Documentos lançam dúvidas sobre presidente do Senado brasileiro
Os documentos apresentados pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, na tentativa de provar que não recebeu recompensas de uma empresa de construção, ainda deixam dúvidas sobre a sua inocência, escreve a edição desta semana da revista Época.
Segundo recentes denúncias divulgadas pela imprensa brasileira, a construtora Mendes Júnior, uma das mais importantes empresas brasileiras de construção, teria pago a renda de um apartamento para Renan Calheiros, em Brasília.
A renda do apartamento e uma pensão mensal de cerca de 4.500 euros foram pagos à amante do senador, a jornalista Mônica Veloso, com quem Renan tem uma filha de três anos.
Renan Calheiros está actualmente no centro de um grande escândalo político, após investigações da Polícia Federal terem revelado um esquema milionário de desvio de recursos públicos por meio de fraudes em obras, no âmbito da chamada Operação Navalha.
As investigações levaram à detenção temporária de 47 políticos famosos, empresários e funcionários públicos, suspeitos de participação no mesmo esquema, além da demissão do ministro das Minas e Energia.
Silas Rondeau pediu demissão do cargo depois que a Polícia apresentou imagens do serviço de segurança do próprio ministério que mostram entrada de uma emissária da quadrilha com um pacote, supostamente com 38,5 mil euros, para pagar a propina ao ministro.
Renan Calheiros negou todas as acusações de envolvimento com a Mendes Júnior, e apresentou documentos que supostamente provariam que, entre Janeiro de 2003 e Dezembro de 2006, utilizou recursos próprios para pagamento da renda e da pensão da filha.
A revista Época, que teve acesso à documentação, salientou que os documentos mostram que em apenas seis dos 21 meses do período houve levantamentos de dinheiro superiores ao valor de 4.500 euros, nos dias anteriores ao pagamento à jornalista.
Para que a versão de Renan Calheiros seja verdadeira seria necessário acreditar que senador tem o costume de levantar dinheiro e guardá-lo em casa para utilização posterior.
"Nas outras 15 vezes, os documentos mostram que, embora ele (o senador) não tenha levantado dinheiro suficiente nos cinco dias anteriores ao pagamento da pensão, ele poderia ter usado recursos levantados em outras datas", escreveu a revista.
Entre os documentos, estão ainda dois recibos que comprovam o recebimento, por Mônica, de duas parcelas de 19.230 euros para a constituição de um fundo para a educação da filha.
Os recibos, entretanto, não provam que o dinheiro saiu da conta bancária do senador, que poderia ter feito os pagamentos através de transferências electrónicas e não espécie, como foi feito, o que levanta suspeitas.
O documento que comprava o pagamento de uma renda de 16.615 euros de uma casa, onde a jornalista teria morado com a filha, num bairro nobre de Brasília, também não prova a origem dos recursos.
A reportagem questionou de onde o senador teria levantado tanto dinheiro, uma vez que o salário de senador é de 4.807 euros por mês.
O senador argumentou que obteve rendimentos com a venda de cabeças de gado, mas os valores desse suposto rebanho não constam das declarações de património apresentadas anualmente às autoridades.
Os documentos apresentados estão a ser analisados por uma comissão do Senado que decidirá, ainda sem data definida, se abrirá ou não processo por quebra de decoro parlamentar contra Renan Calheiros.