Eliminação de feriado na Alemanha gera protestos e acusações de traição ao chanceler

A eliminação do feriado de 03 de Outubro, Dia da Reunificação Alemã, que o governo quer passar a comemorar sempre ao domingo, está a gerar protestos na Alemanha e levou hoje um deputado a acusar o chanceler de "traição".

Agência LUSA /

O Dia da Reunificação passaria a ser comemorado no primeiro domingo de Outubro, uma medida preconizada pelo governo para impulsionar a economia e que permitiria adicionar no final do ano 0,1 ponto percentual de crescimento ao Produto Interno Bruto alemão.

Os protestos provêem não apenas da oposição conservadora e liberal, mas também de amplos sectores da opinião pública que não querem abdicar desta histórica data.

A crítica mais dura veio de Guenter Nooke, deputado democrata-cristão e ex-activista dos direitos cívicos na extinta Alemanha de Leste (RDA), que chamou "traidores à pátria" ao chanceler Gerhard Schroeder e ao ministro das Finanças.

"Nenhum país do mundo abdicaria de um Feriado Nacional desta dimensão", disse também o democrata-cristão Dieter Althaus, ministro-presidente da Turíngia, onde este ano se realizaram as festividades do Dia da Reunificação Alemã.

O governo regional da Baviera também se manifestou contra o corte do 3 de Outubro no mapa dos feriados nacionais alemães, ao todo nove por ano, o que confere a este país o penúltimo lugar na União Europeia, só à frente da Holanda, com oito.

Mesmo alguns sectores afectos ao governo estão em desacordo com a proposta, e acham que o 03 de Outubro é uma data que diz muito aos alemães, quer do Leste, quer do Ocidente.

Durante os anos em que a Alemanha esteve dividida, de 1949 até 1990, o lado ocidental declarou o 17 de Junho, dia de uma revolta operária sufocada na RDA, Feriado Nacional.

Por sua vez, o regime comunista da RDA instituiu como Feriado Nacional o 7 de Outubro, data da fundação deste país, sob a égide da URSS.

Foi a 03 de Outubro de 1990 que as duas Alemanhas voltaram a ser um só país, na sequência da queda do Muro de Berlim, 11 meses antes, acontecimento histórico que esteve na origem da derrocada do comunismo na chamado Bloco Leste.

O ex-ministro dos negócios estrangeiros da RDA, Markus Merkel, que incluiu o derradeiro e único governo democrático leste-alemão, também criticou a abolição do feriado nacional, afirmando que a intenção do governo do seu partido "é profundamente errada".

Na opinião do político social-democrata, o que a Alemanha tem de fazer para recuperar a sua economia "é fazer reformas estruturais decentes, e não sacrificar feriados históricos".

Até o presidente do Partido Liberal (FDP), Guido Westerwelle, se mostrou desagradado com a proposta do executivo SPD/Verdes, apesar da sua reconhecida proximidade com as posições da grande indústria.

"Quem já não festeja a Unidade Alemã, esquece, simultaneamente, a divisão a que o país esteve sujeito", disse Westerwelle.

O ministro da Economia e do Emprego, Wolfgang Clement confirmou hoje a intenção do governo de passar a comemorar o feriado de 03 de Outubro sempre no primeiro domingo daquele mês, para favorecer a economia.

A medida vai "seguramente ser útil à economia", comentou o ministro. "Vamos mobilizar mais forças para o crescimento ao reduzir o número de dias feriados".

Segundo os peritos do ministério da Economia, um dia de trabalho suplementar daria no final do ano 0,1 ponto percentual de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) suplementar.

No entanto, a maioria dos economistas considera que a medida teria pouca influência no Orçamento de Estado, devido aos seus reduzidos efeitos fiscais.

A abolição do Feriado Nacional de 03 de Outubro tem sido um tema controverso desta a reunificação alemã, há 14 anos.

Já em 1994, Hans Eichel, então ministro-presidente do estado federado de Hessen, propôs a respectiva abolição, para financiar o seguro de assistência aos idosos.

No entanto, o governo rejeitou a sugestão do político social-democrata, considerando-a "anti-histórica e irresponsável", e acusando Eichel de "falta de espírito patriótico".

Na altura, porém, os democratas-cristãos (CSU) da Baviera apoiaram a proposta de Eichel, rejeitando, em contrapartida, a abolição de um feriado católico.


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