Democratas em guerra nos EUA: progressistas arrasam conservadores

por Joana Raposo Santos - RTP
A guerra interna tem-se feito sentir com mais intensidade desde 2011 Jonathan Ernst - Reuters

A liderança do Partido Democrata norte-americano, composta por elementos centristas e conservadores, foi surpreendida pelos resultados das eleições primárias ao Senado. Alguns dos mais conceituados senadores democratas foram vencidos por candidatos mais jovens, progressistas e, alguns deles, socialistas. Estas mudanças têm reacendido a guerra interna que já há alguns anos se faz sentir e há já quem considere que existem “dois Partidos Democratas”.

A primeira vitória a surpreender os veteranos democratas aconteceu nas primárias do 14º distrito de Nova Iorque em junho, quando Alexandria Ocasio-Cortez, uma porto-riquenha de 28 anos, derrotou Joe Crowley, que estava há 20 anos – o correspondente a dez mandatos – no Congresso.

Na semana passada, em Boston, foi a vez de Ayanna Pressley, candidata negra apoiada por socialistas, que venceu Michael Capuano, outro veterano democrata liberal que estava na liderança há 20 anos.

Pela mesma altura soube-se que Julia Salazar, democrata socialista e ativista de 27 anos que se identifica como judia com ascendência latina, derrotou no 18º distrito do Estado de Nova Iorque o Senador Martin Dilan, há 16 anos no Congresso.
“Dois Partidos Democratas”
Os democratas progressistas defendem, principalmente, o acesso facilitado ao sistema de saúde, a redução do uso de combustíveis fósseis e o aumento do salário mínimo, acusando os democratas conservadores de se focarem quase exclusivamente na angariação de fundos.

Jeff Cohen, jornalista e professor universitário norte-americano, considera que “parecem existir dois Partidos Democratas” que se encontram numa “batalha intensa” entre si.

“Um representa uma elite que tem o papel dominante devido às suas relações com empresas que doam fundos e com meios de comunicação social”, garante. “O outro é um Partido progressista e rebelde que representa a maioria dos votantes democratas e os seus desejos de mudanças económicas e sociais”.
Obama opõe-se à mudança?
A guerra interna tem-se feito sentir com mais intensidade desde 2011, ano em que oito democratas se separaram dos restantes membros do Senado para formar o grupo intitulado Conferência Democrática Independente (IDC, na sigla em inglês).

Desde que se tornou público que a IDC colaborou com republicanos nos últimos anos, os restantes democratas do Partido passaram a acusá-los de traição e têm tentado destroná-los no Congresso.

Essa realidade está cada vez mais próxima, sendo que nas mais recentes eleições primárias seis dos oito membros da IDC foram derrotados: Jeffrey D. Klein, senador do Bronx, Tony Avella e Jose Peralta, de Queens, Jesse Hamilton, de Brooklyn, Marisol Alcántara, de Manhattan, e David Valesky, de Syracuse, perdem, assim, a possibilidade de se tornarem senadores neste mandato.

Em agosto, uma reunião de três dias do Comité Nacional Democrata teve como principal tema de discussão a melhor forma para abrandar a crescente influência dos progressistas dentro do Partido.

Barack Obama foi um dos democratas acusados de não apoiarem esta mudança interna, depois de, em agosto, não ter mencionado Alexandria Ocasio-Cortez na lista de 81 candidatos que felicitou publicamente através da rede social Twitter.

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