A vitória de Macron é assim agridoce já que os resultados refletem uma França dividida, com a extrema esquerda de Jean-Luc Mélanchon e a extrema direita que apoia Le Pen a conquistar espaço ao centro perante um aparente alheamento do eleitorado mais jovem, a acreditar nas sondagens da campanha.
Ambos, vitorioso e derrotada, acabaram a falar de união, apesar de se adivinhar uma luta renhida para os próximos meses. Emmanuel Macron, que terá recolhido cerca de 58 por cento dos votos de acordo com as projeções, reconheceu isso mesmo ao falar numa sociedade "dividida" e ao assumir que "já não sou o candidato de alguns mas o presidente de todos".
Apesar dos franceses terem optado por renovar o mandato de um Presidente
centrista liberal e muito pró-europeu, face a uma candidata radical,
com "prioridade nacional" no centro do seu projeto, e extremamente
crítica da União Europeia, a abstenção atingiu níveis recorde, calculados num terço do eleitorado.
Orgulho em "voltar a servir" a França
O presidente reeleito foi recebido em festa por milhares de apoiantes reunidos junto à Torre Eiffel, agradecendo todos os esforços feitos para garantir a vitória do seu projeto para a França.
Macron falou também dos votos que recebeu para evitar a vitória da extrema direita, assumindo-se como "depositários" destes votos e desta confiança.
"Penso também em todos os nossos compatriotas que se abstiveram e o seu silêncio", a que "devemos também responder", assim como nos que "votaram na senhora Le Pen", reconhecendo a sua "deceção".
Para todos esses, "será uma responsabilidade" ter em conta o que expressaram e as suas dificuldades, acrescentou o presidente reeleito.
"Será a nossa responsabilidade e o nosso projeto", lançou aos seus apoiantes, chamando-os também à mesma responsabilidade. "Devemos responder com eficácia às cóleras que se exprimiram".
"Ninguém será deixado pelo caminho. Esta nova era não será a continuidade do mandato que acabou de terminar", assegurou o Presidente, para quem os franceses fizeram a escolha por um projeto "humanista, europeu e ambicioso",
Reconhecendo que a França é um país "cheio de divisóes" Emmanuel Macron afirmou que "os anos que temos pela frente não serão tranquilos mas serão históricos. Vamos juntos transformá-los".
"Tenho orgulho de voltar a servir" a França, concluiu.
Emmanuel Macron, de 44 anos, que se tornou o primeiro presidente francês
em 20 anos a ganhar um segundo mandato [desde Jacques Chirac em 2002]
perdeu apesar disso dois milhões de votos e não irá ter vida fácil se
nas legislativas de junho, já consideradas uma "terceira volta", for eleito um primeiro ministro de outra cor
política.
Mesmo entre os que o apoiam há críticas, apesar da vitória. "Não acho que haja nada que ele deva mudar em termos de política, mas acho que deve mudar um pouco a perceção da sua personalidade, tem de parecer menos arrogante. Eu trabalhei de perto com ele e ele é muito simpático, uma pessoa acessível e nada protocolar", explicou Natasha, que trabalhou com o Presidente quando ele ainda era secretário-geral-adjunto de François Hollande
Marine Le Pen celebra
Foi a consciência de ter conquistado terreno que levou a candidata da extrema direita, apesar de derrotada, a celebrar o reforço da votação, agradecendo todo o trabalho dos apoiantes e prometendo que não irá baixar os braços nos próximos combates.
"Apesar da derrota não posso deixar de sentir esperança", afirmou Marine Le Pen, falando em "resultado histórico".
Com pelo menos 41,8 por cento de votos em Marine Le Pen, a extrema direita obteve o seu melhor resultado de sempre.
"Um grande vento de liberdade poderia ter-se levantado sobre o país. A escolha das urnas, que respeito, decidiu de outra maneira", declarou Le Pen no discurso de derrota, no Pavilhão d`Armenonville, no nordeste de Paris.
A candidata da União Nacional afirmou que, "apesar de duas semanas de métodos desleais, brutais e violentos, semelhantes àqueles que os franceses aguentam no seu quotidiano", as ideias que o seu partido representa "atingiram um pico nesta noite de eleições presidenciais".
"Com mais de 43 por cento dos votos, o resultado desta noite representa uma vitória esmagadora. Milhões de compatriotas escolheram o campo nacional e da mudança", afirmou.
Marine Le Pen promete agora continuar a lutar para vencer as legislativas em junho, confirmando a subida registada nesta segunda volta das eleições presidenciais.
"Hoje, os franceses manifestaram o desejo de um contrapoder forte face a Emmanuel Macron, de uma oposição que vai continuar a defendê-los e a protegê-los face à erosão do seu poder de compra, face aos ataques às suas liberdades", sublinhou.
