Demitiu-se o chefe da "secreta" alemã

Heinz Fromm pediu hoje a reforma antecipada, na sequência do vendaval de críticas que se abatera sobre a sua "secreta", por ter deixado as mãos livres durante quase uma década a uma célula terrorista neo-nazi. O pedido de passagem á reforma, aceite pelo ministro do Interior, pode ser o prelúdio de uma limpeza considerável no BfV.

RTP /

O Bundesamt für Verfassungsschutz (Departamento Federal para a Defesa da Constituição) vinha sendo severamente criticado pelos mais variados quadrantes políticos, devido à complacência com que acompanhara durante vários anos o assassínio em série de nove imigrantes, principalmente turcos, e finalmente de uma agente da polícia.
Da hipótese da "mafia turca" à destruição de ficheiros Ao longo desses anos, os meios consideráveis gastos na investigação não produziram mai resultados que o de confundir as pistas, porque todo o trabalho foi sempre viciado pela hipótese de que se trataria de "ajustes de contas" no interior da "mafia turca". O conhecimento que o BfV tinha sobre os verdadeiros autores dos homicídios, já anteriormente detidos por posse ilegal de explosivos, de nada lhe serviu, porque nunca foi cruzado com a informação relativa a esses homicídios.

Mais grave ainda, o BfV tinha infiltrados seus na organização terrorista NSU (Nationalsozialistische Untergrund - à letra: Clandestinidade Nacional-Socialista) e recebia ocasionalmente informações da "secreta" italiana sobre as actividades para-militares de diversos grupos europeus, sem que infiltrados ou informações lhe tenham servido para fosse o que fosse.

Quando, por mero acaso, dois dos membros da célula terrorista foram cercados após o assalto a um banco, as hipóteses falsas do BfV ruíram como um castelo de cartas. Os dois assaltantes, embora tenham aparecido mortos, por aparente suicídio, deixaram a arma com que foram cometidos os crimes e numeroeas pistas que, sem especial precaução conspirativa, mantinham nos seus computadores.

Um detalhe suspeito veio então juntar-se a todos os anteriores: no Departamento Federal de Colónia foram logo destruídos os ficheiros sobre a extrema-direita da Turíngia. Essa destruição, com data de Novembro de 2011, chegou ao conhecimento do público na semana passada e levou o ministro do Interior, Hans-Peter Friedrich a endereçar a Fromm um pedido formal de explicações. Foi esse pedido a desencadear a demissão de Fromm que, mesmo assim, terá de ir na próxima quinta feira explicar-se perante o Bundestag (Parlamento Federal).
A sucessão e a radicalidade da limpeza no BfV O sucessor mais óbvio para From seria, há algum tempo, o seu colaborador mais directo, Alexander Eisvogel. Trata-se de mais um "super-espião", de uma geração bem mais jovem (46 anos) do que Fromm (64 anos), e com a sua rodagem feitaa partir de 2004 à frente da secção "Islamismo e terrorismo islâmico". Depois disso fora, em 2006, director do Verfassungsschutz no Land de Hessen, e vice-presidente do BfV a partir de Maio de 2010.

O problema é que Eisvogel foi co-responsável pelo fiasco da investigação sobre o neo-nazismo e, subitamente, passou a ser considerado uma escolha problemática do ponto de vista político. Resta saber se o Governo se decidirá, apesar de tudo, por essa escolha de continuidade, ou se optará antes por uma limpeza relativamente ampla no BfV.

Para já, o líder parlamentar dos Verdes, Volker Beck, citado em Der Spiegel, considera que "o escândalo não se despacha com um sacrifício de peão. A Verfassungsschutz dilapidou o seu capital de confiança". Também a representante do Partido da Esquerda na comissão parlamentar de inquérito, Petra Pau, observa que, se apenas se tratasse de erros, "não teria sido necessária a demissão". Mas, tendo havido uma demissão, "coloca-se a questão de outras consequências a extrair até ao topo do Ministério do Interior".

O parceiro menor da coligação, o liberal FDP, cclassificou por um lado a demissão de Fromm como "um passo honroso", mas acrescentando logo, pela voz do seu responsável Hartfrid Wolff que "esta demissão deixa supor neste momento que por trás da recentemente revelada destruição de ficheiros se esconda mais do que foi conhecido até agora".

Surpreendente foi a circunspecção com que reagiu o SPD, sustentando, nas palavras do seu responsável parlamentar Thomas Oppermann, que "Heinz Fromm sempre foi uma voz e um lutador confiável contra o extremismo de direita".
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