Equipa da OMS sai de quarentena e inicia investigação sobre origem do coronavírus na China

por Inês Moreira Santos - RTP
Roman Pilipey - EPA

A equipa da Organização Mundial de Saúde destacada para investigar a origem da pandemia da Covid-19 na cidade chinesa de Wuhan terminou, esta quinta-feira, o período de quarentena. Duas semanas depois de terem chegado ao território chinês, os investigadores podem dar início à investigação.

A investigação tem sofrido alguns atrasos com as preocupações com o acesso às autoridades chinesas e as disputas entre a China e os Estados Unidos, que acusaram Pequim de esconder a extensão do surto inicial e criticaram a organização da investigação. Mas agora, o grupo de 13 especialistas da OMS, que chegou a Wuhan a 14 de janeiro, prepara-se para dar início à investigação no terreno.

A equipa esteve em quarentena num hotel, durante duas semanas, desde que aterrou em Wuhan. Esta quinta-feira, os investigadores puderam, finalmente, sair do isolamento e começar a analisar a origem dos primeirs surtos do Sars-Cov-2 naquela cidade, no final de 2019.

Mesmo em quarentena, os investigadores foram adiantando trabalho, reunindo entre si e com cientistas chineses por videoconferência durante esse período.

A saída da equipa do hotel foi acompanha pela comunicação social e transmitida em direto nas televisões locais.

"É um bocado triste dizer adeus ao meu 'ginásio' e ao meu 'escritório', onde estive isolado nas últimas duas semanas", escreveu no Twitter Peter Daszak, um dos membros da equipa da OMS, antes de sair do hotel. "Vamos passar para a próxima fase de trabalho, agora com a equipa da missão da OMS e colegas na China", acrescentou.


A equipa é liderada por Peter Ben Embarek, o maior especialista da OMS em doenças com origem animal que afetam outras espécies, e deve permanecer na China, pelo menos, mais duas semanas. Mas a tarefa não é fácil.

A investigação no terreno, que a China levou mais de um ano a autorizar, é extremamente sensível para o regime comunista, cujos órgãos oficiais têm promovido teorias que apontam para que o vírus tenha tido origem em outros países.

A visita dos especialistas acontece depois de longas negociações com Pequim, que incluíram uma rara reprimenda por parte da OMS, que afirmou que a China estava a demorar muito para fazer os arranjos finais.
Investigação sob olhar atento do mundo

O novo coronavírus, que provoca a doença Covid-19, foi detetado pela primeira vez em Wuhan no final de 2019, mas a China há meses que sugere a hipótese de não ter sido nesta cidade que se originou o vírus. Mas no meio do caos de uma pandemia e de disputas entre a China e os Estados Unidos, a OMS considera que as origens do Sars-Cov-2 estão altamente politizadas.

"Não há garantias de respostas", disse o chefe de emergência da OMS, Mike Ryan, numa conferência de impresna no início de janeiro. "É uma tarefa difícil dentificar totalmente as origens e às vezes pode levar duas, três ou quatro tentativas para ser possível fazer isso em diferentes ambientes".

Na quarta-feira, antes de terminar o isolamento, uma das investigadoras da OMS que está em Wuhan confirmou que a equipa tem a noção que têm todo o mundo expectante e com os olhos postos nesta investigação.

"Os olhos do mundo estão focados nisso, as opiniões do mundo estão focadas nisso", disse a virologista holandesa Marion Koopmans à CNN na quarta-feira.

"Estamos cientes disso, não há como contornar isso. É por isso que realmente tentamos manter-nos focados, somos cientistas, não somos políticos, estamos a tentar realmente olhar para isto do ponto de vista científico".

Segundo a cientista, parte da investigação inclui abandonar todas as noções preconcebidas sobre como o vírus evoluiu e se propagou, para olhar para o que as evidências revelam e partir daí. A equipa passou as últimas duas semanas em videochamadas entre si e com cientistas chineses, "a debater o que sabemos, o que não sabemos".

A procura por respostas poderá ser demorada, especialmente depois de a própria investigação ter sido adiada várias vezes, mas Koopmans alertou que é necessário ter paciência.

"Acho que realmente temos que gerir as expectativas, se virmos algumas das primeiras invesitgações sobre as origens dos surtos, vemos que levaram anos para serem concluídas", disse. "Os primeiros estudos relativamente fáceis já foram feitos, já foram publicados".

Não se sabe com quem é que os especialistas estão autorizados a falar e quais os locais que poderão visitar, a partir de agora, para dar seguimento à investigação. Os próprios especialistas do Governo chinês explicaram inicialmente que a doença teve origem num mercado em Wuhan, onde animais selvagens eram vendidos vivos, mas as dúvidas persistem.

De acordo com os meios de comunicação internacionais, as famílias das primeiras vítimas da Covid-19 em Wuhan estão mesmo a ser pressionadas, pelas autoridades chinesas, para não entrarem em contacto com os especialistas da OMS.

A OMS absteve-se de emitir um juízo, até à data.

"Todas as suposições estão sobre a mesa. É claramente muito cedo para chegar a uma conclusão sobre a origem do vírus, seja na China ou fora da China", disse na semana passada Michael Ryan.
Estados Unidos exigem investigação "completa"
O Governo dos EUA alertou, na quarta-feira, que considera que a investigação da Organização Mundial de Saúde na China sobre as origens da pandemia deve ser "completa e clara".

"É imperativo que cheguemos ao fundo das coisas, sobre o surgimento da pandemia na China", disse a porta-voz da Casa Branca Jen Psaki, garantindo que os Estados Unidos vão apoiar "uma investigação internacional que deve ser completa e clara".

Washington promete, assim, "avaliar a credibilidade do relatório de investigação, logo que esteja concluído" e explorar "as informações coligidas e analisadas pela inteligência dos EUA" sobre a origem da pandemia de covid-19, acrescentou Jen Psaki.

A Administração Biden encara com grande preocupação as dúvidas em relação ao papel da China, neste problema que atingiu todo o mundo. Por isso, a Casa Branca continua a pressionar a China para que colabore com a comunidade científica.

Recorde-se que o ex-Presidente, Donald Trump, acusou várias vezes a China de ter permitido que a pandemia se expandisse na sua fase inicial, acusando também a OMS de ser complacente com a agenda política de Pequim.

Agora, o novo secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, irá assegurar que cientistas e políticos dos EUA estejam presentes na China para representar os interesses de Washington nessa missão, sublinhou a porta-voz da Casa Branca.
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