Destruição na Indonésia

por RTP |
CATÁSTROFE NA INDONÉSIA
Destruição na Celebes

Um terramoto de magnitude 7,5 na escala de Richter e um tsunami na Indonésia varreram a ilha de Celebes causando a morte de, pelo menos, 2.000 pessoas, de acordo com os dados mais recentes. As mortes ocorreram na cidade costeira de Palu e arredores, onde as ondas do tsunami atingiram os seis metros e galgaram a praia. Cerca de 70 mil casas foram destruídas e milhares de pessoas estão desalojadas.

Terramotos poderosos

Por volta das três da tarde, hora local (GMT+8), no dia 28 de setembro, um terramoto inicial de magnitude 6,1 atingiu a costa da ilha central de Celebes, perto da praia Toa Toa, 55 km a norte de Palu. A este seguiu-se outro terramoto de enorme proporção atingindo a magnitude de 7,5 na escala de Richter, mais a norte, que desencadeou um alerta de tsunami logo após as 18h00.

Terramotos poderosos

As autoridades da Indonésia admitiram falhas nos sistemas de alarme de tsunami, depois do sismo de 7.5 que atingiu a ilha de Celebes.

A agência local de meteorologia, BMKG, chegou a emitir um alerta de tsunami que foi desativado 28 minutos depois, uma vez que não tinha dados credíveis para avaliar a situação. A agência estimou ondas de três metros. As ondas do tsunami que devastou Palu atingiram os seis metros.

Além disso, o alarme ativado não chegou à maioria da população. O sistema em causa está a funcionar com um número reduzido de equipamentos.

Nota: Os tremores secundários com uma magnitude de 4,0 e acima são mostrados no mapa; As linhas de chegada do tsunami e a estimativa da altura da onda são baseadas em informações divulgadas pela Agência Indonésia para Meteorologia, Climatologia e Geofísica (BMKG).

“Sessenta e três por cento da população não pode ouvir os alertas de tsunami devido ao número limitado de alarmes. Só temos 63 alarmes. Dantes tínhamos 200, mas na realidade precisamos de 1.000”, disse Sutopo Nugroho, porta-voz da Agência de Gestão de Desastres da Indonésia.

Rescaldo

Sutopo Nugroho descreveu os danos causados como “extensos” e disse que milhares de casas, hospitais, centros comerciais e hotéis entraram em colapso. Um ponte foi destruída e a estrada principal para Palu foi cortada devido aos deslizamentos de terra.

De acordo com os dados da BNPB (Agência Nacional para Medidas Contra Desastres), Palu já foi atingido por grandes terramotos em 1927, 1938, 1968 e 1996. Os sismos são comuns em Celebes.

Foram registados 245 tremores secundários na zona central da ilha de Celebes desde o terramoto de 28 de setembro, segundo a mesma agência.

Vídeo de Tezar Kodangan / Reuters

Cidade de Palu

A catástrofe afetou a pequena cidade costeira de Palu, que se encontra a 1.500 quilómetros a nordeste da capital Jacarta.

O epicentro do sismo foi a 78 quilómetros da cidade.

Destruição em Palu

Ao longo da costa

Palu é a capital de província de Celebes Central e a estimativa de população era de 379.800 em 2017. No dia 28, quando foi atingida pelo tsunami, a cidade celebrava o seu 40º aniversário.

Centenas de pessoas que participavam nas festividades organizadas na praia de Palu foram surpreendidas pela onda de seis metros que galgou o areal.

A estreita baía de dois quilómetros de largura poderá ter ”amplificado” a força da onda enquanto se movia em direção à cidade.

Imagens de satélite e fotografias mostram a destruição à beira-mar causada pela onda, prédios e lojas destruídos, pontes que colapsaram e uma mesquita rodeada por água. Alguns locais desapareceram completamente.

As imagens ilustram o poder destrutivo da onda. A Palu Bridge IV levou com toda a força do tsunami quando atingiu a costa. A sua estrutura de metal ficou totalmente retorcida.

A ponte danificada e, ao fundo, a mesquita Apung rodeada de água. Foto: Athit Perawongmetha - Reuters

Dados da agência meteorológica indonésia indicam o tsunami como principal causa da inundação. O mapa abaixo mostra até que ponto a água poderia seguir para o interior da cidade dependendo da altura da onda.

Movimento do solo

A Indonésia Oriental localiza-se numa área onde quatro placas tectónicas chocam umas contra as outras: a da Austrália, a de Sonda, a do Pacífico e do Mar das Filipinas. O terramoto de dia 28 de setembro deu-se por cima da placa de Sonda. Esta placa desloca-se para sul, cerca de 30 milímetros por ano, movendo-se contra a placa australiana que se desloca para norte.

À medida que avançam uma contra a outra, a placa da Austrália, por ser mais pesada, mergulha para baixo da placa de Sonda, abrindo uma falha entre ambas.


A cidade de Palu encontra-se na linha da falhas de Palo-Koro, que corre de norte a sul ao longo da margem da baía de Palu. Essa linha de falhas é composta por dois blocos que deslizam horizontalmente um em relação ao outro.

