Descoberto novo planeta a orbitar a estrela mais próxima do Sol

por Nuno Patrício - RTP
Representação artística de Proxima d.Estima-se que o planeta seja rochoso e tenha cerca de um quarto da massa da Terra. Créditos:ESO/L. Calçada

Foi descoberto mais um planeta fora do sistema solar. Não seria novidade a descoberta de um novo exoplaneta, não fora este residir na órbita da estrela mais próxima do Sol, em Proxima Centauri. Este novo e leve planeta, como o classificam os astrónomos, foi descoberto com o auxílio do Very Large Telescope (VLT) do Observatório Europeu do Sul (ESO), no Chile.

Este é o terceiro planeta detetado neste sistema, já batizado como Proxima d - e o mais leve dos três descobertos até à data em órbita desta estrela.

Um planeta que, segundo os dados recolhidos, terá uma massa de cerca de um quarto do tamanho da Terra, sendo este um dos mais leves alguma vez descobertos.

Em conversa com a RTP, João Faria, investigador no Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, Porto, e líder do estudo publicado esta quinta-feira na revista da especialidade Astronomy & Astrophysics, revela o que se sabe sobre este novo astro.

“Este planeta é parecido com a Terra (…) com uma massa de cerca de um quarto da massa da Terra. Estamos a falar de o dobro da massa de Marte e de facto está a orbitar à volta da estrela chamada Proxima Centauri”. Um conjunto planetário presente na Constelação de Centaurus, numa das estrelas do sistema triplo de existente nesta constelação.


Este mapa mostra a enorme constelação austral de "Centauro", onde estão assinaladas a maioria das estrelas visíveis a olho nu numa noite escura e límpida. A localização da estrela mais próxima do Sistema Solar, Proxima Centauri, está marcada com um círculo vermelho. Esta estrela é muito ténue para poder ser observada a olho nu, no entanto pode ser encontrada com o auxílio de um pequeno telescópio. Créditos:ESO/IAU and Sky & Telescope


Um planeta que não se encontra dentro da faixa considerada “zona habitável” para a vida, tal como a conhecemos, e que tem um período orbital em torno da estrela de apenas cinco dias.

Seja como for, “esta descoberta mostra-nos que a nossa estrela vizinha mais próxima parece ter na sua órbita uma quantidade de planetas interessantes, bastante acessíveis à realização de mais estudos e exploração futura”, explica João Faria.

Um planeta leve
Com apenas um quarto da massa da Terra, Proxima d é o exoplaneta mais leve alguma vez medido com o método das velocidades radiais, ultrapassando um planeta recentemente descoberto no sistema L 98-59.

Esta técnica funciona ao captar oscilações minúsculas no movimento de uma estrela criadas pela atração gravitacional de um planeta na sua órbita.

O efeito da gravidade de Proxima d é tão pequeno que Proxima Centauri apenas se desloca para trás e para diante cerca de 40 centímetros por segundo (1,44 km por hora), como refere o investigador do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, no Porto, João Faria.
Uma descoberta “extremamente importante”, afirma o investigador, quando as análises dos dados foram feitas a partir de um observatório VLT instalado no solo da Terra e que revela que o método das velocidades radiais tem potencial para dar a conhecer toda uma população de planetas leves, como o nosso, que se pensa agora serem mais frequentes do que se julgava na nossa galáxia e que poderão “potencialmente” acolher vida tal como a conhecemos.

Descobertas que serão aprofundadas em próximos passos na procura de outros planetas por parte do ESPRESSO, que será complementada pelo Extremely Large Telescope (ELT) do ESO, atualmente em construção no deserto do Atacama. Este instrumento será crucial para descobrir e estudar muitos mais planetas em torno de estrelas próximas.

“Este resultado mostra claramente do que o ESPRESSO é capaz e faz-me pensar no que poderá encontrar no futuro,” acrescenta João Faria. Busca de vida fora do sistema solar será sempre importante
Uma das perguntas para as quais a humanidade procura resposta é a de perceber se realmente há vida fora desta esfera que habitamos. Uma resposta que, de dia para dia, encontra cada vez mais um padrão consistente de que exista vida, pois só o facto de existir água leva a que o potencial seja elevado. Pode é não ser tal como a conhecemos.

