Enviado especial da Austrália para o Greater Sunrise otimista em acordo em 2023

por Lusa

O representante especial do Governo australiano para o Greater Sunrise, no Mar de Timor, mostrou-se hoje otimista em um acordo sobre o projeto no próximo ano, afirmando que há uma curta janela de oportunidade para o tornar viável

"Consideraria um êxito conseguirmos que todas as partes concordem que este projeto tem que avançar. Eu tenha uma posição finita. Estou nestas funções um ano e só as vou assumir um ano, por isso quero fechar isto até novembro do próximo ano. Se não conseguir, ficarei muito desapontado", disse em entrevista à Lusa.

Steve Bracks, que está de visita a Díli, falava à Lusa na sua primeira entrevista desde que em outubro foi nomeado representante especial do Governo australiano para ajudar a desbloquear o impasse em torno ao projeto do Greater Sunrise.

"O mandato que tenho do Governo australiano, e que me foi transmitido pela ministra dos Negócios Estrangeiros Penny Wong depois da minha nomeação é muito simples: a Austrália quer que o projeto avance. Consideramos que será de grande benefício para o povo de Timor-Leste que este projeto avance", afirmou

"Sabemos que as receitas do [poço petrolífero] Bayu Undan estão a terminar, precisamos de uma nova fonte de receitas para o país e isto é algo que pode financiar o país durante os próximos 20 anos", considerou.

Localizado a 150 quilómetros de Timor-Leste e a 450 quilómetros de Darwin, o projeto Greater Sunrise tem estado envolto num impasse, com Díli a defender a construção de um gasoduto para o sul do país e a Woodside, segunda maior parceira do consórcio, a inclinar-se para a sua ligação à unidade já existente em Darwin.

Bracks disse que Camberra "não tem uma posição de defesa de uma ou outra opção" pretendendo apenas que avance "a melhor opção, a mais económica e mais benéfica" e que o objetivo essencial é "conseguir que o projeto avance" e que não fique "paralisado".

Sobre a Woodside, com quem se reuniu no mês passado, Bracks explica que a parceira da petrolífera timorense Timor GAP e da Osaka Gás no projeto "manifestou ter uma posição aberta".

Formalmente, e na atualidade, ainda é o operador no consórcio -- ainda que haja atualmente "uma disputa sobre quem é o operador" -- e, segundo Bracks, "na reunião não indicaram que têm uma posição final sobre onde deve ser desenvolvido", mostrando vontade que avance.

Bracks - ex-primeiro-ministro do Estado de Victoria e considerado `amigo` de Timor-Leste - foi nomeado pelo primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, em outubro, na sequência de conversas que o chefe do Governo daquele país manteve com o Presidente timorense, José Ramos-Horta, na sua visita de Estado à Austrália.

"É um desafio. Esta é a última peça do puzzle. Temos uma fronteira permanente, o antigo tratado desapareceu, a nova fronteira está em vigor depois das negociações da UNCLOS, o que dá 80% do recurso a Timor-Leste se o gás for canalizado para Darwin e 70% se for canalizado para Timor-Leste", recordou.

Timor-Leste, recordou, aposta num gasoduto para o seu país, e "é da opinião que quer a transferência de tecnologia, o valor económico acrescentado associado ao emprego ao ter isso no país", algo que considera "compreensível" apesar de já haver gasodutos do Mar de Timor para Darwin e dessa opção ser potencialmente mais barata.

"Seja como for tem que ser tomada uma decisão. O meu papel é tentar ultrapassar o impasse, chegar a acordo de todos, dos dois Governos, do consórcio, sobre onde o gasoduto vai chegar, e iniciar as negociações para que isso aconteça", vincou.

Nos últimos meses têm-se intensificado os contactos entre as partes, com o tratado de 2019 que definiu as fronteiras marítimas entre os dois países a prever a assinatura de um contrato de partilha de produção, além de outros quadros técnicos.

O projeto tornou-se particularmente urgente perante o risco de que Timor-Leste possa enfrentar, já em 2034, um precipício fiscal com o fim do Fundo Petrolífero que atualmente financia a quase totalidade do Orçamento Geral do Estado (OGE).

Bracks recorda que mesmo que hoje esse acordo possa parecer complicado, Timor-Leste já conseguiu alcançar vários "impossíveis", primeiro a própria independência do país e depois a fronteira marítima permanente com a Austrália.

"Entendo essa determinação e isso é muito importante", afirmou.

O ex-conselheiro do líder timorense Xanana Gusmão diz que a atual "janela de oportunidade" criada pela atual crise energética, "não vai estar aberta para sempre", podendo durar apenas dois anos.

"Esperamos que a guerra na Ucrânia termine rapidamente, mas mesmo que isso ocorra teremos questões de fornecimento durante algum tempo e a janela de dois anos é aquela em que há uma oportunidade para isto avançar", disse.

"Depois disso, é muito possível que a viabilidade económica deixe de ser favorável. Todos os países estão a procurar investir em emissões zero e isso vai afetar o preço do gás a médio prazo", considerou.

Além disso, e além desse cenário crítico de dois anos para avançar com o projeto de desenvolvimento, Bracks relembra que ainda demoraria três anos adicionais para que algum retorno do investimento comece a ser gerado.

"Daí que o timing seja especialmente importante", notou, referindo que a urgência se intensifica tendo em conta o risco de precipício financeiro em Timor-Leste dentro de alguns anos.

Considerando ter a confiança dos dois Governos, Bracks disse que nenhum cenário pode ser excluído inclusive a possibilidade de que a participação da Woodside seja comprada por outras empresas, como ocorreu quando a Timor GAP comprou as participações da Connoco e da Shell no consórcio.

"Muitas vezes neste tipo de projetos, verificam-se dinâmicas significativas antes do projeto avançar, quer na titularidade quer na operação. É necessário um operador credível e competente", disse.

"Tudo é possível. Há muitas empresas que estão a olhar para o Sunrise e que consideram ter grande potencial. É possível, mas não vamos pressupor nada. a Woodside tem um interesse financeiro no projeto e são o operador, e é com isso, com a situação atual, que temos que trabalhar", afirmou.

 

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