Desacordo sobre ativos russos afeta credibilidade da UE - Alemanha
A Alemanha alertou hoje que a credibilidade da União Europeia (UE) poderá ficar afetada durante anos se não houver acordo na cimeira de quinta-feira sobre a utilização dos ativos russos congelados no apoio à Ucrânia.
"Mostraremos à Rússia que continuar a guerra não faz sentido. Só com uma posição de força poderemos terminar esta guerra sem sentido", afirmou o chanceler alemão, Friedrich Merz, ao discursar no 8.º Fórum Económico Germano-Ucraniano, em Berlim.
Merz disse que os ativos russos são "uma questão chave para a capacidade de ação da UE" que tem de ser resolvida na cimeira de quinta e sexta-feira, em Bruxelas, "de forma que todos os Estados europeus assumam o mesmo risco".
"Se não o conseguirmos, não nos enganemos, a capacidade de ação da UE será prejudicada durante anos e mostraremos ao mundo que não conseguimos estar unidos num momento decisivo da nossa história para defender juntos a ordem do nosso continente", advertiu.
Os chefes de Estado e de governo da UE vão debater fórmulas para financiar a Ucrânia nos próximos anos na cimeira que começa na quinta-feira, com o foco na concessão do empréstimo a partir dos ativos russos imobilizados.
A Comissão Europeia está a tentar usar parte dos cerca de 200 mil milhões de euros de ativos do Banco da Rússia congelados no âmbito das sanções pela invasão da Ucrânia para financiar um empréstimo a Kiev.
A Bélgica, país na Europa que reúne a maior parte dos ativos russos congelados, teme as consequências legais e financeiras de serem usados para dar um empréstimo à Ucrânia, pois tratar-se-ia de um mecanismo sem precedentes.
"Agrada-me que tenhamos imobilizado os ativos russos até que a paz chegue à Ucrânia. Queremos tornar esse dinheiro útil para ajudar militarmente a Ucrânia nos próximos dois anos", afirmou Merz, citado pela agência de notícias espanhola EFE.
Sobre as negociações confidenciais realizadas no domingo e hoje em Berlim com ucranianos e norte-americanos, Merz disse que os Estados Unidos apresentaram garantias de segurança legais e materiais "realmente notáveis".
Admitiu, porém, que a questão do acordo sobre os territórios que a Rússia exige à Ucrânia continua sem solução.
Merz insistiu que a Europa tem de apoiar a Ucrânia nas negociações diplomáticas com os Estados Unidos.
Também qualificou a decisão do Presidente russo, Vladimir Putin, de iniciar a guerra em fevereiro de 2022 como "um assalto criminoso" não só contra a Ucrânia, mas contra a ordem de paz europeia.
Merz anunciou ainda que os dois emissários norte-americanos, Steve Witkoff e Jared Kushner, foram convidados a participar na ronda que hoje manterão líderes europeus e da NATO com a delegação ucraniana, liderada pelo Presidente Volodymyr Zelensky.
Numa conferência de imprensa com Zelensky, Merz referiu o papel chave dos enviados da Casa Branca, a presidência dos Estados Unidos, nas conversações confidenciais que decorrem desde domingo.
"Sem o seu esforço incansável e sem o envolvimento do Presidente [Donald] Trump, não teríamos a dinâmica positiva que estamos a experimentar nestas horas", afirmou.
Merz disse que nos últimos dias se desenvolveu uma "grande dinâmica diplomática", talvez a maior desde a invasão russa em fevereiro de 2022.
Admitiu mesmo que existe "a oportunidade real" de um processo para alcançar uma paz para a Ucrânia.