Dia Nacional da China. Confrontos violentos espalham-se por Hong Kong

por Cristina Sambado - RTP
No discurso do 70.º aniversário da República Popular da China, o Presidente Xi Jinping destacou a unidade, desenvolvimento e força do país Jorge Silva - Reuters

A polícia de Hong Kong e manifestantes pró-democracia envolveram-se em confrontos nos distritos mais próximos da fronteira com a China interior. As autoridades policiais acusam os manifestantes de usarem um líquido corrosivo que queimou a pele de agentes e jornalistas. Esta terça-feira a China celebra o 70.º aniversário da República Popular.

O maior protesto ocorreu na ilha de Hong Kong e juntou dezenas de milhares de pessoas, mas os episódios de violência ocorreram a norte do território, onde, com o encerramento de 28 estações de metropolitano, a suspensão de transportes públicos e bloqueios nas estradas pelas autoridades, muitos ficaram impedidos de participar na maior manifestação, que já tinha sido proibida pela polícia.

Luís Baila - RTP

Os milhares de manifestantes, vestidos de preto, em “luto” pela liberdade, ergueram barricadas que paralisaram o trânsito. E apesar de a polícia ter proibido manifestações no dia em que se assinalam os 70 anos da República Popular da China, multiplicaram-se os apelos para a população de Hong Kong saísse de novo à rua para exigir reformas democráticas no território.

Nas redes sociais multiplicam-se as imagens de incidentes.
No distrito de Tsuen Wan, um homem ficou ferido depois de ter sido atingido a tiro. Esta não é a primeira vez que a polícia de Hong Kong dispara para o ar, mas é a primeira vez que atinge um manifestante. Durante toda a tarde, o centro da ilha de Hong Kong foi sobrevoado por um helicóptero da polícia, que seguiu o maior protesto, com as autoridades policiais a posicionarem-se ao longo do trajeto.

Segundo a polícia, “os manifestantes usaram líquido corrosivo na área de Tuen Mun, ferindo vários polícias e jornalistas”.
Na rede social Twitter, a publicação é acompanhada com várias imagens do corpo de polícias, nas quais é possível ver queimaduras na pele e fardas.

“A polícia condena vivamente os atos violentos e apela à população para que salvaguarde a sua segurança pessoal”, lê-se na mesma publicação.

A polícia apelou ainda para que todas as pessoas que se encontrem no local se retirem.
“Se necessário devem manter as janelas fechadas e permanecer em ambientes fechados”, acrescentaram as forças de segurança numa outra publicação.

Em Yau Ma tei, há relatos de disparos efetuados pela polícia, enquanto em Wong Tai Sin as autoridades recorreram a gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes.

Também em Sha Tin foi utilizado gás lacrimogéneo e em Tsuen Wan o cenário é o mesmo, com confrontos abertos com a polícia ou com os manifestantes a erguerem barricadas.

Nas ruas, entre bandeiras chinesas, e ao som do hino “Glory to Hong Kong”, boa parte da população de Hong Kong fazia questão de pisar fotografias do Presidente chinês, Xi Jinping, e da chefe do Governo de Hong Kong, Carrie Lam, que tinham sido estrategicamente coladas ao longo da estrada.

Crise política começou em junho
Hong Kong enfrenta, há cerca de quatro meses, a mais grave crise política desde a transferência da soberania da antiga colónia britânica para a China, em 1997, com ações e manifestações quase diárias contra o Governo.No discurso do 70.º aniversário da República Popular da China, o Presidente Xi Jinping destacou a unidade, desenvolvimento e força do país. “Não há força que possa abalar os alicerces desta grande nação”, afirmou no topo da Praça Tiananmen.

A Frente Cívica de Direitos Humanos foi responsável pelas manifestações que levaram à rua, segundos dados da organização contestados pela polícia, um milhão de pessoas a 9 de junho, dois milhões a 16 de junho e 1,7 milhões a 18 de agosto, sendo que esta última havia também sido proibida pela polícia.

O Governo de Hong Kong retirou já formalmente a polémica proposta de emendas à lei da extradição, na base da contestação social desde o início de junho.

Contudo, os manifestantes continuam a exigir que o Governo responda a quatro outras reivindicações: a libertação dos manifestantes detidos, que as ações dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial e, finalmente, a demissão da chefe de Governo e consequente eleição por sufrágio universal para este cargo e para o Conselho Legislativo, o Parlamento de Hong Kong.

A transferência da soberania de Hong Kong para a República Popular da China, em 1997, decorreu sob o princípio "um país, dois sistemas".

Tal como acontece com Macau, para aquela região administrativa especial chinesa foi acordado um período de 50 anos com elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judicial, com o Governo central chinês a ser responsável pelas relações externas e defesa.

c/ Lusa
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