Emuli, o programa em Timor-Leste que alfabetiza crianças que não falam línguas oficiais
O programa Educação Multilingue e Língua Materna (Emuli), do Ministério da Educação de Timor-Leste, abrange atualmente 60 escolas a nível nacional e pretende alfabetizar as crianças que não falam as línguas oficiais do país, nomeadamente tétum e português.
Com 16 línguas maternas, incluindo o tétum que se tornou língua oficial, Timor-Leste tem uma grande diversidade cultural e ainda existem muitas crianças que são criadas em língua materna e não falam nem o tétum, nem o português.
Para o Ministério da Educação timorense, todas as crianças têm o direito de alcançar o sucesso educativo e, por isso, defende o programa que dá às crianças que não falam as línguas oficiais as mesmas oportunidades de aprendizagem na escola.
"Quando uma criança sabe ler, o seu cérebro torna-se mais forte e ela estará mais bem preparada para aprender conceitos complexos e abstratos aos níveis de ensino superiores", defendeu a ministra da Educação timorense, Dulce Soares, na abertura de um seminário para assinalar o Dia Internacional da Língua Materna.
"Se uma criança vai para a escola e não consegue comunicar na língua que compreende, praticamente não pode aproveitar tudo o que aprendeu ao crescer com a sua família. A nossa língua é a nossa identidade e se perdermos a nossa identidade, quem seremos?", questionou a ministra no seminário.
A ministra salientou também que muitas pessoas estão a deixar de ensinar língua materna aos filhos e que, no futuro, aquelas línguas poderão desaparecer.
"Enquanto ministra da Educação, é meu dever assegurar que todas as crianças desenvolvem capacidades e competências que as ajudem a viver melhor e com sucesso", disse Dulce Soares.
Na mesma cerimónia, o vice-primeiro-ministro e ministro coordenador dos Assuntos Sociais, Mariano Assanami Sabino, sublinhou que ensinar na "língua materna não significa excluir a aprendizagem de outras línguas posteriormente", nomeadamente as línguas oficiais.
O Dia Internacional da Língua Materna (21 de fevereiro) foi aprovado em 2002 pela Assembleia Geral das Nações Unidas, a qual pediu aos países membros que promovessem a preservação de todas as línguas no mundo, destacando a importância das línguas para o desenvolvimento, a diversidade cultural e o diálogo intercultural.
A data também visa sensibilizar para a perda de línguas em risco de desaparecer devido à globalização e mudanças sociais, e a importância da educação multilíngue, especialmente para línguas minoritárias e indígenas.
O dia vai ser assinalado, hoje e sexta-feira, em Paris, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) no evento "Línguas importam: celebração do jubileu de prata do Dia Internacional da Língua Materna", uma iniciativa que visa sublinhar a urgência de acelerar o progresso na diversidade linguística para construir um mundo mais inclusivo e sustentável até 2030.