Demora no anúncio do governo é visão a longo prazo de Lula, sustenta analista

Quase dois meses depois de ter iniciado o seu segundo mandato presidencial, Lula da Silva ainda não anunciou a composição do seu governo devido a uma estratégia que visa o longo prazo, disse à agência Lusa o cientista político David Fleischer.

Agência LUSA /

"Numa visão de curto prazo, essa demora parece negativa mas Lula da Silva sabe que tem mais quatro anos pela frente, que tem que começar com o pé direito e que não pode repetir problemas do primeiro mandato", afirmou o professor da Universidade de Brasília (UnB).

O presidente Lula da Silva criou inicialmente expectativas de que anunciaria o novo governo depois das eleições de Outubro mas adiou a revelação para o final de Dezembro. Depois, resolveu esperar pela definição do presidente da Câmara dos Deputados, a 01 de Fevereiro, e agora vai aguardar a Convenção do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), marcada para 11 de Março.

Na opinião de Fleischer, Lula da Silva vai esperar a definição de quem presidirá ao PMDB, o maior partido político brasileiro e um dos principais integrantes da coligação governamental, para saber quem serão os seus interlocutores.

O PMDB é tradicionalmente um partido com muitas divisões e, neste momento, duas correntes disputam o seu comando - uma liderada pelo actual presidente, deputado Michel Temer, e outra por Nélson Jobim, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal e ex-ministro da Justiça.

Fleischer reconhece que há uma paralisia decisória do executivo federal e que projectos importantes do governo estão parados mas acredita que a demora da reforma ministerial será benéfica politicamente para Lula da Silva.

O próprio presidente Lula da Silva reconheceu, segunda-feira, no seu programa semanal de rádio, que terá "mais tranquilidade para definir a montagem do governo" após os processos de "alinhamento" dos partidos.

O presidente pretende que representantes dos 11 partidos que o apoiam integrem o governo, para dispor de uma base parlamentar sólida para aprovar projectos de interesse do executivo e evitar crises e Comissões Parlamentares de Inquérito no Congresso.

Dos 11 partidos da coligação governamental, nove poderão ter cargos ministeriais.

Lula da Silva disse entretanto no programa de rádio, que não haverá muitas mudanças na composição da nova equipa ministerial, porque a maioria dos partidos políticos já está contemplada no governo.

A maior disputa por cargos será travada pelos dois maiores partidos da coligação - o PMDB e o Partido dos Trabalhadores (PT) que, após sair vitorioso na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados, com Arlindo Chinaglia, não está disposto a perder espaço para o PMDB.

"O PT partiu o salto alto em 2005, devido ao escândalo do mensalão (esquema de compra de votos no Congresso), mas voltou a usar saltos altos depois das eleições, quando fez a segunda maior bancada da Câmara e, principalmente, depois da vitória de Chinaglia. Eu acredito, no entanto, que o PT vai perder espaço para o PMDB nesse segundo mandato de Lula", assinalou Fleischer.

O cientista político admitiu que já está em jogo a sucessão de Lula da Silva, o que se pode comprovar com a indicação do PT de que a ex-presidente da Câmara de São Paulo, Marta Suplicy, assuma um ministério.

Segundo Fleischer, o PT acredita que Marta Suplicy seria a znica candidata viável para concorrer à Presidência da República pelo partido.


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