Em Timor-Leste, parte do comércio mantém portas fechadas e CGD é o único banco aberto
O movimento junto aos balcões da Caixa Geral de Depósitos e o comércio que ainda se mantém em funcionamento são hoje o registo da normalidade em Díli, mas continuam a faltar as pessoas, pormenor essencial da normalidade completa.
No que diz respeito à actividade na área de serviços, o banco português é o único a operar normalmente.
Os restantes bancos, incluindo o ANZ, australiano, e o Mandiri, indonésio, e a Autoridade Bancária de Pagamentos, que tem funções de banco central, mantêm as portas fechadas.
Os demais serviços da administração pública e escolas fecharam as portas e nas ruas o movimento é quase nulo, à excepção da passagem de algumas viaturas e motocicletas, incluindo camiões carregados de pessoas e bens, retardatários no movimento pendular dos últimos dias em direcção ao interior.
A situação de excepção em Díli está a ser aproveitada para ganhos substanciais por parte de alguns comerciantes.
Um saco de arroz, de 36 quilos, que na semana passada era vendido a 12 dólares, passou a ser transaccionado a 20 dólares, os cartões de impulsos para os telemóveis, vendidos anteriormente a 10 dólares, são negociados a partir de 12 dólares e o litro de gasóleo, de venda livre, mas que estava tabelado nalguns postos de abastecimento a 0,80 cêntimos de dólar, é agora trocado a mais de um dólar.
O aumento conjuntural dos combustíveis teve inevitavelmente reflexos na tarifa praticada pelos táxis, que subiram cinco vezes o valor de cada corrida.
O funcionamento dos correios e de alguns postos de abastecimento de combustíveis compõem o que resta da normalidade.
Hoje o dia começou em Díli com um encontro "off the record" do presidente Xanana Gusmão e do primeiro-ministro Mari Alkatiri com a imprensa timorense e estrangeira.
Do encontro, em que foi ressalvado o respeito pela liberdade de expressão e de imprensa, saiu o apelo aos jornalistas para que colaborassem na criação de um clima de maior tranquilidade e confiança junto da população.
A conversa, franca e aberta, foi seguida da realização, no Palácio do Governo, da cerimónia de posse dos 10 membros da chamada Comissão de Notáveis, e que integra representantes dos quatro órgãos de soberania, Igreja Católica e sociedade civil.
A comissão, presidida pela ministra de Estado e da Administração Estatal, Ana Pessoa, tem um mandato de 90 dias, mas Mari Alkatiri, que a empossou, está confiante em que o trabalho seja desenvolvido mais rapidamente.
O objectivo é proceder à averiguação da situação nas forças armadas, designadamente as queixas dos chamados peticionários, o grupo de centenas de militares contestatários que organizou na semana passada uma manifestação em Díli.
Foi esta manifestação, que degenerou ao quinto dia em violentos confrontos, que potenciou a situação de excepção que se vive em Díli, fazendo com que Timor-Leste atravesse a mais grave crise político- militar desde que a sua independência foi reconhecida pela comunidade internacional, a 20 de Maio de 2002.
Entretanto, em declarações à Lusa, no final do encontro com a imprensa, Mari Alkatiri, que é secretário-geral da Fretilin, o partido no poder, garantiu que o congresso partidário, previsto para os próximos dias 17, 18 e 19 se irá realizar como previsto.
"Não será adiado nem um segundo", asseverou.