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Doença de Alzheimer causada por proteína infecciosa
Um artigo publicado na edição desta semana da revista Proceedings of the National Academy of Sciences, assinado por Stanley Prusiner, vencedor do Prémio Nobel para a Fisiologia ou Medicina em 1997 "pela sua descoberta dos priões - um novo princípio biológico de infecção", afirma que, tal como a doença das vacas loucas, a doença de Alzheimer é causada por uma proteína infecciosa ou prião. Identificar a causa e o processo de infeção representa um passo no sentido da descoberta da cura.
Embora existam famílias onde a doença de Alzheimer é hereditária, 90 por cento dos casos não têm causa identificada. O norte-americano Stanley Prusiner e sete colegas do Instituto de Doenças Neurodegenerativas e dos Departamentos de Patologia, Neurologia e Química da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, concentraram a sua investigação, nos útlimos anos, na averiguação destas causas.
Prusiner, neurologista e bioquímico, é atualmente diretor do Instituto de Doenças Neurodegenerativas da Universidade da Califórnia.
Foi o primeiro a teorizar a existência dos priões e mostrou que os priões derivados de uma proteína normalmente presente no cérebro, chamada PrP, eram os agentes causadores de encefalopatias espongiformes como a doença das vacas loucas ou a doença de Creutzfeldt-Jakob, descoberta que acabou por lhe valer o Prémio Albert Lasker para a Pesquisa Médica Básica, em 1994, e o Prémio Nobel da Fisiologia ou Medicina em 1997.
“Acreditamos que a agregação e deposição de péptidos beta-amilóides [moléculas formadas pela ligação de dois ou mais aminoácidos] são os eventos centrais na patogénese da doença de Alzheimer”. Esta conclusão, relatada no artigo Purified and synthetic Alzheimer’s amyloid beta (Aβ) prions, implica que, tal como a doença das vacas loucas, a doença de Alzheimer é causada por uma proteína infecciosa ou prião.
Estes cientistas desenvolveram uma técnica que permite visualizar, com um composto fluorescente, os níveis de agregados de beta-amilóide presentes no cérebro de ratos de laboratório, permitindo fazer um estudo da ação e desenvolvimento destas proteínas que levou a equipa de investigação a acreditar que “[estes] agregados são capazes de auto-propagação e, portanto, pode ser priões”.
A doença de Alzheimer caracteriza-se, em particular, pela formação de placas no cérebro, cujo principal ingrediente será esta proteína beta-amilóide, que forma moléculas tóxicas à volta dos neurónios. Prusiner e a sua equipa procuravam provar que estas moléculas tóxicas são priões que agem como partículas infecciosas que se propagam no cérebro para dar origem à doença.
"Os nossos resultados fornecem provas irrefutáveis de que os agregados beta-amilóides são priões e que a formação de priões de beta-amilóide não requer qualquer outra proteína ou fator adicional", lê-se no artigo publicado na edição desta semana da revista Proceedings of the National Academy of Sciences, submetido pelo Nobel da Medicina a 24 de abril deste ano. "A formação e propagação de priões beta-amilóides representam um dos acontecimentos mais precoces no desenvolvimento da doença de Alzheimer", acrescenta o autor.
A partir deste estudo será possível “criar um paradigma experimental que leve à identificação das conformações de auto-propagação dos péptidos beta-amilóides, que podem representar novos alvos para interromper a disseminação da deposição [dos mesmos] em pacientes com doença de Alzheimer”.

Mapa: Prevalência de Alzheimer e outras demências por 100.000 habitantes, em 2004 (Wikimedia Commons). Segundo um estudo da Harvard Medical School, 40 por cento das pessoas com mais de 85 anos têm Alzheimer, sendo uma doença mais comum nos países mais desenvolvidos, onde a esperança média de vida é superior.
Os priões são agentes infecciosos compostos por proteínas que possuem uma configuração anormal, uma vez que não possuem ácidos nucleicos, presentes em todas as células vivas, incluindo todos os demais agentes infecciosos conhecidos (vírus, bactérias, fungos e parasitas). A experiência que levou à publicação destes resultados científicos incluiu a injecção de agregados beta-amilóides em ratos de laboratório, de forma a desencadear a formação de depósitos beta-amilóides nos seus cérebros.
Centenas de doentes com Alzheimer ligeiro a moderado receberam injecções de proteína beta-amilóide sintética, há dez anos, no âmbito de um ensaio clínico nos EUA de imunização contra a formação destes depósitos.
Os autores deste artigo temem agora que esse tratamento experimental tenha acelerado a progressão fatal da doença em vez de a travar.
Ao penetrarem no cérebro dos mamíferos (incluindo nos dos seres humanos), os priões são capazes de "criar adeptos", fazendo com que as células normais adotem a mesma deficiência, debilitando o tecido cerebral.
