"Muito pouco, muito tarde". Investigação conclui que 23 mil mortes por Covid-19 podiam ter sido evitadas

O antigo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, liderou uma resposta "tóxica, caótica e indecisa" à pandemia da Covid-19. Uma antecipação do confinamento poderia ter salvo 23 mil vidas no Reino Unido. A conclusão é de uma investigação pública divulgada esta quinta-feira.

Rachel Mestre Mesquita - RTP /
O antigo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, dirigiu-se ao país numa conferência de imprensa virtual Reuters

O Reino Unido registou mais de 230 mil mortes por Covid-19, uma taxa de mortalidade superior à registada nos outros países da Europa Ocidental.  

Um inquérito, encomendado por Boris Johnson em maio de 2021, expôs as fragilidades da resposta do seu governo à Covid-19, com criticas à sua liderança indecisa, ao seu gabinete de Downing Street por ter violado as suas próprias regras e ao seu principal conselheiro, Dominic Cummings. "Havia uma cultura tóxica e caótica no centro do Governo do Reino Unido durante a pandemia", afirmou a presidente da investigação, Heather Hallett, no relatório.


Heather Hallett afirmou no relatório que Boris Johnson não avaliou a gravidade do vírus após a sua aparição no início de 2020, não dando a devida importância ao assunto e distraindo-se com outros assuntos governamentais.

"O Sr. Johnson deveria ter percebido mais cedo que se tratava de uma emergência que exigia a liderança do primeiro-ministro para dar urgência à resposta", criticou no relatório. 

Perante uma Comissão de Inquérito em 2023, Boris Johnson reconheceu que o seu governo tinha sido demasiado complacente e tinha "subestimado enormemente" os riscos.
Anúncio do confinamento aconteceu demasiado tarde 

Segundo Heather Hallett, quando Boris Johnson anunciou o confinamento a 23 de março, já era muito pouco e muito tarde. O relatório conclui que se a Grã-Bretanha tivesse antecipado o confinamento apenas uma semana, a 16 de março, o número de mortes na primeira vaga até julho teria sido reduzido de 23 mil (48%).  

"A incapacidade de avaliar a dimensão da ameaça, ou a urgência da resposta que exigia, significou que, quando a possibilidade de um confinamento obrigatório foi considerada pela primeira vez, já era tarde demais e o confinamento tinha-se tornado inevitável", pode ler-se no relatório, citado pelo Guardian.

A investigação reconheceu que o antigo governante teve de lutar com decisões difíceis, embora tenha mudado repetidamente de opinião e não tenha tomado decisões oportunas. 

c/agências
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