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Guerra na Ucrânia
Entrevista à RTP. Paulo Rangel defende integração de Ucrânia e UE nas negociações para a paz
Portugal participou na segunda reunião, convocada pela Presidência francesa, sobre a Guerra na Ucrânia esta quarta-feira, da qual saíram duas mensagens importantes: qualquer processo de paz implica que Kiev seja parte ativa nas negociações e que a Europa e os aliados da NATO devem ser incluídos no "roteiro" pós-guerra. O ministro português dos Negócios Estrangeiros concorda que tem de haver "um esquema de segurança" para o território, mas rejeita para já a possibilidade do envio de tropas. Quanto às acusações de Donald Trump sobre o presidente ucraniano, Paulo Rangel afirma que Portugal não vai criar ruído a comentar declarações polémicas.
Em entrevista à RTP, Paulo Rangel indicou "as duas mensagens principais que resultam desta reunião", em que o primeiro-ministro português participou, embora à distância.
"Um processo de paz para a Ucrânia, um processo de negociação para travar esta guerra, implica sempre que a Ucrânia esteja nas negociações e seja parte ativa nas negociações”, começou por enumerar o ministro dos Negócios Estrangeiros.
Além disso, "a Europa também tem de estar envolvida neste roteiro para a paz” porque no futuro “a segurança da Ucrânia (…) terá de ser garantida por Estados europeus e outros, e a reconstrução terá como protagonista a União Europeia”.
“Havendo um envolvimento da Europa no processo do pós guerra (…) é evidente que os aliados da NATO e os países europeus terão de ter um papel no desenho das soluções”, explicou ainda Rangel, frisando a posição dos líderes europeus.Questionado sobre o possível envio de militares para a Ucrânia, Paulo Rangel considerou que “não faz sentido pôr essa questão” sem se saber “qual o roteiro para as negociações e para a paz”.
“Terá de haver um esquema de segurança da Ucrânia", adiantou, lembrando que "terá de ser uma solução na qual confie também a Federação Russa".
"Tem de haver alguma reciprocidade. Tudo isto é extremamente complexo”.
Sobre as declarações de Donald Trump a respeito de Volodymyr Zelensky ser “um ditador”, o chefe da diplomacia portuguesa recordou a posição de Portugal quanto à “invasão da Ucrânia por parte da Rússia”, que pôs em causa a independência e a soberania de Kiev.
“Não devemos contribuir para criar mais ruído (…) ou poluir a comunicação. Pelo contrário: sem deixar de enunciar os nossos princípios, devemos favorecer a possibilidade de diálogo, de comunicação, de forma a que possamos chegar àquele objetivo inicial”.“Continuamos a considerar que o ponto de partida para qualquer processo de paz é reconhecer esta violação do Direito Internacional”.
O Governo português, como clarificou Rangel, normalmente abstém-se de comentar declarações de líderes de outros países, embora continue a ser “muito firme” na posição sobre o conflito.
“A relação dos Estados Unidos não se pode dissolver de um momento para o outro”, continuou, relembrando que são um “parceiro muito importante para a União Europeia”, para Portugal e para os países da NATO.
“Queremos aprofundar e continuar com bons laços com os Estados Unidos. E tudo vamos fazer para que isso aconteça”.
Contudo, se houver “mudanças relevantes de política”, Portugal não deixará “de fazer valer” a sua posição.