Emissões zero em 2050 mas à maneira australiana

por Carla Quirino - RTP
Pascal Rossignol - Reuters

Austrália promete alcançar a meta de zero emissões de carbono em 30 anos mas na versão "Australian Way". O primeiro ministro Scott Morrison tem um plano na manga em vésperas da Conferência do Clima, a Cop26, e acena com "a maneira exclusivamente australiana" para combater as alterações climáticas onde não inclui limitar o setor de combustíveis fósseis.

Austrália é um dos países menos limpos per capita e um dos maiores fornecedores de carvão e gás a nível global.

Tem se atrasado na corrida de emissões zero para 2030 e o desacordo com os aliados EUA e Reino Unido está aceso.

"Não receberemos lições de outros que não entendem a Austrália. O plano Australian Way não se trata do 'se', mas do 'como' os australianos lidam com o desafio das alterações climáticas" escreveu Scott Morrison numa coluna de opinião citada pela BBC.
O planoMorrison diz ter um plano depois de negociar com os parlamentares resistentes do governo.

Defende que o trabalho tem que ser feito em conjunto com os Liberais e os Nacionais de forma a garantir um equilíbrio sem que "o fardo de tomar medidas sobre as mudanças climáticas não deva recair injustamente sobre os australianos rurais e regionais, especialmente aqueles que dependem de indústrias tradicionais, como mineração e agricultura".

O plano alarga a meta de emissões zero para 2050 a "pensar cuidadosamente em todas as consequências e impactos", especialmente nas pessoas que vivem em áreas não urbanas.
Australian way"Como primeiro-ministro, estou determinado a proteger nossa nação do impacto negativo dessas mudanças e, ao mesmo tempo, posicionar-nos para aproveitar as muitas oportunidades apresentadas, especialmente para a Austrália rural e regional", sublinha o primeiro ministro.

Mas adverte: "Faremos isso à maneira australiana. Por meio da tecnologia, não dos impostos. Respeitando as escolhas das pessoas e não impondo mandatos sobre o que podem fazer e comprar. Precisamos de manter as nossas indústrias e regiões a funcionar e as contas de luz domésticas baixas, garantindo que a energia seja acessível e confiável".

"A chave para essa abordagem é o investimento em novas tecnologias de energia, como hidrogênio e energia solar de baixo custo, para assegurar que os nossos setores de manufatura, recursos, agricultura e transporte possam salvaguardar o seu futuro, especialmente em áreas rurais e regionais", acrescenta.

Camberra promete 13 mil milhões de euros em investimentos nas "tecnologias de baixa emissão" nos próximos 20 anos.

Morrison afirma que limitar a produção de carvão não faz parte dos planos, pelo menos, de imediato.

"Queremos que nossas indústrias pesadas, como a mineração, permaneçam abertas, permaneçam competitivas e se adaptem, de forma que permaneçam viáveis enquanto a exigência global permitir".
PiadaOs planos do governo suscitaram reações antagónicas. Bem recebidos por uns, mas também muito criticados.

Para além das falhas na definição de detalhes, o Conselho do Clima australiano descreveu o plano como "uma piada sem fortes cortes de emissões nesta década".

"A Austrália precisa desesperadamente de aumentar a escala de energia renovável, eliminar o carvão e o gás e eletrificar os nossos sistemas de transporte", disse Amanda McKenzie, diretora do Conselho do Clima.

O líder da oposição Anthony Albanese sublinhou que: "A palavra plano não constitui um plano, não importa quantas vezes seja dita".

O compromisso da Austrália para 2030 continuará a ser um corte de 26% nas emissões. Atualmente, está a caminho de uma redução de 30-35%, disse o governo.

O plano tem "a força de um saco de papel molhado", manifestou Joe Fontaine, um especialista em ecologia na Murdoch University.

A comunidade científica afirma que seria necessário cortar as emissões em 45% até 2030, para chegar a zero líquido em 2050.
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