Divulgados documentos secretos sobre abusos da CIA dos anos 1950 a 1970
A agência de informações norte-americana CIA desclassificou os documentos conhecidos como "jóias de família", que pormenorizam alguns dos piores abusos perpetrados pela agência entre os anos 1950 e 1970.
Entre as 693 páginas de documentos desclassificados conta-se a descrição de como a agência de espionagem pretendeu utilizar um membro da máfia, Johnny Roselli, numa tentativa de assassínio do presidente cubano, Fidel Castro, em 1960.
Segundo os textos, Roselli "inicialmente não quis envolver-se, mas mostrou-se de acordo em apresentar o projecto a um amigo, Sam Gold, que conhecia pessoas cubanas".
"Roselli deixou claro que não queria dinheiro em troca da sua intervenção e pensava que Sam faria o mesmo. Nenhum deles recebeu dinheiro de fundos da Agência", referem os documentos.
Gold, por sua vez, sugeriu que Castro fosse assassinado misturando-lhe veneno na comida ou na bebida, mas, quando o projecto se encontrava em fase de reparação, foi suspenso devido ao malogro do episódio da Baía dos Porcos, em Abril de 1961.
Outras actividades reveladas pelos documentos incluem a detenção numa cela especialmente construída, tendo por único mobiliário uma cama, de um desertor da KGB, Iuri Ivanovitch Nosenko, entre Agosto de 1965 e Outubro de 1967.
Além disso, são descritas as perseguições a supostos dissidentes e a investigação de dois jornalistas de Washington suspeitos de difundirem informação secreta recebida de "uma série de fontes do governo e do Congresso", entre Março e Junho de 1963.
Entre os documentos agora divulgados há também referências a experiências com drogas da alteração da mente e do comportamento em indivíduos usados como cobaias involuntárias, a espionagem de manifestantes pelos direitos civis e contra a guerra do Vietname, a abertura de correio entre os Estados Unidos e a União Soviética e a China, ou buscas a casas de antigos funcionários da CIA.
Estes textos foram escritos há 30 anos, quando o então director da CIA, James Schlesinger, pediu aos seus funcionários - numa das cartas hoje desclassificadas - que pormenorizassem "qualquer actividade que esteja a ocorrer, ou que tenha ocorrido, que se possa interpretar como violadora da carta legislativa da agência".
O actual director da CIA, general Michael Hayden, adiantou na passada semana que a agência desclassificaria os documentos que dão conta das suas actividades ilegais ordenadas então por Schlesinger, em 1973.
As chamadas "jóias de família" trazem a lume "tempos muito diferentes e uma agência muito diferente", explicou Hayden, admitindo que quando o governo oculta informação, as conjecturas costumam "preencher o vazio" informativo.
Segundo os Arquivos de Segurança Nacional, um centro de estudos da Universidade George Washington, trata-se da primeira "desclassificação voluntária de materiais controversos" pela CIA desde que, em 1998, o então director da agência, George Tenet, não cumpriu a promessa de divulgar dados sobre as suas operações durante a Guerra Fria.
Até agora, apenas um punhado de documentos destes arquivos secretos da CIA, altamente censurados, tinha sido desclassificado.