Dissidente chinês Chen Guangcheng vai poder viajar para os EUA

A China concordou em conceder “o mais depressa possível” documentos de viagem ao dissidente chinês Chen Guangchen, que esteve, durante cinco dias, refugiado na embaixada dos Estados Unidos em Pequim . A decisão, anunciada sexta-feira pelo Departamento de Estado dos EUA, poderá representar um ponto final ao imbróglio diplomático que se criou entre Washington e Pequim depois de o ativista cego ter escapado à prisão domiciliária e procurado refugio na representação americana. À beira do fim poderá também estar a polémica do alegado “acordo voluntário” que levou Chen a deixar as instalações diplomáticas.

RTP /
A apoiantes de Chen acusam os EUA de terem feito tudo para que este aceitasse deixar a embaixada. Washigton desmente Embaixada dos EUA em Pequim, EPA

O pretexto que permite a ambos os lados “salvar a face” é o de permitir a Chen Guangchen “ir estudar para o estrangeiro”. A porta-voz do Departamento de Estado, Victória Nuland disse que os Estados Unidos vão fornecer rapidamente um visto a Chen e à sua família, depois de o dissidente ter solicitado ir para os EUA para continuar os seus estudos.

O Departamento de Estado conformou que Chen recebeu a oferta de uma bolsa de estudo numa universidade americana que lhe permitirá levar consigo a sua mulher e dois filhos.
Hillary Clinton saúda decisão chinesa
Hillary Clinton considerou "um progresso" a decisão chinesa de permitir a Chen viajar para o exterior e disse-se “encorajada” mas não forneceu pormenores sobre sobre as negociações nem sobre o calendário da eventual partida do ativista político chinês.

A Secretária de Estado norte-americana confirmou que o embaixador dos EUA na China, Gery Locke, tinha falado novamente com o dissidente na sexta-feira ao final da manhã  e que este tinha confirmado a decisão de seguir para os EUA.

O caso Chen Guangchen acabou por ensombrar os dois dias de “diálogo estratégico e económico”, entre os Estados Unidos e a China em que participou Hillary Clinton.

Depois dos protestos chineses em torno da presença do dissidente na embaixada americana, Chen Guangchen acabou por sair das representações diplomáticas, ao abrigo de um acordo com as autoridades chinesas que devia garantir a sua segurança na China.
Pressionado a sair?
No entanto, o advogado do ativista diz que este apenas aceitou deixar as instalações depois de tomar conhecimento de ameaças oficiais contra a sua mulher e família. Inicialmente apostado em permanecer no seu país, o advogado autodidata cego passou a expressar publicamente o seu desejo de partir para o estrangeiro por recear pela sua segurança.

Do hospital de Pequim para onde foi encaminhado, queixou-se às agencias internacionais de ter sido pressionado pelos Estados Unidos a aceitar a contragosto o acordo com as autoridades chinesas para evitar embaraços nas relações entre os EUA e a China e, numa entrevista concedida esta manhã, disse sentir-se “em grande perigo”.

De caminho manifestou-se muito inquieto com a segurança da sua mãe e filha, que permanecem na sua aldeia natal de Shandong, e dos quais disse não ter notícias.
"A minha situação é muito crítica"
“A minha mulher saiu esta manhã mas foi seguida e filmada” em Pequim. Penso que há grandes problemas porque não consegui chegar á fala com responsáveis da embaixada dos Estados Unidos e já não vejo nenhum deles desde quarta-feira”, explicou à France Press.

“A minha situação é muito crítica” disse Chen Guangndong, que acrescentou esperar que o governo de Pequim respeite os compromissos assumidos com os EUA  para “garantir os seus direitos de cidadão”.

A esposa do dissidente afirmou entretanto à France Press que, um advogado chinês que se tinha deslocado ao hospital para demonstrar o seu apoio, foi levado à força dali pelas autoridades e espancado de tal forma que “se encontra agora surdo de um ouvido e não ouve quase nada do outro”.

Chen Guangcheng é considerado um campeão da luta contra a política oficial de abortos forçados na China. Uma luta que lhe valeu ser colocado em prisão domiciliária, da qual se evadiu na semana passada, sob o nariz de dezenas de guardas e agentes destacados para o vigiar.
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