Mundo
Dois brancos condenados por assassínio de negro em 1993
Gary Dobson e David Norris foram sentenciados a prisão perpétua, por um Tribunal de Londres. Os dois homens foram condenados após nova análise forense de provas recolhidas há 18 anos, quando o crime foi cometido. Na altura, um grupo de cinco rapazes brancos atacou e esfaqueou mortalmente um adolescente negro, Stephen Lawrence, por racismo. A investigação policial que se seguiu foi negligente mas a família Lawrence não desistiu de exigir justiça e, agora, dois dos cinco responsáveis vão pagar pelo crime.
O Juiz que pronunciou a sentença, Colman Treacy, disse que este foi "um crime terrível e perverso", "um assassínio que marcou a consciência da nação".
O Comissário da Scotland Yard Bernard Hogan-Howe afirmou por seu lado que os restantes três membros do grupo que assassinou Stephens "não devem dormir descansados".
O caso Stephens mudou as relações raciais na Grã-Bretanha, quando, em 1999, um Juíz de um tribunal superior, William Macpherson, afirmou que o assassínio tinha exposto o "racismo institucional" da polícia londrina e acusou os agentes de incompetência e de falha de liderança.
Dobson, de 36 anos e Norris, de 35, foram ontem considerados culpados do assassínio de Lawrence após um julgamento de seis semanas que analisou novas provas científicas apresentadas pelos procuradores.
Ambos tiveram de ser julgados e sentenciados como menores de 18 anos - a idade que tinham quando o crime foi cometido, a 22 de Abril de 1993. Condenados a prisão perpétua, ambos terão de cumprir um período mínimo de prisão, 14 anos e três meses, no caso de Norris e 15 anos e dois meses, no caso de Dobson.
Ao pronunciar a sentença, o juiz Treacy lamentou não poder ser mais severo e afirmou não haver motivo para atenuantes pois nenhum dos dois mostrou arrependimento, além de ambos conhecerem "a rua" e nenhum ser imaturo, na altura do crime.
Nova investigação forense
Em 2007, uma nova reavaliação forense dos vestígios do assassínio recorreu a análises impossíveis em 1993. Estas encontraram uma gota de sangue num casaco de Dobson e um cabelo nas calças de ganga de Norris.
Stephen Lawrence foi assassinado numa paragem de autocarro em Eltham, no sudoeste de Londres.
Sem provocação, um grupo de cinco adolescentes brancos rodeou-o, num ataque coordenado, de contornos racistas. Stephen acabou por ser esfaqueado mortalmente, na presença de um outro rapaz negro, Duwayne Brooks, amigo de Stephen.
Dois dos membros desse gang eram Dobson e Norris. A sua presença na ocasião ficou provada por provas residuais de sangue e cabelo deixadas nas suas roupas, na altura apreendidas pela polícia e guardadas como provas.
Análises ao ADN provaram que ambos os vestígios pertenciam ao jovem negro assassinado.
Os dois homens afirmam-se inocentes e a sua defesa alegou que as roupas tinham sido "contaminadas" quando a polícia misturou as provas. Mas os detetives passaram meses a reconstruir os factos e acabaram por provar ao júri que a alegada "contaminação" era inverosímil.
O Juiz Treacy cumprimentou o novo trabalho da polícia, afirmando que redimiu a anterior investigação. Dirigindo-se aos dois acusados, Treacy acrescentou que apesar das provas não puderem provar quem esfaqueou Stephen, ambos aprovaram a ação do assassino. "Não interessa se não foram vocês quem empunhou a faca".
"Tenho a certeza que vocês sabiam que um do vosso grupo tinha a faca. E o senhor (referindo-se a Dobson) mentiu repetidas vezes por lealdade de grupo", acrescentou o juíz.
Julgado duas vezes pelo mesmo crime
Em 1993, a polícia deteve Dobson, Norris e três outros suspeitos nos meses após o assassínio, mas os Procuradores da Coroa desistiram do caso, alegando que o depoimento de uma testemunha-chave era duvidoso. Estudos recentes demonstram que um negro tem uma probablidade de ser detido e revistado nas ruas de Londres oito vezes superiores à de um branco.
Depois, disseram que novas provas apresentadas pelo advogado da família Lawrence não eram suficientes para uma nova acusação.
Em 1996 a família Lawrence levou ela própria a tribunal três dos acusados, entre os quais Dobson, mas esse julgamento inocentou-os. Um inquérito levou depois ao veredicto de assassínio "num ataque de cinco jovens, não provocado e absolutamente racista", até que em 1999 um novo inquérito público ao caso acabou por expôr a Polícia Metropolitana de Londres como institucionalmente racista.
