Envelhecidos e pouco vacinados. Estados Unidos são terreno apetecido para a variante Ómicron

por RTP
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A variante Ómicron está a substituir a Delta na propagação da pandemia covid por quase todo o mundo. Trata-se de uma variante menos agressiva, fruto do seu ataque principal ao sistema digestivo em vez dos pulmões, e por isso menos letal, apesar de possuir uma maior capacidade de se transmitir. Há no entanto, países que estão a sofrer mais do que outros, e esse é o caso de Estados Unidos e Brasil. A idade média mais alta da população e a resistência à vacinação por uma grande fatia das suas populações abrem caminho a uma performance que a Ómicron não consegue noutras paragens.

Ao contrário de outras regiões do planeta, os Estados Unidos e o Brasil não são um contraforte que se possa afirmar com todas as certezas capaz de deter a capacidade letal da Ómicron, a variante do novo coronavírus inicialmente assinalada na África do Sul. A contabilidade foi aferida esta terça-feira pelo site norte-americano Daily Beast.

Trata-se de uma variante que se tem revelado menos maligna do que a anterior Delta, vindo a substituir esta última à medida que se propaga por todas as regiões do planeta. A sua capacidade para infectar sem matar o hospedeiro terá aqui uma palavra a dizer neste sucesso da Ómicron. Acresce aqui que esta variante, ao contrário da Delta, ataca em particular a garganta e menos os pulmões.

Por outro lado, a Ómicron poderá estar a revelar uma maior capacidade para contornar os anti-corpos e assim vencer a muralha das vacinas, ganhando à Delta em termos de transmissibilidade. As contas são, contudo, amáveis para os infectados, já que, regra geral, os picos de infecção não coincidem obrigatoriamente com o disparar das taxas de mortalidade.

Se os números de infectados na generalidade dos países europeus, por exemplo, voltaram a subir a níveis semelhantes aos do ano anterior, já as mortes não decalcam os níveis assustadores que se atingiram durante o ano de 2021.

A leitura para estas duas realidades pode ser feita a vários níveis e a vacina, ainda incipiente no período homólogo do ano passado, também ajuda a explicar o porquê da maior capacidade dos infectados de passarem pela Ómicron como se de uma mera constipação se tratasse.

Outro factor que ajuda a compreender os números – o grande intervalo entre as novas infecções e os óbitos diários – é, de acordo com o artigo do Daily Beast, a idade média das populações em causa. Por exemplo, apesar da sua baixa vacinação, a África do Sul está a mostrar as garras à Ómicron. Ou seja, contra os apenas um quarto de vacinados, o país de 59 milhões apresenta uma média de idades de 27 anos.

Pelo contrário, Singapura confia na alta taxa de vacinação para repelir a Ómicron. Um e outro apresentam, contudo, um sucesso considerável na luta contra a nova variante. A cidade-Estado apresentava umas 250 novas infecções diárias em Dezembro, agora esse número subiu para 800. No entanto, os números diários apontavam nessa altura para uma morte e esses valores mantêm-se agora, apesar do quase triplo de casos. A mesma relação verifica-se para os sul-africanos: entre fins de Novembro e fins de Dezembro, os casos diários saltaram de 500 para 20 mil, mas as mortes apenas de 20 para cerca de 170.

Diferente, refere o Daily Beast, é o cenário que temos à nossa frente nos Estados Unidos: um país com uma população envelhecida e com uma forte resistência à vacinação. A possibilidade de o país passar por uma fase de assintomáticos não se perspectiva face a uma população mais envelhecida – média de 39 anos – e com forte resistência à ideia de se vacinarem – apenas 63 por cento estão completamente vacinados e uma margem mínima de 37 por cento levaram o reforço, o que deixa 122 milhões de pessoas à mercê da Ómicron.

Os números não enganam: os Estados Unidos registam agora 760 mil novos casos diários – cinco vezes mais do que nos piores dias da Delta e o triplo dos recordes de 230 mil há um ano; as mortes ascendem a 1.700 diárias, mantendo-se quase ao mesmo nível do pico da variante Delta.

A mesma leitura aplica-se ao Brasil, com uma média de idades de 34 anos, apenas dois terços da população totalmente vacinada e 15 por cento com dose de reforço. Os casos são agora dez vezes superiores para os 44 mil diários e a mortalidade passou dos 50 óbitos diários no início de Janeiro para os 600 em menos de uma semana.

Com os cientistas a dizerem que escapámos de boa à possibilidade de sermos varridos por uma variante que combinasse a transmissibilidade da Ómicron com a letalidade da Delta – ou seja, uma estirpe capaz de contornar as vacinas e que fosse directamente aos pulmões, o sublinhado fica para as estratégias aplicadas, nomeadamente a capacidade de vacinação em países que apresentem um esquema demográfico mais susceptível a variantes muito transmissíveis.
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