Emirados Árabes veem acordo de paz com Israel como porta para uma solução de dois Estados

por Joana Raposo Santos - RTP
A assinatura de acordos com Israel por parte dos Emirados Árabes Unidos e do Barém tem sido vista com desagrado pela Palestina. Tom Brenner - Reuters

Os Emirados Árabes Unidos vão insistir numa solução de dois Estados para o conflito israelo-palestiniano baseado na fronteira de 1967 e acreditam que o acordo de paz assinado com Israel este mês pode ajudar às negociações, garantiu o ministro dos Negócios Estrangeiros dos EAU, Abdullah Bin Zayed. A garantia chega depois de a Palestina ter acusado os Emirados Árabes e o Barém de traição por terem assinado acordos com Israel.

“O apelo ao estabelecimento de um Estado palestiniano independente com base na fronteira de 1967 e com Jerusalém Oriental como sua capital, de acordo com as resoluções internacionais e o consenso internacional e árabe, manter-se-á uma exigência firme”, declarou Abdullah Bin Zayed durante o seu discurso pré-gravado para a Assembleia Geral das Nações Unidas.

“O meu país fez esforços persistentes, utilizando todos os canais diplomáticos disponíveis, para afirmar a nossa total rejeição da anexação de territórios palestinianos, e alertámos para o seu impacto em todas as partes e na segurança da região”, frisou.

As declarações surgem duas semanas depois de Abdullah Bin Zayed ter assinado na Casa Branca o chamado “acordo de paz” entre Israel e os Emirados Árabes Unidos, juntamente com o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu e o presidente norte-americano Donald Trump.

A assinatura desse acordo tem sido vista com desagrado pela Palestina, que a considera uma traição para com o seu povo por alegadamente normalizar a anexação de territórios por parte de Israel.

O ministro dos Negócios Estrangeiros dos Emirados Árabes Unidos defende, porém, que o “histórico acordo de paz com Israel” abriu “grandes perspetivas quanto a alcançar a paz na região”. “Esperamos que este acordo de paz forneça a oportunidade para palestinianos e israelitas regressarem às negociações e alcançarem a paz”, acrescentou. A fronteira de 1967, também conhecida por Linha Verde, define os limites terrestres entre Israel e os países vizinhos. Limites esses que foram, porém, desrespeitados quando Israel ocupou territórios para lá da fronteira, como a Cisjordânia e a Faixa de Gaza.

Também o Barém, que tal como os EAU tem defendido o fim da ocupação israelita, assinou os Abraham Accords na Casa Branca este mês, sendo por isso outro alvo de críticas por parte da Palestina.

O rei do Barém, Hamad bin Isa Al Khalifa, apelou às Nações Unidas na passada semana a que sejam feitos “esforços intensificados para acabar com o conflito israelo-palestiniano e para encontrar uma solução de dois Estados” com base na Fronteira de 1967.


Fotografias do rei do Barém e do ministro dos Negócios Estrangeiros dos Emirados Árabes Unidos foram colocadas num burro durante um protesto na Cisjordânia contra a normalização de laços com Israel. Foto: Raneen Sawafta – Reuters.

No entanto, o rei não lançou qualquer crítica a Israel durante o seu discurso. Em vez disso, elogiou o acordo de paz assinado na Casa Branca com Benjamin Netanyahu, considerando o documento “a personificação da nossa abordagem de abertura e coexistência com todos”.

Em 2013, o então ministro dos Negócios Estrangeiros do Barém tinha afirmado na Assembleia Geral da ONU que o seu país “esperava ansiosamente o fim da opressão dos palestinianos, o levantamento da ocupação na Faixa de Gaza e o fim dos colonatos de modo a providenciar um ambiente propício ao sucesso de uma solução de dois Estados”.

Quatro anos depois, novamente na Assembleia Geral das Nações Unidas, reiterou que “o conflito israelo-palestiniano é um problema de ocupação territorial que tem de acabar”.
Solução de dois Estados é defendida há anos pelos EAU
Durante a última década, também os Emirados Árabes Unidos utilizaram o palco das Nações Unidas para condenar Israel e apoiar a causa palestiniana, defendendo que a estabilidade da região seria impossível até que fosse criado um Estado palestiniano baseado na fronteira de 1967.

A Palestina acusa os EAU de terem mudado de tom em agosto deste ano, quando anunciaram, em conjunto com Israel, que iriam normalizar os laços bilaterais em troca da garantia por parte de Israel de que o plano de Netanyahu para anexar o Vale do Jordão e os colonatos na Cisjordânia seria suspenso por um período indeterminado.

Em 2010, o ministro dos Negócios Estrangeiros dos Emirados Árabes Unidos, Abdullah Bin Zayed, utilizou a Assembleia Geral das Nações Unidas para esclarecer que o seu país acreditava que a paz entre Israel e Palestina era “central e vital”.

“E essa paz não pode ser alcançada sem o fim da ocupação israelita do território palestiniano e outros territórios árabes, e sem que passe a ser respeitada a linha de 4 de junho de 1967, o que implica o abandono de Jerusalém Oriental, dos Montes Golã sírios e dos territórios do Sul do Líbano”, considerou então o responsável.

Mais tarde, em 2015, Abdullah Bin Zayed frisou na Assembleia Geral da ONU que o tema da Palestina continuava “no centro do conflito na nossa região, e uma das maiores ameaças à sua segurança e estabilidade”. O ministro lamentou então as “violações dos Direitos Humanos cometidas pelas forças da ocupação” e por grupos extremistas.

Em 2019, mais uma vez Abdullah Bin Zayed aproveitou o seu discurso na ONU para mencionar o “problema central” do mundo árabe, frisando que “a estabilidade não poderá ser alcançada sem que se chegue a uma solução justa e duradoura que permita ao povo palestiniano estabelecer o seu Estado independente com Jerusalém como capital”.

c/ agências internacionais
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