Deputado acusa ministro do Interior da Guiné-Bissau de nepotismo e divisão étnica
O deputado José Carlos Monteiro, do Movimento para a Alternância Democrática (Madem G-15), acusou o ministro do Interior, Botche Candé, de alegadas práticas de nepotismo no ministério e de estar a fomentar a divisão étnica no país.
José Carlos Monteiro, presidente da comissão especializada do parlamento para a área de Defesa e Segurança, disse ter provas de que Botche Candé teria nomeado e promovido familiares em vários serviços do Ministério do Interior.
"Botche Candé nomeou e deu patente à sua esposa, uma patente importante, nomeou e deu patente aos seus dois filhos, no Ministério do Interior, pegou nos seus sobrinhos e meteu-os na Guarda Nacional. Em 100% dos novos agentes da Guarda Nacional, 20% são familiares do ministro do Interior", afirmou o deputado.
José Carlos Monteiro disse ter provas e ainda " mais denúncias" contra o comportamento de Botche Candé e que as vai apresentar nos próximos dias.
"Durante 30 dias vou falar do ministro do Interior nesta câmara", observou o deputado, ao responder às declarações do governante que tinha dito que não vai responder ao parlamentar.
Na terça-feira, Botche Candé disse aos jornalistas que não pretende responder a José Carlos Monteiro, que na véspera o havia questionado sobre o facto de, alegadamente, andar acompanhado por mais "seguranças do que o presidente do parlamento" e os motivos da sua deslocação com 40 militares para a zona de Mansabá, próxima da fronteira com o Senegal.
O ministro afirmou que aquela zona é sensível, dado os movimentos dos independentistas de Casamança, que lutam pela separação com o resto do Senegal, mas também não pretendia dar mais detalhes da sua deslocação por ser segredo de Estado.
O deputado considera a justificação do ministro inaceitável e pediu ainda ao líder do parlamento guineense, Cipriano Cassamá, a convocação "urgente" do primeiro-ministro, Nuno Nabiam.
"O primeiro-ministro que venha explicar ao parlamento o que se passa. O ministro tem direito a dois seguranças, mas atualmente anda com cerca de 40 elementos, entre polícias e militares", observou o deputado, lembrando que mesmo fazendo parte da coligação de partidos que atualmente suportam o Governo de Nabiam, não pode admitir nepotismo e desrespeito às leis do país.
O Madem-G15 faz parte da coligação no Governo na Guiné-Bissau.
José Carlos Monteiro acusou ainda Botche Candé, que recentemente anunciou que vai criar o seu próprio partido político, de alegadamente estar a fomentar a divisão étnica no país.
O deputado afirmou que o ministro mandou convocar dignitários da etnia fula, a que pertence, da região de Gabu, no leste, para virem a Bissau apresentar-lhe cumprimentos.
"Ele mandou vir 55 pessoas só da etnia dele, por que não chamou pessoas de outras etnias", perguntou José Carlos Monteiro.
A Lusa tentou, sem sucesso, obter uma reação do ministro do Interior.