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Dados "assustadores". Perda florestal atingiu níveis sem precedentes em 2024

por Joana Raposo Santos - RTP
O Brasil foi responsável por 42 por cento de toda a perda de floresta nos trópicos. Foto: Bruno Kelly - Reuters

A destruição das maiores florestas do mundo alcançou em 2024 o nível mais elevado alguma vez registado, com valores que os especialistas descrevem como "assustadores". A principal razão foi o aumento dos fogos provocados pelo aquecimento global, de acordo com uma análise da Universidade de Maryland.

As florestas por todo o mundo diminuíram a um nível sem precedentes no ano passado, perdendo uma área equivalente ao tamanho da Itália. Essa redução deveu-se não só a incêndios, como a agricultura ou exploração florestal e mineira.

Nas regiões tropicais, como a Amazónia, os incêndios tornaram-se a principal causa de perda de área florestal pela primeira vez desde que se iniciaram os registos globais.

Para os investigadores que lideraram este estudo, os números agora revelados são “assustadores”. A codiretora da plataforma Global Forest Watch, que publicou o relatório, disse ao Guardian que os dados são “diferentes de tudo o que vimos em mais de 20 anos”.

Em 2024, a perda florestal no Brasil alcançou taxas muito superiores àquelas registadas durante o mandato do presidente Jair Bolsonaro, essencialmente devido a incêndios e à pior seca de que há registo na Amazónia.

O país foi responsável por 42 por cento de toda a perda de floresta nos trópicos, vendo desaparecer mais de 25.000 quilómetros quadrados. Estes dados diferem, porém, das estatísticas oficiais do Brasil, que utilizam uma definição diferente de desflorestação que não inclui o fogo.
Dinâmica "generalizada, destrutiva e crescente"

Na Bolívia, a perda florestal ocupou pela primeira vez o segundo lugar, ficando apenas atrás do Brasil em termos de perda global. Também aqui a redução foi impulsionada por secas, incêndios e políticas governamentais que promovem a expansão agrícola para a soja, o gado e a cana-de-açúcar. A perda de floresta primária na Bolívia aumentou quase cinco vezes desde 2020, atingindo mais de 14.000 quilómetros quadrados.

Também na República Democrática do Congo e no Congo-Brazzaville a perda de florestas tropicais virgens atingiu os níveis mais elevados de que há registo. Estes países albergam a floresta tropical da bacia do Congo, a segunda maior do mundo a seguir à Amazónia.

“O que estes dados revelam é particularmente assustador”, alertou Matt Hansen, líder do estudo.

“O aumento das temperaturas globais está a tornar as florestas mais quentes e secas e, consequentemente, mais suscetíveis de arder. Com a ignição humana, mesmo as florestas tropicais remotas podem arder sem controlo”.

O especialista vincou ainda que “temos muito trabalho a fazer para enfrentar uma dinâmica de incêndios tão generalizada, destrutiva e crescente”.

Houve, no entanto, alguns sinais de esperança neste estudo: a perda de floresta na Indonésia e na Malásia permaneceu relativamente baixa e, neste último caso, saiu pela primeira vez do “top 10” da lista de maiores reduções florestais.

Na cimeira do clima COP26, em 2021, mais de 140 líderes mundiais comprometeram-se a travar a desflorestação até ao final da década. Quase quatro anos depois, porém, continuam longe de atingir a meta. A perda de floresta teria de diminuir 20 por cento anualmente em relação aos níveis de 2024 para cumprir o objetivo até 2030.

c/ agências
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