Edição inédita de processo dos Templários procurada em todo o mundo
Xeques árabes, desenhadores de moda, livrarias, bibliotecas e coleccionadores mundiais reservaram uma das cópias do "Processo contra os Templários", obra inédita hoje lançada no Vaticano que reproduz as actas do julgamento condenatório da Ordem militar e religiosa.
A edição de luxo, limitada a 799 exemplares e vendida a um preço unitário de 5.900 euros, reproduz, entre outros documentos, o "Ofício de Chinon", um pergaminho esquecido durante largos anos nos Arquivos Secretos do Vaticano.
A relíquia comprova que o Papa Clemente V tinha absolvido inicialmente o grão-mestre da Ordem dos Cavaleiros do Templo, Jacques de Molay, e os seus colaboradores mais directos mas que depois foi pressionado pelo rei de França Felipe IV a acabar com a Ordem, em 1312.
Em 1314, Jacques de Molay e os seus companheiros foram queimados numa fogueira, não obstante o Papa os ter ilibado das acusações de traição e heresia.
Clemente V chegou a permitir que Molay e os seus irmãos, detidos em 1307 sob ordem do rei francês, recebessem os sacramentos cristãos e fossem acompanhados por um capelão até à sua morte.
Bárbara Frale, historiadora do Vaticano que descobriu há seis anos o pergaminho, classificou-o como o documento "mais impressionante" do "Processo contra os Templários", uma vez que, a seu ver, termina para sempre com a "lenda negra" da Ordem medieval.
O pergaminho, fechado em 1308 no Castelo de Chinon, França, sede do julgamento contra os Templários, está assinado pelos três cardeais que interrogaram o grão-mestre da Ordem e contém as notas escritas por Clemente V.
O documento, reproduzido fielmente, permite, segundo os historiadores, "clarificar" o comportamento do Papa durante o julgamento da Ordem, já que Clemente V absolveu os Templários, embora "compreendesse que, para evitar uma divisão na Igreja, era necessário sacrificar a sobrevivência" da organização.
Sobre o "Processo contra os Templários", a investigadora Bárbara Frale, que demorou mais de quatro anos a abrir, analisar e traduzir todos os pergaminhos que compõem as actas do processo condenatório, explicou que a edição "não é um ponto final" na história da Ordem, uma vez que "abre um sem fim de novas investigações".
A obra, cujo exemplar simbólico número 800 será oferecido ao Papa Bento XVI, apresenta-se num estojo de pele e reproduz os pergaminhos e os selos dourados cardinalícios e papais.
Fundada em Jerusalém em 1118, por nove cavaleiros franceses, a Ordem dos Templários visava a defesa dos interesses e a protecção dos peregrinos cristãos na Terra Santa durante as Cruzadas, tendo beneficiado posteriormente de várias doações de terras na Europa, que lhe permitiram estabelecer uma rede de influências no Velho Continente, que ameaçou o poder dos seus governantes.
Historiadores crêem que o rei Felipe IV de França tinha dívidas à Ordem, devido às guerras com a Inglaterra, e que, para obter as suas riquezas, aproveitou as acusações de corrupção e blasfémia que recaíam contra a Ordem para prender os seus líderes e extrair deles, sob tortura, confissões de heresia.
Em Portugal, os Templários ajudaram, durante os séculos XII e XIII, nas batalhas contra os muçulmanos, nomeadamente na conquista de Santarém pelo rei D. Afonso Henriques, tendo recebido como recompensa extensas propriedades e poder político.
O rei D. Dinis conseguiu transferir as propriedades, incluindo castelos, e os privilégios dos Templários, depois de extintos, para a Ordem de Cristo, criada em 1319.