Críticas à nomeação de Gerhard Schroeder para administrador da Gasprom

Vários políticos alemães acusaram o ex-chanceler Gerhard Schroeder de usar o seu anterior cargo político em favor de interesses económicos particulares, por ter sido recentemente nomeado administrador do consórcio russo Gasprom.

Agência LUSA /

A Gasprom é accionista maioritário na sociedade com os alemães da E.ON e da BASF que irá construir o gasoduto do Mar Báltico, entre a Rússia e a Alemanha.

O contrato para a importante obra foi assinado pelo próprio Schroeder e pelo Presidente russo Vladimir Putin, 10 dias antes das legislativas alemãs de 18 de Setembro deste ano.

O presidente do Bundestag (Parlamento Federal), Norbert Lammert, acusou hoje Schroeder de "insensibilidade", por ter aceite a nomeação para administrador da Gasprom, três semanas depois de abandonar a chefia do executivo.

"Não imaginava que um chefe do Governo alemão fosse tão insensível a um assunto em que pode haver uma ligação entre a sua anterior actividade política e alguns interesses económicos", disse Lammert hoje à emissora de rádio berlinense rbb.

O ministro-presidente da Baixa-Saxónia, Christian Wulff, também criticou Schroeder, exortando o ex-chanceler a declinar o convite de trabalhar para a Gasprom, "para não dar a impressão de que foi uma recompensa pelo seu empenho na construção do gasoduto".

O Governo alemão comentou o caso de forma mais cuidadosa. O porta-voz do executivo, Thomas Steg, disse hoje, em Berlim, que a chanceler Angela Merkel "manifestou compreensão" para as dúvidas em torno da decisão do seu antecessor.

"A chanceler está a acompanhar o debate público sobre esse assunto, o que, no entanto, não significa qualquer desaprovação", esclareceu Steg.

Entretanto, a ministra da justiça, Brigitte Zypries, que também fez parte do anterior Governo SPD/Verdes de Gerhard Schroeder, advogou a criação de um código deontológico para os políticos, recusando, no entanto, que o referido código tenha força de lei.

O ministro da Economia, Michael Glos, já manifestou a sua "estranheza" quanto ao comportamento de Schroeder.

Glos revelou ainda que a parte russa apresentou os seus planos de incluir Schroeder na administração da Gasprom "de forma surpreendente", antes do lançamento da primeira pedra do projecto do gasoduto do Mar Báltico.

"A parte russa perguntou-me, na minha qualidade de ministro da Economia, se tínhamos alguma coisa contra a participação do anterior chanceler no projecto, e eu disse que não tínhamos objecções", acrescentou o político democrata-cristão.

Glos recusou-se, porém, a comentar as consequências da decisão para a imagem de Schroeder, que na última campanha eleitoral para as legislativas, que perdeu para os democratas-cristãos, saiu de novo em defesa da solidariedade social.

Já o porta-voz dos democratas-cristãos da Baviera (CSU) no Parlamento Europeu, Bernd Posselt, afirmou hoje, em Munique, que a atribuição de um lugar a Schroeder no conselho de administração do Gasprom "foi a paga do silêncio para o genocídio na Tchetchénia e para o estrangulamento gradual das liberdades democráticas na Rússia".

No SPD, o partido de Schroeder, também houve reacções de desagrado, embora mais contidas.

O social-democrata Wolfgang Thierse, vice-presidente do Bundestag, considerou "hipócritas" as acusações ao ex-chanceler, mas defendeu que haja um intervalo "de dois a três anos" entre a saída de políticos de funções e a aceitação de cargos em empresas cujos interesses económicos tenham estado na respectiva esfera de acção.

Tal como já tinha feito anteriormente Peter Struck, líder parlamentar do SPD, Thierse afirmou que, se estivesse no lugar de Schroeder, "não teria feito um negócio assim".

Também Christoph Matschie, da direcção nacional do SPD, criticou o seu camarada de partido e ex-chanceler, afirmando que Schroeder "está a desbaratar todo o prestígio que acumulou".

Gerhard Schroeder recusou-se, até agora, a responder às críticas de que tem sido alvo, e a esclarecer a sua nomeação para administrador da Gasprom.

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