Entrevista com Andrea Ammon, diretora do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças

por Andrea Neves, Correspondente da Antena 1 em Bruxelas
Reuters

Com o número de casos a aumentar em toda a Europa e as escolas a começar a funcionar de forma plena, a Antena 1 falou com a diretora do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças. Numa entrevista à correspondente em Bruxelas, Andrea Ammon considera que ainda não se pode baixar a guarda, elogia o esforço dos cidadãos e recorda que as medidas sobre saúde pública são da responsabilidade dos Estados membros e não da União Europeia.

Andrea Ammon não sabe quando é que uma vacina segura e eficaz pode chegar ao mercado e espera que os países estejam atentos e tomem medidas locais ou regionais, sempre que se justificar, para evitar um confinamento geral mais tarde.

O Centro Europeu não defende o encerramento de escolas a não ser como última medida, mas aconselha novas formas de funcionamento como o distanciamento das mesas, a divisão de turmas e o uso de máscaras por todos, acima dos 12 anos de idade.

Há surtos em ambiente escolar documentados nos países onde as escolas abriram mais cedo. O Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças conhece-os, mas a diretora refere que não são frequentes.

Temos evidências que, em abril e maio, quando os países começaram a levantar as restrições, alguns, no princípio, apenas reabriram as escolas. E não vimos um grande aumento das infeções comunitárias nesses casos. De facto, parece que o contributo do encerramento das escolas para um pacote completo de medidas não foi muito grande. Por isso não recomendamos o encerramento de escolas como a única medida”.

Mas Andrea Ammon recorda que não encerrar não significa abrir como estavam antes. Nos países onde o ano escolar começou mais cedo houve alterações nas escolas. As mesmas que o Centro Europeu recomenda.

“Em algumas escolas, se houver espaço, devem colocar-se as mesas mais separadas, mas se essa possibilidade não existir podem ou reduzir o número que estão ao mesmo tempo nas escolas e os alunos mais velhos podem usar mascaras”.

Mas, o que se entende por alunos mais velhos?

“Com 12 anos ou mais velhos. Porque antes dessas idades o que sabemos é que as crianças não toleram as máscaras muito bem” refere Ammon.

E no caso de haver casos suspeitos ou confirmados de infecção o que o Centro Europeu aconselha é que “os alunos e os professores que estiveram em contacto próximo fiquem em quarentena e, se possível, que sejam testados para que a infecção não alastre na escola”.

As indicações baseiam-se no que se pode observar nos países que reabriram escolas ainda em abril ou maio como uma das primeiras medidas de desconfinamento.

Podem surgir casos, sim, pode até ser preciso encerrar algumas escolas, depende do número de infetados, mas as situações devem ser analisadas caso a caso porque as escolas não são (pelo menos pelos dados conhecidos) locais de intensa propagação dos vírus desde que se tomem as medidas de prevenção aconselhadas, defende.
Agir localmente
O número de casos está a aumentar em toda a Europa e é possível que aumentam ainda mais. Agir localmente, no imediato, é o mais aconselhável, defende o organismo europeu.

A diretora do Centro Europeu da Prevenção e Controlo das Doenças considera que os países devem estar atentos ao aumento do número de casos e agir de imediato, local ou regionalmente, para evitar que seja necessário um confinamento total.

Andrea Ammon diz que o aumento de hospitalizações é agora mais baixo porque são sobretudo os mais novos a contrair o vírus e neles a doença parece não ser tão intensa.

Mas isso não deve ser motivo para baixar a guarda e não agir quando a situação o exige.

“Porque pelo que sabemos de fevereiro e março se deixarmos as infecções progredirem sem medidas a situação pode ser explosiva. Por isso vários países estão já a reintroduzir pelo menos medidas locais para evitar que os casos possam aumentar ainda mais.”

Por isso, Andrea Ammon espera que “os Estados tomem medidas enquanto os aumentos forem locais ou regionais, para que não tenhamos que chegar à situação de março em que tivemos que aplicar medidas em todo o país”.

A directora do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças diz que o confinamento (ainda que limitado) e as medidas de proteção individual e social funcionam, comprovadamente, quando aplicadas em conjunto.

