"É só o princípio". Presidente Joe Biden esquece promessas e sanciona Cuba

por Graça Andrade Ramos - RTP
Joe Biden, Presidente dos EUA, na Casa Branca a 22 de julho de 2021 Reuters

O ministro da Defesa e uma unidade especial das forças de segurança cubanas foram sancionados pelos Estados Unidos após a repressão dos protestos anti-governamentais do início do mês, anunciou o Departamento do Tesouro norte-americano.

Isto é somente o princípio”, ameaçou depois o presidente Joe Biden num comunicado. “Os Estados Unidos irão continuar a sancionar indivíduos responsáveis pela opressão do povo cubano”, garantiu.

Os Estados Unidos estão "ao lado daqueles que saíram à rua para protestar contra os 62 anos de repressão de um regime comunista" de forma “pacífica e pela democracia”, sublinhou Biden. O agravamento do pacote de sanções decidido pela Administração é diametralmente oposto a promessas de desanuviamento feitas pelo democrata Joe Biden durante a campanha presidencial do ano passado. Ocorre em simultâneo com apelos dos representantes dos Estados Unidos e da comunidade cubana no país para que o presidente demonstre maior apoio aos manifestantes.

Há uma semana, milhares de cubanos saíram à rua em protestos espontâneos contra o Governo comunista, a clamar por “liberdade” e a denunciar uma crise económica que impõe escassez de produtos básicos e cortes de energia.

Os manifestantes também apontaram a má gestão governamental da pandemia de Covid-19 e a repressão de direitos civis.

O Governo cubano tem justificado a penúria e as dificuldades em controlar a pandemia com o embargo imposto pelos Estados Unidos. Atribuiu os protestos a “contra revolucionários” financiados pelos norte-americanos.

Muitos ativistas detidos começaram a ser julgados esta quinta-feira
, acusados de instigar distúrbios, cometer atos de vandalismo, propagar a pandemia do coronavírus e de atentados. Os crimes podem ser punidos com até 20 anos de prisão.

“Estas pessoas irão receber a resposta permitida pela legislação cubana e será enérgica”, prometeu a semana passada o presidente cubano Miguel Diaz-Canel, num discurso televisionado. Diaz-Canel prometeu igualmente o respeito pelos procedimentos legais.
Recuo nas promessas
Garantias pouco credíveis para a Administração norte-americana.

Eu condeno inequivocamente as detenções em massa e os julgamentos falsos que estão a condenar injustamente à prisão os que ousaram falar, num esforço para intimidar e ameaçar o povo cubano a ficar em silêncio”, afirmou Biden, ao anunciar as novas sanções, o primeiro passo concreto da sua Administração contra o Governo cubano.

Durante a campanha presidencial de 2020, Joe Biden prometeu aligeirar algumas das políticas adotadas pelo seu predecessor, o republicano Donald Trump, contra Cuba, e regressar à política de reaproximação adotada pelo ex-presidente eleito pelo Partido Democrata, Barack Obama.

A rapidez da decisão por novas sanções assinala afinal um caminho oposto e torna improvável qualquer suavização das políticas norte-americanas para com Cuba nos tempos mais próximos.

Trump colocou entraves às remessas de cubanos exilados nos Estados Unidos para os seus familiares que permanecem na ilha. O recado deixado pela nova Casa Branca não podia ser mais claro.

“Ao longo da passada semana mostrámos claramente que acompanhar este momento é uma prioridade para a Administração”, afirmou aos repórteres a secretária para a imprensa, Jen Psaki. Os castigos agora anunciados visam o general Álvaro Lopez Miera, ministro da Defesa de Cuba, de 78 anos, e uma brigada das forças de segurança ligada ao Ministério da Administração Interna do país.

O ministro cubano para os Negócios Estrangeiros, Bruno Rodriguez, rejeitou as sanções através de uma mensagem publicada na rede Twitter, considerando as suas fundamentações “infundadas e difamadoras”. Apelou aos Estados Unidos para aplicarem os mesmos critérios ao seu próprio registo de “repressão diária e brutalidade policial que ceifou as vidas de 1021 pessoas em 2020”.

Incomunicáveis e em local desconhecido
Javier Larrondo, representante da organização de direitos humanos Defensores dos Prisioneiros Cubanos, afirmou que as autoridades comunistas de Cuba irão provavelmente encarcerar os líderes da oposição mais carismáticos e eficientes, que ultimamente têm emergido na comunidade artística da ilha, tenham ou não estado envolvidos nos protestos.

“Vamos ver centenas de prisioneiros políticos nas próximas duas semanas”, vaticinou.

O grupo de exilados Cubalex atualiza diariamente a lista dos detidos, durante e após os protestos, que soma já mais de 500 nomes. Afirma que o balanço é provavelmente mais elevado, mas que muitas famílias temem represálias, como perder o emprego estatal, se reportarem a detenção dos seus membros.

A maioria dos detidos tem sido mantida incomunicável e até o paradeiro de alguns é desconhecido, referiu a Cubalex.

Os cubanos têm publicado fotografias de pessoas que não conseguem localizar e relatos de detenções num grupo do Facebook denominado ‘Desaparecidos#SOSCuba’ com mais de 10.000 membros.
pub