Eleições na Irlanda. Sinn Féin "quebra duopólio de partidos centro-direita"

O partido nacionalista irlandês Sinn Féin vai tentar formar Governo, depois de vencer as eleições do último fim de semana. A líder do partido, Mary Lou McDonald, afirmou que houve uma revolução e que vai tentar formar coligação com outros partidos.

RTP /
O Sinn Féin obteve 24,5 por cento dos votos, conseguindo o dobro das eleições de 2016 Phil Noble - Reuters

Pela primeira vez em 100 anos, a Irlanda vai ter um Governo do Sinn Féin. Mary Lou McDonald, líder do partido que durante vários anos foi o braço político do extinto Exército Republicano Irlandês (IRA), conquistou quase um quarto dos votos de primeira preferência, terminando, nas palavras da vencedora, com um “duopólio de partidos centro-direita que costumam estar na liderança”.

O Sinn Féin obteve 24,5 por cento dos votos, conseguindo o dobro das eleições de 2016. O partido liderado por McDonald superou o partido da oposição Fianna Fail, que obteve 22,2 por cento e o Fine Gale, liderado pelo atual primeiro-ministro, Leo Varadkar, com 20,9 por cento dos votos.

Mary Lou McDonald considerou esta vitória como uma revolução e garantiu que iria tentar formar coligação com outros partidos. A líder do Sinn Féin afirmou ter contactado os Verdes e outros pequenos partidos de esquerda, com o objetivo de evitar uma coligação com Fine Gael ou o Fianna Fáil.

“Quero que tenhamos um Governo para o povo. Quero que tenhamos um Governo sem o Fianna Fáil e o Fine Gael. Já iniciei contactos com outros partidos para, nos próximos dias, perceber se há essa possibilidade”, declarou McDonald.

A líder do Sinn Féin afirma que prefere uma coligação de centro-esquerda com o Partido Verde, os sociais-democratas e o Solidariedade-Pessoas. Contudo garante que irá “falar e ouvir toda a gente”, cita o jornal britânico The Guardian.

Durante a campanha eleitoral, Leo Varadkar, primeiro-ministro e líder do Fine Gael, e Micheál Martin, líder do Fianna Fáil, descartaram a possibilidade de entrar num Governo com o Sinn Féin, alegando razões éticas e políticas. Alguns membros do Fianna Fáil declararam preferir um acordo com o Sinn Féin, em vez de outra aliança centrista.

Micheál Martin, confrontado com uma possível coligação, afirmou que, embora o país esteja em primeiro lugar, “há uma grande incompatibilidade entre nós e o Sinn Féin. Há uma grande responsabilidade em todos nós para que se forme um Governo”.

O Fianna Fáil assumiu que preferia ter deputados para poder formar uma coligação com o Partido Verde e os Trabalhistas. No entanto, estes dois partidos não obtiveram o resultado esperado nas urnas.

“Para nós, uma coligação com o Sinn Féin não é uma opção, mas estamos dispostos a conversar com outras partes”, afirmou Varadkar.

Gerry Adams, ex-líder do Sinn Féin, considera que o partido vai usar o seu mandato para formar uma Irlanda unida. Na sua conta do Twitter, Adams mostrou desagrado com o posicionamento do Fine Gael em afirmar que não falará com o partido vencedor das eleições.
“O Sinn Féin foi ter com as pessoas e convenceu muitas delas”

Mary lou McDonald assentou a sua campanha eleitoral em temas como o problema da habitação – que mobilizou o eleitorado mais jovem – e a deterioração do serviço nacional de saúde –, que captou a atenção do eleitorado mais idoso.

“O Sinn Féin foi ter com as pessoas e convenceu muitas delas de que somos a alternativa, somos o veículo da mudança. Não pode haver mais cinco anos de crise da habitação”.

Vários estudos indicam que, a maioria dos eleitores do Sinn Féin, são pessoas mais jovens – um grupo de eleitores que tem crescido nas últimas décadas – que olham para o partido como uma “alternativa ao centro-direita”.

O partido de esquerda tem beneficiado de uma transição de uma nova geração de líderes, que não estão ligados ao passado violento do partido – que prejudicaram o partido nas últimas eleições.
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