A confiança de Le Pen galvanizou os mais de 500 militantes que se
deslocaram até ao pavilhão d`Armenonville, onde decorreu a noite
eleitoral da candidata e que tinham recebido a notícia das projeções com
assobios, apupos e lágrimas.
Abordando os próximos cinco anos, Le Pen disse recear que o mandato que agora se inicia não irá "romper com as práticas de desprezo e brutais e que Emmanuel Macron não irá fazer nada para reparar as fraturas" que dividem a França e "fazem sofrer" os franceses.
"Por isso, para evitar a tomada do poder por alguns, agora, mais do que nunca, irei continuar com o meu compromisso para com a França e com os franceses, com a energia, a perseverança e a afeição que me conhecem", afirmou Le Pen, com a sala do pavilhão d`Armenonville a responder com uma grande ovação, aplausos e gritos de "Marine, Marine, Marine".
"Esta noite digo e repito, nunca abandonarei os franceses. Viva a França!" exclamou a candidata derrotada no final de um discurso de cerca de sete minutos, durante o qual garantiu que iria continuar a defender os interesses dos franceses.
Em 2017, na primeira vez que se enfrentaram nas eleições presidenciais, o centrista Emmanuel Macron venceu com 66,10 por cento dos votos, contra 33,90 por cento de Marine le Pen, ou seja com uma vantagem significativamente mais clara do que nas eleições de hoje.
Felicitações em português
Marcelo Rebelo de Sousa reagiu com alegria contida à vitória de Emmanuel Macron. "Uma vitória muito clara é muito importante para a defesa dos valores da democracia", afirmou, celebrando "uma vitória da União Europa".
O Presidente da República portuguesa enviou ainda "um abraço muito caloroso" ao presidente reeleito.
O presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, saudou a reeleição, considerando que representa "o triunfo do europeísmo e a derrota do populismo".
"Na vitória de Emmanuel Macron, valorizo o triunfo do europeísmo e a derrota do populismo. Ambas são boas notícias para Portugal", escreveu Augusto Santos Silva na sua conta oficial na rede social Twitter.
O ex-ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros advertiu, no entanto, que "os resultados em França mostram bem a necessidade de ouvir mais as pessoas e de entender que a dimensão social é essencial para o sucesso da transição ecológica e digital".
O primeiro-ministro António Costa anunciou na rede Twitter que já tinha igualmente felicitado Emmanuel Macron afirmando, em francês, estar "contente com a ideia de trabalharem juntos nos próximos anos".
"O povo francês mostrou mais uma vez a sua adesão ao projeto europeu", acrescentou.
O presidente do PSD, Rui Rio, considerou hoje a reeleição do centrista Emmanuel Macron como Presidente de França "o melhor resultado" para o projeto europeu, considerando "absolutamente vital" que a Europa continue "unida".
"É o melhor resultado em termos de projeto europeu", disse Rui Rio aos jornalistas, durante a visita à feira agropecuária Ovibeja.
O presidente do Chega, André Ventura, publicou hoje no Twitter uma foto sua com a candidata derrotada da extrema-direita às presidenciais francesas, Marine Le Pen, e escreveu "um dia venceremos".
Europa suspira de alívio
Os líderes da União Europeia (UE) felicitaram igualmente Emmanuel Macron pela sua reeleição, com o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, a congratular-se por a Europa poder "contar com a França por mais cinco anos".
"Nestes tempos turbulentos, precisamos de uma Europa forte e de uma França totalmente comprometida com uma UE mais soberana e estratégica", escreveu Charles Michel, que representa os Estados-membros, no Twitter.
No mesmo sentido pronunciou-se a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. "Estou ansiosa para continuar a nossa excelente cooperação. Juntos, avançaremos com a França e a Europa", afirmou.
Elisa Ferreira enviou felicitações por "uma vitória inequívoca", celebrando a escolha dos franceses pelo "projeto democrático, republicano e europeu".
"Tempos para reconstruir e continuar a construir uma França radiante e unida a uma Europe mais coesa, solidária e própera", acrescentou a comissária europeia para a Coesão e Reformas.
Espanha e Reino Unido aplaudem
O primeiro-ministro do Reino Unido reagiu igualmente na rede Twitter, cumprimentado Macron pela reeleição.
"Anseio por continuar a trabalharmos juntos nas questões que mais afetam os nossos países e o mundo", acrescentou Boris Johnson, considerando a França "um dos nossos mais próximos e mais importantes aliados".
O primeiro-ministro de Espanha celebrou igualmente a vitória de Macron.
"Os cidadãos [franceses] elegeram uma França comprometida com uma União Europeia livre, forte e justa" escreveu Pedro Sanchez.
(Com Lusa)