Desflorestação ilegal avança no estado brasileiro do Mato Grosso e ameaça indígenas (ONG)
A organização não-governamental Instituto Socioambiental denunciou que nos primeiros dois meses do ano foram abatidas ilegalmente quase 10 milhões de árvores no estado brasileiro de Mato Grosso, numa área que se aproxima do território indígena do Xingu.
Segundo a ONG, em União do Sul, o município mais desmatado no período, 98% da área total desflorestada não tem autorização para abate. Já nas cidades de Gaúcha do Norte e Paranatinga a taxa sobe para 100%.
"Algumas das áreas desflorestadas ilegalmente nos três municípios estão muito próximas dos limites do Território Indígena do Xingu", alertou a ONG na noite de quinta-feira, citando dados do sistema de monitorização da "Rede Xingu +", uma articulação de indígenas e de outros parceiros que vivem ou atuam na bacia do rio Xingu.
O estado do Mato Grosso, localizado no centro-oeste brasileiro, teve um aumento de 75% na taxa de desflorestação em relação aos dois últimos meses de 2019, contabilizando 8.100 hectares desflorestados.
"Desde maio de 2019, a taxa de desflorestação na parte mato-grossense da bacia do Xingu apresentou uma queda gradativa, voltando a subir novamente no último mês de 2019. Em janeiro de 2020, esse índice manteve-se alto e continuou a crescer em fevereiro, somando, nos dois primeiros meses do ano, 8.119 hectares, ou quase 10 milhões de árvores derrubadas", indica o boletim difundido pela ONG.
O rio Xingu, que nasce no Mato Grosso até desaguar no rio Amazonas, no Pará, tem uma grande importância na vida dos indígenas e é por ele que muitos se guiam e se deslocam, sendo responsável por abastecer os povos originários.
Outro dos problemas que a bacia do xingu enfrenta é o aumento do garimpo ilegal, que está a afetar as Terras Indígenas Kayapó, Baú e Apyterewa, que tiveram 246 hectares abertos para exploração mineira.
"O aumento de garimpo ilegal em terras indígenas explica-se, em parte, pela expectativa criada em torno da aprovação do Projeto de Lei n.° 191/2020, de iniciativa do Presidente da República [Jair Bolsonaro], que propõe a legalização da atividade garimpeira por terceiros dentro de terras indígenas", acrescenta o documento.
"A proposta em causa, apesar de ser abertamente inconstitucional, juntamente com a ausência de operações de fiscalização nas áreas de garimpo, reforça a manutenção e expansão desta atividade ilegal", apontou a advogada do Instituto Socioambiental, Elis Araújo.
Num panorama mais amplo, o Brasil perdeu 7,6% das suas áreas cobertas por vegetação florestal neste século, como resultado da desflorestação e do avanço de áreas destinadas à agricultura e pecuária, informou no final de março o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Enquanto no ano de 2000 o território brasileiro coberto por florestas e bosques se estendia por 4.017 milhões de quilómetros quadrados, em 2018 havia caído para 3.712 milhões de quilómetros quadrados, segundo um relatório do IBGE, que analisou imagens de satélite.
Em 18 anos, 305.457 quilómetros quadrados de floresta foram destruídos no Brasil, uma área equivalente ao tamanho de países como Polónia (312.685 quilómetros quadrados) ou Itália (301.340 quilómetros quadrados).