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Dia Mundial das Abelhas. Guerras, microplásticos e luzes citadinas ameaçam polinizadores

por Joana Raposo Santos - RTP
Os antibióticos utilizados na agricultura são outra das ameaças, tendo sido detetados nas colmeias e no mel. Foto: Toby Melville - Reuters

No Dia Mundial das Abelhas, os especialistas alertam que as guerras, os microplásticos e a iluminação noturna das cidades estão entre as ameaças à população deste inseto, crucial para a biodiversidade. A chave para estes problemas está nas mãos dos decisores políticos, alertam os autores do relatório publicado pela Universidade de Reading, no Reino Unido.

Os cientistas enumeraram, neste estudo, as 12 maiores ameaças às abelhas na próxima década. Entre elas estão guerras e conflitos globais, como a da Ucrânia, que obrigou os países a plantarem menos tipos de culturas, deixando os polinizadores sem alimentos diversificados.

Os investigadores descobriram ainda que as partículas de microplástico estão a contaminar as colmeias de abelhas em toda a Europa. Os testes realizados em 315 colónias de abelhas revelaram a presença de materiais sintéticos, como o plástico PET (politereftalato de etileno), na maioria das colmeias. Verificou-se também que a luz artificial dos candeeiros de rua reduz em 62 por cento as visitas às flores pelos polinizadores noturnos.

Os antibióticos utilizados na agricultura são outra das ameaças, tendo sido detetados nas colmeias e no mel. Segundo os cientistas, estes medicamentos afetam o comportamento dos polinizadores, reduzindo a sua procura por alimentos e as visitas às flores.

Os cocktails de pesticidas também representam um risco para estes insetos. Embora a regulamentação imponha que alguns pesticidas sejam usados dentro dos limites "seguros" para as abelhas e outros animais selvagens, a investigação descobriu que podem interagir com outros produtos químicos e causar efeitos perigosos.

Também a poluição está a afetar a sobrevivência, reprodução e crescimento das abelhas, assim como os incêndios florestais “maiores e mais frequentes, que destroem habitats e dificultam a sua recuperação”.Que soluções?
Identificar novas ameaças e encontrar formas de proteger os polinizadores atempadamente "é a chave para prevenir novos declínios”, explica Simon Potts, o principal autor do relatório intitulado “Ameaças Emergentes e Oportunidades para a Conservação dos Polinizadores Mundiais”.

“Não se trata apenas de uma questão de conservação. Os polinizadores são fundamentais para os nossos sistemas alimentares, a resiliência climática e a segurança económica. Proteger os polinizadores significa protegermo-nos a nós próprios”, alerta.

Segundo esta equipa de cientistas, o primeiro passo para proteger as abelhas é impor leis mais firmes para limitar a poluição com antibióticos que ameaçam a saúde destes insetos. Em segundo lugar surge a transição para veículos elétricos, de modo a reduzir a poluição atmosférica.

Seguem-se o “cultivo de culturas com pólen e néctar melhorados para uma melhor nutrição dos polinizadores”, a criação de habitats ricos em flores nos parques solares e o desenvolvimento de “tratamentos à base de RNAi (ácido ribonucleico), que atacam as pragas sem prejudicar os insetos benéficos”.

Proteger as abelhas sem ferrão - importantes para a polinização nos trópicos - através da criação de jardins urbanos, da reflorestação e da proteção dos habitats naturais é outra das soluções apontadas, assim como a utilização de Inteligência Artificial para ajudar a localizar os polinizadores.

As ações individuais, como fornecer alimentos e áreas de nidificação nos nossos próprios jardins, podem ajudar muito. No entanto, as mudanças políticas e as ações individuais têm de trabalhar em conjunto para que tudo, desde jardins e quintas a espaços públicos e paisagens mais amplas, possa tornar-se habitats favoráveis aos polinizadores”, defende Deepa Senapathi, coautora do estudo.
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