também a operar na Polónia, afirma que indivíduos não controlados, agindo isoladamente das autoridades polacas, são uma preocupação.
"Não posso falar pelas autoridades na Polónia [mas] a segurança é efetivamente o domínio deles", disse Joe English, porta-voz da agência das Nações Unidas. "Acho que qualquer tipo de grupos de vigilantes é uma ocorrência enervante".
Esta mistura caótica de grupos humanitários e a coincidência do aparecimento de suspeitos de traficantes e predadores sexuais aumenta a preocupação da União Europeia. Perante relatos de grupos de voluntariado que desconhecem o paradeiro de mulheres, Ylva Johansson, comissária da UE para assuntos internos, anunciou que Bruxelas lançou uma rede de coordenadores anti-tráfico.
"Não devemos esperar até que tenhamos provas de muito tráfico, porque então pode ser tarde demais", afirmou Johansson.
Segundo a Missing Children Europe, grupo que reúne 24 organizações de proteção infantil em toda a Europa, "menores desacompanhados continuam a desaparecer nas fronteiras".
"Há tantas crianças […] que perdemos de vista”, disse Aagje Ieven, secretário-geral da Missing Children Europe. "Este é um grande problema, não apenas porque significa que eles desaparecem facilmente e são difíceis de encontrar, mas também porque facilita o tráfico".