Cruz Vermelha Portuguesa enviou para a Beira 35 toneladas de ajuda humanitária

por RTP
Siphiwe Sibeko - Reuters

Um Boeing 767 fretado pela Cruz Vermelha Portuguesa (CVP) partiu do aeroporto de Figo Maduro, em Lisboa, para a cidade moçambicana da Beira com 35 toneladas de ajuda humanitária.

A bordo do avião segue um hospital de campanha com sete módulos e geradores, num total de cinco toneladas, mais 15 toneladas de medicamentos, "e também, a pedido do senhor embaixador, 500 quilogramas de fibra ótica para comunicações", disse o presidente da CVP, Francisco George.

A partida da delegação portuguesa foi acompanhada pela ministra da Saúde, Marta Temido, a quem o presidente da organização humanitária agradeceu o empenho do Governo português, ao ter facilitado a ida de pessoal médico para Moçambique.
Este é o terceiro avião de ajuda humanitária que partiu para Moçambique.

"Temos de agradecer à senhora ministra a celeridade dos vistos e as autorizações que concedeu à equipa médica da Cruz Vermelha e dos Médicos do Mundo, com autorizações pagas pelo Ministério da Saúde", disse Francisco George.

O presidente da CVP, Francisco George destacou que o avião parte para a Beira graças à ajuda dos portugueses.

O avião tem um custo de cerca de 200 mil euros e foi totalmente financiado pela CVP, a partir dos donativos já recebidos.

Francisco George esclareceu que o avião foi fretado porque não existem voos regulares entre Lisboa e a cidade da Beira, no centro de Moçambique.

“Foi preciso fretar um avião que faça a ligação direta entre Lisboa e a Beira sem passar por Maputo. Porque o aeroporto de Maputo está sob pressão e não há tempo a perder”, frisou o presidente da Cruz Vermelha Portuguesa.

O responsável da Cruz Vermelha disse também que todos os donativos serão alvo de uma auditoria independente.

Pela primeira vez, uma operação deste tipo irá ter um auditor externo, que tomou posse há dois dias.

Trata-se de José Maria Azevedo Rodrigues, antigo bastonário da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas.
Equipa da AMI a caminho de Maputo

Também este domingo partiu do aeroporto de Lisboa para Maputo uma segunda equipa da AMI. Cinco elementos da ONG juntam-se aos sete que já estão na cidade da Beira, desde a semana passada.

A AMI garante que a logística da organização já está assegurada na Beira e já foram identificadas as principais necessidades.

Os bens essenciais para ajuda das vítimas estão a ser adquiridos em Moçambique, para apoiar o comércio local.

Escala das necessidades "vai ser ainda maior"
A escala das necessidades resultantes dos danos provocados pelo ciclone Idai em Moçambique "vai ser ainda maior", antecipa Mónica Ferro, diretora da Representação Regional em Genebra do Fundo das Nações Unidas de Apoio à População (FNUAP).

"A escala das necessidades é muito grande e vai ser ainda maior, à medida que se for percebendo as pessoas que estão afetadas por este (...) desastre", disse à Lusa Mónica Ferro, à margem do WinterCEmp, promovido pela representação da Comissão Europeia, no qual foi oradora, e que hoje terminou em Ílhavo, distrito de Aveiro.

"Estamos preocupados com o que está a acontecer, pela escala do desastre", admitiu.

Mónica Ferro adiantou que o FNUAP tem um escritório em Moçambique, país onde já estão também, desde sábado, dois coordenadores da agência - um para as operações humanitárias e outro para a resposta em matéria de saúde sexual e reprodutiva.

"Nestes contextos, há mulheres que estão grávidas, há mulheres que acabaram de dar à luz, é preciso continuar a assegurar os serviços nestas matérias", explicou.

"Não havia maneira de se estar preparado para uma coisa com esta dimensão", frisou, referindo que existe um "apelo internacional" para identificar especialistas que sejam falantes de português e possam ir para o terreno.

Há dois anos como diretora da Representação Regional em Genebra do FNUAP, Mónica Ferro elege as catástrofes naturais como a sua maior preocupação.

"No meio de (...) um desastre natural (...), os serviços colapsam e as respostas são ainda mais difíceis", destaca.

"Preocupam-me especialmente porque são zonas onde muitas vezes ganhos de anos de trabalho constante são destruídos num curto espaço de tempo por fenómenos que nós conseguimos antecipar muitas vezes apenas teoricamente, mas não em concreto", ressalva.

"O grau de preparação e de adaptação de uma sociedade para poder lidar com estes eventos climáticos extremos é muito reduzido", concretiza.
761 mortos 
A passagem do ciclone Idai em Moçambique, no Zimbabué e no Maláui fez pelo menos 761 mortos, segundo os balanços oficiais mais recentes.

Em Moçambique, o número de mortos confirmados subiu hoje para 446, no Zimbabué foram contabilizadas 259 vítimas mortais e no Maláui as autoridades registaram 56 mortos.

O ministro da Terra e do Ambiente moçambicano, Celso Correia, sublinhou hoje que estes números ainda são provisórios, já que à medida que o nível da água vai descendo vão aparecendo mais corpos.

O número de pessoas afetadas em Moçambique subiu para 531.000 e há 109.000 entradas em centros de acolhimento, das quais 6.500 dizem respeito a pessoas vulneráveis - por exemplo, idosos e grávidas que recebem assistência particular.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou que está a preparar-se para enfrentar prováveis surtos de cólera e outras doenças infecciosas, bem como de sarampo, em extensas zonas do sudeste de África afetadas pelo ciclone Idai, em particular em Moçambique.

O ciclone afetou pelo menos 2,8 milhões de pessoas nos três países africanos e a área submersa em Moçambique é de cerca de 1.300 quilómetros quadrados, segundo estimativas de organizações internacionais.

A cidade da Beira, no centro litoral de Moçambique, foi uma das mais afetadas pelo ciclone, na noite de 14 de março.

C/Lusa



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