A comunidade científica fica agora à espera de um estudo independente que prove se os depósitos amilóides são a causa ou apenas uma consequência da doença de Alzheimer, mas os autores do artigo garantem que esta descoberta veio "facilitar a identificação de alvos terapêuticos de forma a desenvolver intervenções eficazes" no tratamento da doença.
Apesar de esta investigação concluir que, tal como a doença das vacas loucas, o Alzheimer pode ser de origem infecciosa, "actualmente não existem indícios de que a doença de Alzheimer seja infecciosa no sentido de ser transmissível entre seres humanos".
Prusiner, neurologista e bioquímico, é atualmente diretor do Instituto de Doenças Neurodegenerativas da Universidade da Califórnia.
Foi o primeiro a teorizar a existência dos priões e mostrou que os priões derivados de uma proteína normalmente presente no cérebro, chamada PrP, eram os agentes causadores de encefalopatias espongiformes como a doença das vacas loucas ou a doença de Creutzfeldt-Jakob, descoberta que acabou por lhe valer o Prémio Albert Lasker para a Pesquisa Médica Básica, em 1994, e o Prémio Nobel da Fisiologia ou Medicina em 1997.
“Acreditamos que a agregação e deposição de péptidos beta-amilóides [moléculas formadas pela ligação de dois ou mais aminoácidos] são os eventos centrais na patogénese da doença de Alzheimer”. Esta conclusão, relatada no artigo Purified and synthetic Alzheimer’s amyloid beta (Aβ) prions, implica que, tal como a doença das vacas loucas, a doença de Alzheimer é causada por uma proteína infecciosa ou prião.
Estes cientistas desenvolveram uma técnica que permite visualizar, com um composto fluorescente, os níveis de agregados de beta-amilóide presentes no cérebro de ratos de laboratório, permitindo fazer um estudo da ação e desenvolvimento destas proteínas que levou a equipa de investigação a acreditar que “[estes] agregados são capazes de auto-propagação e, portanto, pode ser priões”.
A doença de Alzheimer caracteriza-se, em particular, pela formação de placas no cérebro, cujo principal ingrediente será esta proteína beta-amilóide, que forma moléculas tóxicas à volta dos neurónios. Prusiner e a sua equipa procuravam provar que estas moléculas tóxicas são priões que agem como partículas infecciosas que se propagam no cérebro para dar origem à doença.
"Os nossos resultados fornecem provas irrefutáveis de que os agregados beta-amilóides são priões e que a formação de priões de beta-amilóide não requer qualquer outra proteína ou fator adicional", lê-se no artigo publicado na edição desta semana da revista Proceedings of the National Academy of Sciences, submetido pelo Nobel da Medicina a 24 de abril deste ano. "A formação e propagação de priões beta-amilóides representam um dos acontecimentos mais precoces no desenvolvimento da doença de Alzheimer", acrescenta o autor.
A partir deste estudo será possível “criar um paradigma experimental que leve à identificação das conformações de auto-propagação dos péptidos beta-amilóides, que podem representar novos alvos para interromper a disseminação da deposição [dos mesmos] em pacientes com doença de Alzheimer”.
Mapa: Prevalência de Alzheimer e outras demências por 100.000 habitantes, em 2004 (Wikimedia Commons). Segundo um estudo da Harvard Medical School, 40 por cento das pessoas com mais de 85 anos têm Alzheimer, sendo uma doença mais comum nos países mais desenvolvidos, onde a esperança média de vida é superior.
Os priões são agentes infecciosos compostos por proteínas que possuem uma configuração anormal, uma vez que não possuem ácidos nucleicos, presentes em todas as células vivas, incluindo todos os demais agentes infecciosos conhecidos (vírus, bactérias, fungos e parasitas). A experiência que levou à publicação destes resultados científicos incluiu a injecção de agregados beta-amilóides em ratos de laboratório, de forma a desencadear a formação de depósitos beta-amilóides nos seus cérebros.
Centenas de doentes com Alzheimer ligeiro a moderado receberam injecções de proteína beta-amilóide sintética, há dez anos, no âmbito de um ensaio clínico nos EUA de imunização contra a formação destes depósitos.
Os autores deste artigo temem agora que esse tratamento experimental tenha acelerado a progressão fatal da doença em vez de a travar.
Ao penetrarem no cérebro dos mamíferos (incluindo nos dos seres humanos), os priões são capazes de "criar adeptos", fazendo com que as células normais adotem a mesma deficiência, debilitando o tecido cerebral.
A comunidade científica fica agora à espera de um estudo independente que prove se os depósitos amilóides são a causa ou apenas uma consequência da doença de Alzheimer, mas os autores do artigo garantem que esta descoberta veio "facilitar a identificação de alvos terapêuticos de forma a desenvolver intervenções eficazes" no tratamento da doença.
Apesar de esta investigação concluir que, tal como a doença das vacas loucas, o Alzheimer pode ser de origem infecciosa, "actualmente não existem indícios de que a doença de Alzheimer seja infecciosa no sentido de ser transmissível entre seres humanos".