As imagens publicadas no
site da emissora privada TVN24 mostraram Grzegorz Braun, do partido Confederação,
a agarrar num extintor e a dirigir-se a um espaço do Parlamento onde estava uma menorá com as velas acesas, dedicadas à celebração judaica do Hanukkah.
Braun, sem hesitar, apontou o jato do extintor às velas, apagando-as. O átrio encheu-se de uma nuvem branca, forçando os seguranças a retirar as pessoas da área.
No Parlamento decorria uma celebração dedicada à quadra do Hanukkah (o equivalente ao Natal cristão) onde membros da comunidade judaica, incluindo crianças, foram à assembleia a convite do presidente do Parlamento, Szymon Holownia.
Braun descreveu o Hanukkah como “satânico” e afirmou estar a restaurar a “normalidade” e ainda argumentou: “Aqueles que participam de atos de adoração satânica deveriam ter vergonha”.
A indignação dos participantes foi de imediato notada, levando Holownia a suspender o deputado da sessão do Parlamento. Mais tarde, acrescentou que Braun perderia metade do seu salário durante três meses e todas as despesas parlamentares durante seis meses.
"Não haverá tolerância ao racismo, à xenofobia, ao antissemitismo enquanto eu for o presidente do Parlamento", disse Holownia aos jornalistas.
À Reuters, o principal rabino da Polónia, Michael Schudrich, declarou que as ações de Braun não eram representativas do país e que se mostrava "envergonhado" por estas atitudes.
“Alguém apagou as velas de Hanukkah e alguns minutos depois nós reacendemo-las”, disse o rabino. "Durante milhares de anos, os nossos inimigos têm tentado extinguir-nos, desde a época dos Macabeus até ao Hamas. Mas os nossos inimigos devem aprender que não nos podem extinguir".
"Uma vergonha"
A interrupção ocorreu antes do voto de confiança como aprovação do recém-nomeado primeiro-ministro pró-UE, Donald Tusk.
Após o discurso, Tusk descreveu o incidente como “uma vergonha”. "Isto é inaceitável. Isto não pode acontecer novamente”, vincou.
Em comunicado, o cardeal Grzegorz Ryś, da Igreja Católica da Polónia, disse estar envergonhado com as ações de Braun e pediu “desculpas a toda a comunidade judaica na Polónia”.
O rabino Sholom Ber Stambler, que pertence ao movimento Chabad-Lubavitch, tem acendido a menorá no Parlamento nos últimos 17 anos. Ber Stambler sublinhou que Braun era “um antissemita que queria atrair a atenção”.
Grzegorz Braun usa extintor para apagar as velas da menorá | Dawid Zuchowicz - Agencja Wyborcza.pl via Reuters
O rabino estava na sala ao lado quando Braun lançou o ataque e explicou à publicação britânica The Guardian que o parlamentar de extrema-direita "queria destruir uma atmosfera muito edificante de tolerância e liberdade religiosa".
"Fazemos isto há 17 anos e sempre foi fácil de organizar e os deputados de diferentes partidos aderiram e respeitaram”, frisou.
Ber Stambler reiterou que Braun, para além de antissemita, era "também antipolaco”, pois tinha perturbado um importante dia político, com a tomada de posse do novo governo. “Foi muito importante para mim reacender a menorá depois. Foi o que fiz”, acrescentou.
Braun
Braun é um membro pró-Rússia do partido de extrema-direita Confederação, conhecido no país por acreditar que existe uma conspiração para transformar a Polónia num “Estado judeu”.
No início deste ano, o deputado já tinha interrompido uma palestra do investigador do tema Holocausto Jan Grabowski, que apresentava casos de cumplicidade polaca durante o genocídio na II Guerra, fazendo com que a palestra fosse cancelada.
O partido Confederação publicou na rede social X que condenava o comportamento de Braun.