Os geólogos estimam que os segmentos da falha de Palo-Koro têm um dos maiores movimentos de deslizamento da Indonésia, deslocando-se quatro centímetros por ano e expondo a área a um risco maior de terramotos quando a falha finalmente quebra e alcança o movimento acumulado de ambos os lados. O terramoto dá-se quando o dois lados da linha de falha raspam um contra o outro horizontalmente.

Austin Elliott do Centro de Observação e Modelagem de Terremotos, Vulcões e Tectónica (COMET), da Universidade de Oxford, notou que uma grande mudança ao longo da falha causou um forte tremor.

"Verificando as características da superfície por imagens de satélite, vemos até sete metros de deslocamento em direções opostas através da quebra acentuada da superfície, que atravessa diretamente a cidade de Palu e arredores. É importante referir que esta imagem detalhada de satélite revela que a falha rompeu 60-70 km mais a sul do que os dados sísmicos iniciais indicaram, significando que uma área e população sofreram um impacto superior de tremores violentos do que inicialmente se estimava", realça Austin Elliott.

O mapa abaixo é a junção de pixels de imagens de dois satélites da mesma área e o cálculo da distância que eles moveram de uma imagem para outra. Pode-se ver uma clara quebra que se estende até sul da cidade de Palu, resultante do movimento das duas secções de terra que se moveram em direções opostas.

Os dados do mapa e análise do mesmo foram cortesia de Austin Elliott, COMET à Reuters. Imagens analisadas da USGS/NASA Landsat-8, entre 16 de setembro e 2 de outubro.

A imagem de satélite que se segue apresenta o antes e depois do movimento da superfície.

Fontes: Reuters; Planet Labs

Liquefação

Outra causa das mortes e destruição foi um fenómeno chamado liquefação, que ocorre quando a camada superficial do solo, saturado pela água e pelos abalos do sísmicos, perde a resistência e atua como líquido levando à consequente derrocada das estruturas nele erguidas.


O vídeo do twitter que se segue foi partilhado pelo porta-voz da Agência de Gestão de Desastres da Indonésia e mostra o fenómeno da liquefação do solo após o terramoto em Palu.


Balaroa

Fonte: Planet Labs

Segundo a agência nacional de resgate, no bairro de Balaroa em Palu cerca de 1.700 casas foram engolidas pelo solo que se transformou numa lama líquida.

Petobo

Imagens de satélite do distrito de Petobo, a sul do aeroporto de Palu, mostram outra grande área de edifícios que desapareceu.

Fonte: Planet Labs

“Quando se deram os abalos sísmicos, as camadas por baixo da superfície da terra tornaram-se lamacentas e soltas”, disse Sutopo Nugroho, porta-voz da Agência de Gestão de Desastres da Indonésia.

“A lama com um enorme volume de massa afogou e arrastou o complexo habitacional em Petobo, a maioria das casas foi absorvida. Estimamos que 744 unidades de casas estão lá (submersas).”

Imagens de Balaroa e Petobo revelam a escala dos danos. “Não sabemos quantas mais vítimas estarão ali soterradas. Estimamos que sejam centenas”, afirmou o porta-voz da Agência Nacional de Gestão de Desastres (BNPB).

Topo: Vista de topo do bairro de Balaroa. Hafidz Mubarak A - Antara Foto via Reuters Centro-esquerda:Beawiharta - Reuters / Centro-direita: Residentes de Balaroa- Beawiharta - Reuters Baixo: Pessoas caminham na estrada danificada de Petobo Muhammad Adimaja - Antara Foto via Reuters

Donggala

Donggala é uma região que se encontra a noroeste de Palu, onde os terramotos foram mais concentrados. Abrange uma área de mais de 300 km da costa de Celebes e tem uma população estimada em cerca de 300.000 habitantes. É uma área de difícil acesso, que ficou sem comunicações após os sismos e tsunami.

A Cruz Vermelha e vários membros do exército indonésio estão no terreno para garantir o fornecimento de alimentos e ajuda básica para a população.

Fontes: Planet Lab; Reuters

Um fenómeno habitual

A Indonésia assenta sobre o chamado Anel de Fogo do Pacífico, uma zona de grande atividade sísmica e vulcânica onde, em cada ano, se registam cerca de 7.000 terramotos, a maioria moderados e também tsunamis.

Foi nesta zona que ocorreu, em 2004, na ilha de Sumatra, um terramoto seguido de tsunami no Oceano Índico, que vitimou 226 mil pessoas.

Mais recentemente uma série de terramotos em Lombok em julho e agosto deste ano que mataram mais de 500 pessoas e deixaram 445.000 desalojados.

O mapa abaixo mostra os sismos os terramotos registados na Indonésia desde 1980, com magnitude igual ou superior a seis.

Fonte: USGS

Fontes: REUTERS GRAPHICS; USGS; Planet Labs; Google Maps; Blackwell Science Ltd.; "Bibliography of Indonesian Geology" / Edição: Andreia Martins e Sara Piteira - RTP