Descoberto templo de Palaspata associado a sociedade perdida de Tiwanaku que antecede o Império Inca

Os arqueólogos acreditam ter descoberto ruínas que correspondem aos limites de um templo. Este complexo arqueológico a que chamaram de templo de Palaspata terá pertencido à antiga sociedade andina de Tiwanaku, que desapareceu por volta de 1000 d.C., antecedendo o Império Inca.

Carla Quirino - RTP /
Reconstituição digital do templo de Palaspata José Capriles - Penn State

No Estado de Tiwanaku, localizado nos Andes bolivianos, a sudeste do Lago Titicaca, foram encontrados vestígios arqueológicos que pertenceriam a um "grande edifício modular com um pátio integrado e afundado", dizem os investigadores.

Os investigadores descrevem as estruturas como tendo uma “semelhança impressionante com o estilo Tiwanaku encontrado em outras partes da região do Lago Titicaca", argumenta-se no estudo recém-publicado. 

"Não esperamos isso neste lugar em particular e o fato de existir, é notável”, sublinhou José Capriles, arqueólogo boliviano e professor associado de Antropologia na Universidade Estadual da Pensilvânia.
Sociedade perdida de Tiwanaku
As comunidades de Tiwanaku foram identificadas pela primeira vez num planalto dos Andes, chamada Bacia do Titicaca, em homenagem ao Lago Titicaca.

Devido à altitude, as culturas agrícolas, como o milho, eram difíceis, por isso a população dependia de caravanas de lamas para ligar as comunidades da região e facilitar o comércio. A capital do Tiwanaku, também chamada Tiwanaku, geriu relações comerciais e a interação entre regiões.

“Tiwanaku era o que chamamos de estrutura primária de um Estado, o que significa que era uma sociedade complexa, com estratificação social complexa”,
argumentou Capriles. O império desenvolveu-se sem influência externa e “emergiu de uma série de sociedades agrícolas anteriores”, acrescentou.

O povo Tiwanaku começou a estabelecer-se naquela área por volta de 700 d.C., alastrando influencia mais a oeste num vale que agora é o sul do Peru, de acordo com Nicola O’Connor Sharratt, professor associado de Antropologia na Universidade Estadual da Geórgia.
Construção de Palaspata

Denominado de Palaspata, devido ao nome nativo da região, o templo recém-descoberto fica fora das fronteiras de onde a comunidade Tiwanaku estaria implantada.

O edifício monumental da Palaspata, que se julga ter cariz religioso, terá sido construido pelos Tiwanaku para exercer ainda mais influência sociopolítica sobre outras sociedades das redondezas, controlando o comércio entre as regiões, de acordo com os resultados da investigação.

“A colocação neste local representa uma posição estrategica situada entre duas principais zonas geográficas das Terras Altas Andinas”, explicou Capriles. “Este edifício pode ter exercido uma espécie de controlo estratégico que não apenas controlando não apenas o fluxo de bens no sentido económico e político, mas também através como símbolo religioso, e é por isso que é um templo”, sustentou.


O templo Palaspata só é visível pela sua parede do perímetro, que é delineada com arenito vermelho - José Capriles | Penn State
A descoberta
Os arqueólogos trabalhava num projeto de arqueologia perto de uma estrada quando notaram umas anomalias no terreno. Ao surgirem estruturas como ruínas de paredes decidiram investigar a área com drones.

Observou-se um recinto com 125 metros de comprimento e 145 metros de largura. É ladiado de 15 compartimentos que provavelmente seriam salas em torno de um pátio interno.
 

A partir das leituras iniciais, Capriles produziu uma reconstituição digital do templo - José Capriles | Penn State

A entrada principal do edifício fica para oeste, alinhada com o equinócio solar e indicativa do papel religioso do templo na sociedade. 

Embora não se saiba muito das práticas espirituais de Tiwanaku, os arqueólogos já encontraram monólitos de pedra e cerâmica com simbolismo baseado em plantas e animais que podem aludir às tradições conhecidas por fazer parte de outras sociedades pré-incas dizem os especialistas.
Cerâmicas e vestigios zooarqueológicos
Entre os achados, os arqueólogos também identificaram fragmentos cerâmicos de Tiwanaku no interior do complexo, "como copos de keru, tigelas e normalmente usados para beber alguma forma de álcool à base de milho".

"A presença destas cerâmicas sugerem que o prédio provavelmente foi usado para convívios ou grandes reuniões", acentuou Sharratt. "Panelas e frascos de armazenamento também eram abundantes, assinala o estudo.

Fragmentos cerâmicos policromados de estilo Tiwanaku recuperados da superfície e escavações | Desenhos de José Capriles e restantes autores

"A análise zooarqueológica de 2092 espécimes ósseos revelou uma dominância de ossos de camelídeos, mas também alguns roedores pequenos e médios", descrevem os investigadores.

Foram ainda recuperadas ferramentas ósseas como "um raspador feito de uma mandíbula de camelídeo e aves feitas de longos eixos de osso comparáveis a indústrias ósseas de outros locais nas Terras Altas", argumentam os cientistas na publicação dos primeiros resultados.

A continuação da investigação deste complexo permitirá uma melhor compreensão do sucesso e desaparecimento desta civilização antiga, defendem os arqueólogos.

Para já, as teorias arqueológicas apontam para alterações climáticas como uma seca ou degradação ambiental, por volta do ano 1000 d.C. Também acreditam que as dificuldades poderão ter desencadeado uma tensão social e o colapso das comunidades.
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