Documentos apresentados por presidente do Senado brasileiro acusado de corrupção não provam inocência

Os documentos apresentados pelo presidente do senado brasileiro, Renan Calheiros, a pedido do corregedor do senado Romeu Tuma, na sequência do escândalo de corrupção que o envolve, não comprovaram a sua inocência, noticia hoje a imprensa brasileira.

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Os documentos destinavam-se a comprovar que o senador pagou com os seus próprios recursos a pensão à sua ex-mulher, de quem tem uma filha, mas não esclarecem a origem do dinheiro utilizado antes de 2005.

No seu discurso no Senado, Renan alegou ter pago à ex-mulher uma pensão durante a sua gravidez e até ao final de 2005, sem que tivesse apresentado documentos que esclareçam a origem desse dinheiro.

Nas 34 páginas de documentos apresentadas também não há menção da pensão mensal que o político diz pagar à filha desde o seu nascimento, bem como do aluguer do apartamento que mantinha para a ex-mulher.

O senador Renan Calheiros fez, segunda-feira no Senado, um discurso de 23 minutos, no qual, além de apresentar estes documentos, pediu desculpa à família e classificou de "ignominias" as acusações que lhe foram feitas.

Apesar do sentimento de satisfação que o discurso provocou nos membros do Senado, o corregedor Romeu Tuma, que havia solicitado a documentação a Renan, avisou que ainda pretende investigar a fundo as denuncias contra o presidente.

Tuma afirmou também que pretende ouvir algumas pessoas e que a partir daí terá 30 dias para preparar um relatório sobre o caso, e que se for necessária a instauração de um processo, terá que haver uma comissão nomeada para o efeito.

"Entregarei o meu relatório à mesa directora. A decisão não é minha", explicou o corregedor.

Também na sequência do discurso de defesa proferido por Renan, o advogado da sua ex-mulher já desmentiu algumas das declarações feitas pelo político.

Pedro Calmon Filho, advogado da jornalista Mônica Veloso, com quem o político foi casado, negou a versão apresentada por Renan, de que teria criado um fundo para a educação da filha dos dois.

De acordo com o advogado, o pagamento destinava-se exclusivamente a colmatar perdas monetárias na pensão de alimentos habitualmente paga.

"Não existe um fundo para a educação ou cultura da menina. O pagamento foi feito para complementar os valores de pensão alimentícia", esclareceu o advogado.

Remetendo para as acusações da revista Veja, Pedro Filho confirmou que o dinheiro era entregue por Cláudio Gontijo, alegado contacto do político dentro da empresa de construção civil Mendes Júnior, que terá corrompido o presidente do Senado.

Segundo o advogado, o dinheiro era entregue à jornalista, em mão, no escritório da empresa de obras Mendes Júnior.

"Quem fazia (o pagamento) era o Cláudio Gontijo e era rigorosamente da forma que foi relatada pela revista Veja", disse.

O escândalo de corrupção surgiu quando Renan Calheiros foi acusado pela revista Veja de ter recebido recompensas da empresa de construção brasileira Mendes Júnior, tendo negado imediatamente todas as acusações.

O seu discurso de esclarecimentos no Senado ficou marcado por uma acção de solidariedade por parte dos senadores e líderes partidários, que, pela primeira vez, fizeram fila para abraçar o senador, quando este acabou de discursar.

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