João Faria diz que à RTP que nunca é de excluir a vida noutros planetas e é evidente que a humanidade tentará sempre obter sinais mais claros na resposta à pergunta: “Está alguém desse lado?”.


“A pergunta mantém-se, claramente. (…) Conhecemos quase cinco mil planetas nesta altura, portanto sabemos perfeitamente que existem este sistemas planetários agora temos que continuar a perguntarmo-nos, estudá-los com mais cuidado e perguntarmos se de facto é possível que não estejamos sozinho em termos de vida inteligente”. Razão pela qual existem programas de busca de vida inteligente - SETI Institute - , embora cada vez menos financiados.
Próximos de Proxima Centauri, mas muito longe
A comunidade científica e astrónoma chama-lhe “Próxima Centauri”, por este sistema planetário estar na constelação de Centauros e próxima por, na realidade, ser a estrela que está mais perto de nós. Mas será que estamos assim tão perto?

Se tomarmos em conta a velocidade da luz como referência, cerca de 300 mil quilómetros por segundo, visto ser o padrão mais rápido que conhecemos até agora, chegar ao sistema solar de Proxima Centauri implicaria uma viagem de cerca de 4,24 anos-luz.

Uma missão que é humanamente impossível, com a atual tecnologia. Todavia, neste preciso momento, já existem algumas sondas construídas por nós a caminho de lá, entre as quais as famosas Voyager, lançadas na década de 70 do século passado.

Certo é que estas sondas apenas realizarão este feito se não houver nenhum encontro imprevisto no vazio do espaço. E se se verificar uma série de fenómenos, como por exemplo serem “agarradas” pelo efeito gravitacional da estrela. Mesmo que isso ocorra, à passagem por Proxima Centauri, as sondas serão meros objetos tecnológicos mortos e apenas sendo a prova da existência de uma civilização capaz de ter criado algo artificial que viaja pelo espaço.

Questionado pela RTP, o investigador no Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, no Porto, diz que viajar até Proxima Centauri é humanamente impossível. “Para já… sim!”, diz João Faria.

Mesmo realizada pela sonda terrestre mais rápida atualmente conhecida, Parker, que está a estudar o Sol e a viajar a cerca de 393 mil quilómetros por hora, tal viagem levaria cerca de 11.670 anos a chegar ao sistema planetário mais próximo. No entanto, o investigador acredita que, no futuro, iremos descobrir formas mais rápidas e mais fiáveis de sair deste ponto azul ao qual chama-mos Terra.
Proxima b, o terceiro de três planetas mais próximos
O planeta recém-descoberto, Proxima d, é o terceiro de um conjunto de três que orbitam a estrela Proxima Centauri a uma distância de cerca de quatro milhões de quilómetros, ou seja, menos de um décimo da distância entre Mercúrio e o Sol.

Já se sabia que esta estrela albergava dois outros planetas: Proxima b, um planeta com uma massa comparável à da Terra que orbita a estrela a cada 11 dias e que se encontra na sua zona habitável, e o planeta candidato Proxima c, que executa uma órbita mais longa de cinco anos em torno da estrela.

Proxima b foi descoberto há alguns anos, com o auxílio do instrumento HARPS, montado no telescópio de 3,6 metros do ESO. Esta descoberta foi confirmada em 2020, quando os cientistas observaram o sistema Proxima com um novo instrumento de maior precisão montado no VLT do ESO, o ESPRESSO (Echelle SPectrograph for Rocky Exoplanets and Stable Spectroscopic Observations).
Foi durante estas observações mais recentes, levadas a cabo com o VLT, que os astrónomos encontraram os primeiros indícios de um sinal correspondente a um objeto com uma órbita de cinco dias. Como o sinal era muito fraco, a equipa executou observações de seguimento com o ESPRESSO para confirmar que o sinal era, de facto, devido a um planeta e não simplesmente o resultado de variações na própria estrela.

“Após a obtenção de novas observações, pudemos então confirmar que este sinal correspondia a um novo candidato a planeta. Fiquei muito entusiasmado com o desafio de detetar um sinal tão fraco e descobrir um exoplaneta tão perto da Terra”, conclui João Faria.
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