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Deputado australiano agita "solução final" para imigração

por RTP
Fraser Anning defendeu que deveria ser feito um referendo sobre a imigração Tim Wimborne - Reuters

Fraser Anning, um senador australiano conservador, pediu que se referendasse se a Austrália deve ou não acabar com a imigração de muçulmanos. O senador afirmou que essa seria a “solução final para o problema da imigração”.

O antigo senador do Partido One Nation, de extrema-direita, utilizou a sua primeira intervenção no Senado enquanto membro do Partido conservador para pedir um referendo. Este serviria para os australianos decidirem “se querem imigrantes do terceiro mundo que não falam inglês e, mais concretamente, se querem muçulmanos”.

Anning argumentou que este referendo é necessário, uma vez que nem o antigo primeiro-ministro trabalhista, Gough Whitlam, nem os governadores anteriores perguntaram aos australianos que tipo de imigração queriam.

Para o senador, as razões para terminar a imigração muçulmana são “irrefutáveis e óbvias”: “O registo de muçulmanos que já vieram para este país em termos de taxas de criminalidade, dependência de apoios sociais e terrorismo é o pior de qualquer migrante”.

No entanto, apesar destas declarações controversas, o jornal The Australian aponta que nem a Crime Statistics Australia, nem o Australian Bureau of Statistics referem a religião ou etnia dos infratores da lei nos seus relatórios.
Anning defende Austrália Branca
A alegada dependência de apoios sociais por parte dos muçulmanos também foi muito enfatizada por Fraser Anning, que invocou a política da Austrália Branca. Esta política abrangeu várias medidas que, desde 1901 a 1972, restringiram a imigração de não europeus para a Austrália.

“Deveríamos proibir todos os imigrantes de receberem apoios sociais nos primeiros cinco anos da sua chegada. Nos dias de Menzies os imigrantes que chegavam à Austrália não se podiam candidatar [a esses apoios] e isso atraiu o tipo certo de pessoas trabalhadoras de que este país necessitava”, declarou o senador, referindo-se ao Governo do primeiro-ministro Robert Menzies, que governou de 1949 a 1966.

Penny Wong, líder do Partido Trabalhista, reagiu imediatamente a esta intervenção: “Os meus pais casaram-se nos últimos dias da política da Austrália Branca. Consignámos corretamente essa política no caixote do lixo da história”, declarou ao Guardian Australia.

Um outro membro do partido trabalhista, Tim Watts, afirmou numa publicação de Facebook que as principais ideias do discurso de Anning estão a normalizar-se no debate político australiano.

“A realidade da sociedade australiana não reflete as divisões raciais que vemos reproduzidas pelos conservadores nos nossos debates mediáticos e políticos. Os conservadores é que não têm contacto com a nação multicultural de sucesso de que os australianos disfrutam diariamente”, lê-se na publicação de Watts.
Vocabulário nazi
Fraser Anning conseguiu resumir a sua intervenção numa frase: “A solução final para o problema da imigração é, claramente, o voto popular”.

A expressão utilizada pelo senador conservador - "solução final" - gerou de imediato polémica entre as bancadas da câmara parlamentar, tendo em conta o paralelismo com a forma como o regime nazi designou, na Alemanha, o extermínio de judeus.

“Referir-se a imigrantes, particularmente imigrantes muçulmanos, com a mesma linguagem usada pelos nazis para discutirem o extermínio de judeus europeus durante o Holocausto é vil, racista e extremista e não tem lugar na nossa sociedade, quanto mais no nosso Parlamento”, declarou o Senador Richard Di Natale, líder dos Verdes.

Depois de ser condenado várias vezes pela declaração, Fraser Anning emitiu uma declaração a argumentar que quando utilizou a expressão “solução final” referia-se a uma “solução definitiva” e que as alegações em contrário eram “simplesmente ridículas”.

“Algumas pessoas dos media e políticos do partido de esquerda têm medo de que os australianos tenham uma palavra sobre quem vem para aqui”, defendeu o deputado conservador.
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