“O que vimos em março e abril, quando muitos países implementaram um pacote de medidas, e com alguns a fazerem um confinamento total, foi que o número de casos diminuiu em 80 por cento. Por isso, do nosso ponto de vista, estas medidas, quando aplicadas em pacote, funcional mesmo”.
Ainda não é tempo de baixar a guarda
A diretora do Centro Europeu saúda a forma como as pessoas têm aderido às medidas de prevenção que até limita algumas liberdades.

Andrea Ammon salienta que a chave na luta contra o coronavírus foi a adesão dos cidadãos às medidas de contenção. Algumas limitativas da liberdade individual, mas em nome da saúde pública. Mas ainda não é tempo de baixar a guarda.

“As pessoas têm aderido muito bem às medidas que limitaram a sua liberdade e isso tem que ser reconhecido. Mas também temos que dizer que tudo isto tem de continuar, infelizmente. Por isso é importante que continuemos a manter a distância física, lavar as mãos e usar máscaras se não pudermos manter a distância”.
Medidas são responsabilidade dos Estados-membros
O centro europeu mantém-se atento, mas pode apenas aconselhar os Estados-membros porque a responsabilidade pelas medidas de saúde pública é dos Estados e não da União Europeia.

O Centro Europeu tem recebido informação de todos os países e defende uma ação coordenada a nível europeu para que possa haver resultados globais na luta contra o vírus.

“Estamos em contacto próximo com os colegas nos Estados membros para percebermos as suas necessidades. Mas por outro lado tudo o que for feito no que se refere a estabelecer ou não medidas é uma decisão dos países. O tratado europeu estabelece que a responsabilidade por medidas de saúde é da responsabilidade dos países. Nós podemos dizer o que seriam as melhores opções, do nosso ponto de vista, mas compete aos países decidir se as seguem ou não”.
Tempos difíceis antes da vacina
Na melhor das hipóteses, só no início do próximo ano haverá uma vacina segura e eficaz no mercado. Até lá, os próximos tempos pode ser difíceis com as infeções a aumentar e a gripe a chegar.

A diretora do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças não quer avançar com uma data para a chegada ao mercado de uma vacina contra a Covid-19.

“Creio que é a questão para um milhão de euros e eu não vou ganhar esse milhão porque não sei.
Os ensaios estão a decorrer e temos que esperar para ver com que rapidez podem ser concluídos” refere Andrea Ammon.

Na melhor das hipóteses só no início do próximo ano e até lá decorrem os testes da fase 3, em algumas delas, e tal como se soube há dias com a Vacina Oxford/Astrazeneca pode haver motivos para suspender os ensaios. Nada que não aconteça por vezes nesta fase.

“Quando se envolve pessoas em ensaios clínicos os incidentes podem acontecer. E não se sabe se isso está relacionado com a vacina ou acontece porque acontece. E é isso que está neste momento a ser verificado. Ainda não sabemos se tem mesmo a ver com a vacina em si”.

Andrea Ammon considera “encorajador que a companhia tenha proactivamente divulgado esta situação para que não haja especulação sobre o que está a acontecer”.

A vacina pode ser vista como uma esperança, grande, mas não como a solução final imediata, defende.

Penso que mesmo com a vacina, a Covid não vai desaparecer rapidamente e de vez. E as vacinas também podem ter diferentes efeitos: podem só proteger para doença severa e as medidas terão que ser diferentes. Mas podem evitar a infecção ou evitar que se infectem outras pessoas. Teremos que esperar.”
 
Até porque as medidas a tomar a seguir podem depender do real efeito das vacinas. Mas isso é algo que só na altura se pode definir.
Falsas notícias e desinformação
O Centro Europeu admite que as redes sociais são um problema e que se mantém atento mas prefere responder publicando informação segura e cientificamente confirmada.

“Da nossa parte o importante é estabelecer que as informações que damos são de confiança, sólidas e baseadas na ciência. para que as pessoas saibam que podem confiar nas informações que chegam da nossa parte, porque se começarmos a tentar desmentir todas as informações falsas que por aí andam então o que fazemos é apenas andar atrás deles. Por isso garantimos que as informações que damos são baseadas na ciência.”

A directora do Centro Europeu de prevenção e controlo das doenças diz que é muito complicado controlar todas as falsas notícias e as informações erradas que existem sobre este vírus, Andrea Ammon reafrma que a maior preocupação do centro é apresentar sempre informações sólidas e com base científica para que as pessoas saibam que podem confiar nessas orientações.
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