O caso Lawrence levou também a justiça britânica a anular em 2005 a proibição de alguém poder ser julgado por um mesmo crime duas vezes. Foi ao abrigo dessa nova legislação que, em Maio de 2011, o Tribunal de Apelo indeferiu a inocência de Dobson declarada em 1996, tornando possível este novo julgamento.
O Comissário da Scotland Yard Bernard Hogan-Howe afirmou por seu lado que os restantes três membros do grupo que assassinou Stephens "não devem dormir descansados".
O caso Stephens mudou as relações raciais na Grã-Bretanha, quando, em 1999, um Juíz de um tribunal superior, William Macpherson, afirmou que o assassínio tinha exposto o "racismo institucional" da polícia londrina e acusou os agentes de incompetência e de falha de liderança.
Dobson, de 36 anos e Norris, de 35, foram ontem considerados culpados do assassínio de Lawrence após um julgamento de seis semanas que analisou novas provas científicas apresentadas pelos procuradores.
Ambos tiveram de ser julgados e sentenciados como menores de 18 anos - a idade que tinham quando o crime foi cometido, a 22 de Abril de 1993. Condenados a prisão perpétua, ambos terão de cumprir um período mínimo de prisão, 14 anos e três meses, no caso de Norris e 15 anos e dois meses, no caso de Dobson.
Ao pronunciar a sentença, o juiz Treacy lamentou não poder ser mais severo e afirmou não haver motivo para atenuantes pois nenhum dos dois mostrou arrependimento, além de ambos conhecerem "a rua" e nenhum ser imaturo, na altura do crime.
Nova investigação forense
Em 2007, uma nova reavaliação forense dos vestígios do assassínio recorreu a análises impossíveis em 1993. Estas encontraram uma gota de sangue num casaco de Dobson e um cabelo nas calças de ganga de Norris.
Stephen Lawrence foi assassinado numa paragem de autocarro em Eltham, no sudoeste de Londres.
Sem provocação, um grupo de cinco adolescentes brancos rodeou-o, num ataque coordenado, de contornos racistas. Stephen acabou por ser esfaqueado mortalmente, na presença de um outro rapaz negro, Duwayne Brooks, amigo de Stephen.
Dois dos membros desse gang eram Dobson e Norris. A sua presença na ocasião ficou provada por provas residuais de sangue e cabelo deixadas nas suas roupas, na altura apreendidas pela polícia e guardadas como provas.
Análises ao ADN provaram que ambos os vestígios pertenciam ao jovem negro assassinado.
Os dois homens afirmam-se inocentes e a sua defesa alegou que as roupas tinham sido "contaminadas" quando a polícia misturou as provas. Mas os detetives passaram meses a reconstruir os factos e acabaram por provar ao júri que a alegada "contaminação" era inverosímil.
O Juiz Treacy cumprimentou o novo trabalho da polícia, afirmando que redimiu a anterior investigação. Dirigindo-se aos dois acusados, Treacy acrescentou que apesar das provas não puderem provar quem esfaqueou Stephen, ambos aprovaram a ação do assassino. "Não interessa se não foram vocês quem empunhou a faca".
"Tenho a certeza que vocês sabiam que um do vosso grupo tinha a faca. E o senhor (referindo-se a Dobson) mentiu repetidas vezes por lealdade de grupo", acrescentou o juíz.
Julgado duas vezes pelo mesmo crime
Em 1993, a polícia deteve Dobson, Norris e três outros suspeitos nos meses após o assassínio, mas os Procuradores da Coroa desistiram do caso, alegando que o depoimento de uma testemunha-chave era duvidoso. Estudos recentes demonstram que um negro tem uma probablidade de ser detido e revistado nas ruas de Londres oito vezes superiores à de um branco.
Depois, disseram que novas provas apresentadas pelo advogado da família Lawrence não eram suficientes para uma nova acusação.
Em 1996 a família Lawrence levou ela própria a tribunal três dos acusados, entre os quais Dobson, mas esse julgamento inocentou-os. Um inquérito levou depois ao veredicto de assassínio "num ataque de cinco jovens, não provocado e absolutamente racista", até que em 1999 um novo inquérito público ao caso acabou por expôr a Polícia Metropolitana de Londres como institucionalmente racista.
O caso Lawrence levou também a justiça britânica a anular em 2005 a proibição de alguém poder ser julgado por um mesmo crime duas vezes. Foi ao abrigo dessa nova legislação que, em Maio de 2011, o Tribunal de Apelo indeferiu a inocência de Dobson declarada em 1996, tornando possível este novo julgamento.