Escritor questiona Guiné Equatorial na CPLP sem condições cumpridas

por Lusa

O escritor equato-guineense Donato Ndongo-Bidyogo condena a permanência da Guiné Equatorial na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), questionando se "Portugal e os outros países democráticos" da organização "não sentem vergonha" de admitir "o tirano mais cruel do mundo".

"As condições em que foi admitida a Guiné Equatorial na CPLP [em 2014] não foram cumpridas. Nem uma. O que continua a fazer na CPLP se não cumpriu nem uma das exigências que prometeu?" - perguntou o jornalista e escritor equato-guineense, em entrevista à Lusa, durante uma visita a Portugal para participar numa conferência, promovida pelo ISCTE, sobre "Literatura e Opressão".

Donato Ndongo referia-se a condições definidas no roteiro de adesão da Guiné Equatorial à CPLP, entre as quais a maior abertura democrática do país, a abolição da pena de morte e a introdução do português como língua oficial.

"Eu perguntaria a Portugal e aos outros países democráticos da comunidade lusófona se não sentem vergonha de estarem sentados ao lado do tirano mais abjeto que existe hoje no mundo", afirmou.

"O Presidente [da Guiné Equatorial], Teodoro Obiang, prometeu a democratização, e não cumpriu. Prometeu abolir a pena de morte e não o está a cumprir e agora está a pedir assessoria aos países lusófonos. Ele não é capaz de assinar um decreto abolindo a pena de morte?", perguntou.

Quanto ao ensino de português, o escritor sustenta que pode ser garantido "por um bom sistema educativo".

Para Ndongo, a entrada da Guiné Equatorial, "um país não lusófono", na CPLP deveria ter sido submetida a um referendo nacional.

O escritor afirma que, para a admissão do país na organização de língua portuguesa, Obiang "corrompeu meio mundo".

O ativista diz que Obiang, no poder desde 1979, "é um fanfarrão" que "gosta de aparecer", justificando que o país entrou para a CPLP, como antes se tinha juntado à Francofonia, porque o seu Presidente "quer ter apoio internacional".

Mas, avisa: "A trajetória de Obiang é tão errática que amanhã pode meter-nos na comunidade dos países chineses e impor-nos o mandarim como língua oficial".

No seu processo de adesão à CPLP, a Guiné Equatorial comprometeu-se em implementar o ensino do português e a abolir a pena de morte.

No entanto, o ensino do português está reduzido a projetos pontuais e a legislação que impede a pena de morte é uma moratória presidencial que, até ao momento, não foi introduzida na lei geral.

 

 

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