Empresa de Trump e diretor financeiro indiciados em investigação por crimes fiscais

Um tribunal de Manhattan, em Nova Iorque, indiciou a empresa da família de Donald Trump, a Trump Organization, e o seu diretor financeiro, Allen H. Weisselberg, por alegados crimes fiscais. A imprensa norte-americana avança que as acusações, baseadas numa investigação que decorre há três anos, estão relacionadas a evasão fiscal e a benefícios não monetários que a empresa terá concedido aos principais executivos.

Inês Moreira Santos - RTP /
Justin Lane - EPA

As acusações específicas contra a empresa de Trump e o diretor financeiro ainda não são conhecidas. Segundo o New York Times, espera-se que as acusações sejam reveladas esta quinta-feira à tarde, numa audiência em tribunal com Weisselberg e os advogados da Trump Organization - organização inclui centenas de empresas ligadas a Donald Trump e aos seus familiares, incluindo hotéis, empresas imobiliárias e campos de golfe.

De acordo com o Wall Street Journal, as acusações estão ligadas a evasão fiscal e dizem respeito a benefícios não monetários que a empresa terá concedido aos principais executivos, possivelmente incluindo o uso de apartamentos, carros e propinas escolares. São as primeiras acusações criminais contra a empresa do ex-presidente norte-americano desde que os promotores começaram a investigar há três anos.

Os promotores de Manhattan têm investigados bónus e regalias de luxo que Weisselberg terá recebido da Trump Organization - incluindo um apartamento em Manhattan, carros Mercedes-Benz alugados e mensalidades de escola particular para pelo menos um dos seus netos - e se os impostos foram pagos sobre esses benefícios.

Fontes próximas a Trump revelaram ao jornal que as acusações iniciais não implicam, para já, Donald Trump, ficando aquém das expectativas dos promotores sobre esta investigação, liderada pelo procurador distrital de Manhattan, Cyrus Vance Jr., do partido Democrata. As acusações contra a empresa e o antigo CFO Allen Weisselberg são um golpe para o ex-presidente republicano, que se defendeu de várias investigações criminais e civis durante e após a sua presidência.

Embora Trump ainda não seja arguido, espera-se a presença de Weisselberg, considerado uma "figura-chave" na empresa, a que os procuradores têm tentado convencer a cooperar com a Justiça. Os promotores de Nova Iorque estão também a investigar alegadas transferências de "dinheiro secreto" pago a mulheres que dizem ter tido relações sexuais com Donald Trump, e alegações de manipulação de preços de imóveis.
O que está em causa?

A Trump Organization e Allen H. Weisselberg estão a ser investigados por uma suposta evasão de impostos sobre benefícios pagos a funcionários. As investigações analisam se Weisselberg e outros altos funcionários da empresa evitaram ilegalmente pagar impostos sobre benefícios como carros, apartamentos e mensalidades de escolas recebidos da Trump Organization.

Além de Weisselberg, os promotores investigam apartamentos onde viviam Matthew Calamari, um ex-guarda-costas de Trump que agora atua como diretor de operações. Segundo ex-promotores consultados pelo WSJ, concentrar uma investigação nos impostos sobre benefícios pagos a funcionários é raro, embora o não pagamento desses encargos possa estar associado a esquemas maiores.

"Allen é um soldado", disse ao NYT John Burke, um ex-executivo da empresa que trabalhou com Weisselberg no início dos anos 1990. "Allen era bom a fazer o que Donald queria que ele fizesse".

Weisselberg tornou-se talvez no consultor de negócios de maior confiança do ex-presidente e, ao longo de décadas, a vida pessoal e familiar de Weisselberg foi-se misturando cada vez mais com a empresa e com Trump.

Mais ninguém conhecerá bem a fudo a gestão da Trump Organization como o próprio Donald Trump e Allen Weisselberg.

"Eles são como o Batman e o Robin", disse Jennifer Weisselberg, ex-esposa do filho de Allen Weisselberg, Barry, ao jornal. "Eles são uma equipa. Não são melhores amigos. Não passam todo o tempo juntos, mas o mundo se tornou tão isolado para Allen que mais nada lhe interessava".

Jennifer Weisselberg ajudou o promotor distrital de Manhattan, Cyrus Vance, na investigação dos negócios de Trump após um contencioso divórcio, fornecendo-lhe centenas de documentos fiscais.

Também o antigo advogado de Trump, Michael Cohen, testemunhou no Congresso em 2019 contra Weisselberg, acusando-o de ter ajudado a encobrir um pagamento de 130.000 dólares à atriz Stormy Daniels, que alegou ter mantido relações sexuais com Trump.

Cohen também indicou que Trump e o diretor executivo inventaram avaliações falsas das propriedades imobiliárias de Trump para desvalorizar ativos para fins fiscais, enquanto os inflacionava para contratos de empréstimo.

Como poucas empresas enfrentam acusações semelhantes, os advogados consideram que isso pode fazer com que esta investigação pareça tendenciosa. Contudo, outros afirmam que a acusação é uma forma para pressionar Weisselberg a colaborar com a Justiça norte-americana.

Suspeita-se ainda que as empresas de Trump adulterem os seus ativos em documentos para a obtenção de empréstimos, pagamento de impostos e seguros. Trump, por seu lado, nega qualquer irregularidade e afirma que o caso está a ser conduzido por democratas com motivações políticas.

Provas como registos fiscais, outros documentos e transcrição de entrevistas com testemunhas serão avaliadas por um júri, que já foi criado.

Recorde-se que Cyrus Vance iniciou uma investigação em 2018, que inicialmente se centrou nos pagamentos feitos antes das eleições presidenciais de 2016 a duas supostas amantes do multimilionário republicano, e se expandiu para incluir alegações de fraude fiscal, fraude de seguros ou fraude bancária. A 25 de fevereiro deste ano, Vance obteve as declarações fiscais de Donald Trump dos últimos oito anos, depois de o Supremo Tribunal ter rejeitado um recurso do ex-presidente dos Estados Unidos.

No passado dia 19 de maio, a procuradora-geral de Nova Iorque, Letitia James, declarou que a Trump Organization já era alvo de inquérito penal, o que foi considerado uma evolução do inquérito civil que já estava em andamento. Segundo a mesma, dois advogados da sua equipa iriam ser designados para trabalhar com Vance na investigação criminal à empresa.

Enquanto foi presidente, entre 2017 e 2021, Trump renunciou à gestão da empresa, mas continuou a ser proprietário através de um fundo administrado pelos seus filhos e por Weisselberg. Além disso, negou sempre qualquer irregularidade, alegando que as investigações eram "perseguição política" e "caça às bruxas".
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