Danos ambientais duradouros, e para além das fronteiras húngaras

A União Europeia receia que os danos ambientais causados pelo acidente numa fábrica de alumínio afectem de forma duradoura, não só uma extensa região em torno da capital húngara, mas também diversos países vizinhos. Ofereceu por isso a sua ajuda à campanha em curso de limpeza da região. Mas não se prevê que essa campanha seja suficiente ou que possa concluir-se em breve.

RTP /
Uma extensa região em torno de Budapeste ficou coberta por uma lama vermelha altamente tóxica Sandor H. Szabo, Epa

A ruptura de um tanque de contenção de óxido de alumínio causou a perda de um milhão de metros cúbicos dessa substância, que se espalharam por uma superfície de 40 quilómetros quadrados. Em consequência morreram pelo menos quatro pessoas, seis foram dadas como desaparecidas e 120 ficaram feridas, especialmente com lesões dos olhos, pele e pulmões. Mas, para além da imediata contabilidade de perdas humanas e materiais, há a contaminação a longo prazo de águas e solos.

Ninguém quer voltar
Cerca de 90% da população local recusa-se, segundo o diário alemão Der Spiegel, a regressar a suas casas. Por um lado, voltando, pouco se pode ainda salvar. A soda cáustica que faz parte da lama vermelha originada pelo derrame é altamente corrosiva, destruiu casas, equipamentos e pomares, matou animais e entranhou-se no solo.

Por outro lado, vários agricultores locais expressaram o seu desalento e a convicção de que nada mais poderá plantar-se naquela região durante muitos anos. O envenenamento dos solos e das águas é, além disso, facilitado pela densa rede de rios e canais da região: mesmo a sua artéria principal, o Danúbio, poderia ser atingida. Enfim, são bem conhecidos os efeitos cancerígenos atribuídos à mistura que agora se encontra presente naquela vasta região sob a forma de lama vermelha.

Joe Hennon, um porta-voz da União Europeia também citado por aquele diário, calculou em dezenas de milhões de euros o custo das operações de limpeza que agora devem ser feitas e propôs ao Governo húngaro uma ajuda da UE nesse capítulo. Para a UE, afirmou, não é apenas preocupante o futuro das regiões afectadas da Hungria, mas também de outros países comunitários.

Ninguém assume as culpas
A outra questão que agora se discute é a da origem do acidente. Para a população atingida, a fragilidade do dispositivo de contenção do óxido de alumínio parece ter sido um segredo de Polichinelo. O mesmo afirmam os investigadores da Grrenpeace que agora concentram a sua atenção na Hungria.

Mas os responsáveis, ao nível da empresa MAL Zrt. e da política, não se dão por achados. O administrador Zoltán Bakonyi afirma que a empresa inspeccionava todos os dias o tanque e nada de anormal se detectara. E o primeiro-ministro Viktor Orbán não confirmou controlos diários, mas sim uma inspecção realizada há duas semanas.

Mas, para a imprensa húngara, há pesadas responsabilidades a atribuir. O diário de Budapeste Népszabadság afirma que "o sucedido é da responsabilidade - e naturlamente consequência da irresponsabilidade - da casta política durante anos". A empresa de produção de alumínio fôra privatizada nos anos 90, após a queda da ditadura estalino-kadarista, e passara para as mãos de alguns dos dignitários dessa mesma ditadura.

Uma das grandes vitórias dos funcionários estalinistas adquirentes da empresa foi a de serem isentados do pagamento de um pesado imposto pelo armazenamento do óxido de alumínio ao ar livre, num tanque com 300 por 450 metros. Aparentemente, conseguiram-no graças a uma teia de cumplicidades vindas do anterior regime.

Mas por esse armazenamento também a UE se vê agora responsabilizada. Segundo Martin Geiger, o director do departamento de água da organização ambientalista WWF, "os padrões de segurança da UE para a eliminação de lixos na indústria mineira são demasiado baixos". E lembrou que "em caso de muita chuva ou de inundações, é sempre grande o perigo de que [os diques feitos de terra] se rompam".
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