Equador aberto ao diálogo com Reino Unido se "ameaça" for retirada
Quito, 19 ago (Lusa) -- O Equador mostrou estar disponível para dialogar com o Reino Unido, caso Londres retire a "ameaça" de invadir a sua embaixada para deter o fundador do portal WikiLeaks, Julian Assange, a quem Quito concedeu asilo.
"Temos estado em conversações há dois meses e a resposta final foi uma ameaça. Esperamos que a ameaça seja retirada. Teremos muito prazer em dialogar, não temos qualquer problema, é o que queremos desde o início, mas com uma ameaça em cima da mesa não se pode conversar", afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Ricardo Patiño.
Contudo, como ressalvou o chefe da diplomacia do Equador, isso não significa estar a "negociar" com o Reino Unido, uma vez que Quito toma as suas decisões de forma "soberana".
"Estávamos a conversar no sentido de ver se era possível obter uma declaração de garantias para Assange, de que não o extraditam para um terceiro país", aditou em conferência de imprensa em Guayaquil, no final do encontro da Aliança Bolivariana para os Povos da América (Alba).
Patiño disse ainda acreditar que as conversações se fazem na base do "respeito", mas quando este se perde, "as condições para nos sentarmos a conversar também são muito mais limitadas".
A Alba -- que reúne a Venezuela, Cuba, Nicarágua, Equador, Bolívia, República Dominicana, São Vicente e Granadinas bem como Antígua e Barbuda -- solidarizou-se com o Equador e condenou as "ameaças intimidatórias", "violadoras dos princípios de soberania e integridade territorial das nações e dos princípios do Direito Internacional".
Na declaração final que saiu do encontro, a Aliança condenou ainda "a postura do Reino Unido de pretender resolver, de maneira contrária ao Direito Internacional, as controvérsias com nacionais do mundo, e particularmente da América Latina e do Caribe".
Além disso, alertou o Governo britânico para as "graves consequências" que podem advir em todo o mundo, no caso de uma agressão direta à integridade territorial do Equador em Londres, mas sem entrar em detalhes.
O bloco lançou ainda um apelo aos governos de todo o mundo, aos movimentos sociais e aos intelectuais para que se oponham a "esta nova pretensão do Governo britânico de impor a sua vontade, por via da força, às nações soberanas".
A reunião da Alba ocorreu dois dias depois do Equador ter decidido conceder asilo ao fundador do portal WikiLeaks, que se refugiou na embaixada do Equador em Londres no passado dia 19 de junho.
O Reino Unido considera, no entanto, que a decisão "não muda nada" e que tem a obrigação de extraditar Julian Assange para a Suécia, que o reclama por dois crimes sexuais.
Quito anunciou que o Reino Unido poderia assaltar a sua missão diplomática em Londres caso o australiano não fosse entregue às autoridades britânicas. Londres poderá justificar uma intervenção desse tipo com uma lei de 1987 que permite levantar a imunidade de uma embaixada em solo britânico.