De delfim a renegado. O fim do irmão perseguido do líder da Coreia do Norte

por RTP
Lim Se-young - Reuters

Kim Jong-nam, o meio-irmão do líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, foi assassinado na passada segunda-feira no aeroporto de Kuala Lumpur. As suspeitas incidem sobre duas mulheres que estariam ao serviço do regime de Pyongyang. Uma delas foi já detida pelas autoridades da Malásia.

As autoridades malaias divulgaram imagens de uma câmara de videovigilância no terminal 2 do aeroporto, nas quais se destacam duas figuras femininas com traços asiáticos. A partir dos vídeos foi iniciada a operação de busca. "O nosso Governo tem a certeza de que o homem assassinado é Kim Jong-nam", afirmou Chung Joon-Hee, porta-voz do Ministério da Unificação de Seul.

Uma das suspeitas do assassinato a Kim Jong-nam foi entretanto detida para interrogatório.

Segundo a BBC, a mulher possuía um passaporte vietnamita e estava sozinha quando foi encontrada, nas imediações do aeroporto.

O corpo de Kim Jong-nam foi transferido para o Hospital Geral de Kuala Lumpur, onde será autopsiado. A vítima vivia em Pequim com a atual e a anterior mulheres e três filhos.
"Por favor, poupa-me"
Esta quarta-feira, em declarações à imprensa, o chefe do Serviço Nacional de Informações da Coreia do Sul, Lee Byung-Ho, adiantou que Kim Jong-nam fora já alvo, em 2012, de uma tentativa de homicídio por parte de agentes secretos da Coreia do Norte.

O incidente levaria o meio-irmão a implorar pela vida a Kim Jong-un.

"Por favor, poupa-me e à minha família", citou, por sua vez, Kim Byung-kee, membro da comissão parlamentar sul-coreana dos serviços secretos.
O irmão bastardo
Nascido e criado em Pyongyang, Kim Jong-nam foi o primeiro filho bastardo de Kim Jong-il, fruto de uma relação com a atriz Song Hye-rim.



Motivado pela vergonha, o ex-líder norte-coreano escondeu o primogénito dos olhares do público durante a sua infância. Kim il-sung, líder da Coreia do Norte durante a II Guerra Mundial, desaprovava o relacionamento do filho com a artista de cinema e só descobriu a existência do neto anos mais tarde.

Esta poderá ser uma das causas que levou Jong-nam a distanciar-se da matriz ideológica da família. Desde novo, preferia a cinematografia à política. Ainda assim, chegaria a ser apontado como o delfim do regime.

Apesar de se ter instruído na Suíça para suceder ao pai na liderança da Coreia do Norte, a vida governativa nunca lhe interessou.

Frequentou a Universidade Kim il-sung, serviu o Exército Popular da Coreia do Norte e chegou a ser nomeado, nos anos 90, ministro da Segurança Pública.
As viagens do urso gordo

Em tempos apontado como sucessor de Kim Jong-il, Kim Jong-nam foi definitivamente ostracizado depois de ter sido detido no aeroporto de Tóquio, em 2001. Segundo a imprensa local, o meio-irmão tentava viajar para o Japão sem autorização do Governo norte-coreano, com um passaporte falso e sob um pseudónimo chinês: Pang Xiong (urso gordo). "Depois de ter voltado da Suíça, distanciei-me do meu pai porque insisti na reforma e na abertura do mercado. Era visto como uma ameaça capitalista" referiu, Kim Jong-nam a um jornal japonês.

Durante o interrogatório, Kim Jong-nam referiu às autoridades que alegadamente iria visitar a Disneyland em Tóquio, juntamente com os seus filhos. Acabou por ser deportado para a República Popular da China.

Fontes sul-coreanas alegaram, ao longo dos anos, que esta não era a primeira viagem clandestina de Kim Jong-nam pela Ásia Oriental.

Kim Jong-nam aproveitou a expatriação para viajar por Hong Kong, Macau, Malásia e China.

Apesar da distância para com o regime, o meio-irmão de Kim Jong-un foi um crítico regular da política dinástica de Pyongyang e defensor da reforma económica.

"Pessoalmente sou contra uma sucessão de terceira geração. Espero que o meu irmão mais novo faça o melhor em nome das vidas prósperas dos norte-coreanos", sublinhou Jong-nam durante uma entrevista à televisão japonesa, em 2010. 
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