"Demissão" do gerúndio é recado contra burocracia no poder público brasileiro
A proibição do uso do gerúndio a nível do governo do Distrito Federal (GDF), decretada pelo governador José Roberto Arruda, foi um "recado" contra a burocracia e a letargia no poder público.
"A `demissão` do gerúndio por decreto é uma acção para combater a burocracia e a lentidão no andamento dos projectos do governo. O governador estava cansado de não obter respostas objectivas dos seus assessores, e as justificativas eram sempre no gerúndio", afirmou o secretário de Comunicação do GDF, Wellington Morais.
Segundo o secretário, o gerúndio tinha passado a ser justificativo da "ineficiência".
Publicado esta semana no Diário Oficial, o decreto do governador Arruda diz que "fica demitido o gerúndio de todos os órgãos do governo no Distrito Federal" e "fica proibido o uso do gerúndio para desculpa de ineficiência".
"O decreto merece uma correcção. O governador teria de ter demitido o gerundismo, que é um modismo idiota, e não o gerúndio, que é um tempo verbal", afirmou à Lusa a vice-presidente do Conselho de Educação do Distrito Federal, Rosa Pessina.
Na sua avaliação, o gerundismo, uso abusivo do gerúndio, é um "modismo idiota, uma imitação da língua inglesa, que se expandiu no Brasil com as actividades de telemarketing".
Rosa Pessina considera que, apesar de o decreto necessitar de uma alteração, tem o valor de tentar combater o adiamento de soluções dentro do governo e de chamar a atenção para o problema do gerundismo.
Já para o conselheiro cultural da embaixada portuguesa em Brasília e director do Instituto Camões no Brasil, o decreto foi uma "provocação bem-humorada do governador com uma intenção de praticidade".
"A ideia é `vamos fazer` e não `vamos fazendo`. E acredito que vai dar resultado na prática, vai pôr os serviços públicos a funcionarem", opinou Adriano Jordão.
O conselheiro cultural disse à Lusa ter achado "muita graça" no decreto e que a medida só é possível num país tão criativo e tão imaginativo como o Brasil.